Orgulho e preconceito

Ana Caetano // Abril 9, 2020
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Há tarefas psicológicas criativas (vulgo TPC) que propomos no consultório e que são difíceis. Já falei aqui da importância da zanga e da tristeza e, por vezes, é esse o desafio que se lança à pessoa. Mas, vou dizer-vos qual a tarefa mais difícil que posso propor a um paciente… 

Sentir a sensação de orgulho no seu corpo.

As pessoas olham-me com ar desconfiado, riem-se porque pensam que estou a brincar. Muitas vezes dizem-me que não querem alimentar a vaidade ou a arrogância. Então, arranjei forma de contornar o desconforto e peço para terem prazer em serem como são e no que conquistaram. Encontro menos resistência, mas ainda assim há alegações como “não foi nada de especial”, “qualquer um faria o que eu fiz” e, a minha favorita, “oh, foi sorte”. E lá se vai uma excelente oportunidade de empoderamento e autoafirmação.

O orgulho é uma palavra com má reputação.

Tal como outras palavras e conceitos: dependência emocional, ambição ou dinheiro. A ciência identificou que temos dificuldades em gerir tanto as emoções agradáveis, como as desagradáveis, dependendo mais da sua intensidade ou quão familiares nos parecem.

Voltemos ao consultório e ao TPC: sentir orgulho. 

Para quê dar tanta atenção a esta emoção?

Sabem qual é o oposto de orgulho? É a vergonha. Se não injetarmos regularmente orgulho no nosso corpo, perdemos energia e vitaminas naturais que nos trazem confiança no que somos e no que fazemos. Se damos mais atenção ao que nos diminui e humilha, mesmo quando fazemos o melhor em cada dia, não adquirimos consciência de quantas vezes nos comportamos adequadamente. Pelo contrário, tornamo-nos especialistas em fustigar-nos quando erramos levando a uma redução da sensação de prazer naquilo que somos. 

Recorro, então, a outra estratégia e relembro que nos ginásios é comum ouvir: ”peito orgulhoso, encham o peito!”. Aqui as pessoas começam a achar que o orgulho talvez seja algo aceitável de se sentir. As descrições que oiço desta sensação são: “Sinto que ocupo todo o espaço do meu corpo”; “Respiro melhor, não há aquele peso no peito”; “Sinto-me forte e mais confiante”. E é comum ouvir em seguida: “Que estranho!”. Esta estranheza está muito ligada à sensação de novidade em sentir essa força. 

De que forma as posições corporais moldam como nos sentimos?

Amy Cuddy, que investigou a forma como as posições corporais moldam como nos sentimos, descobriu que nas posições de peito aberto há mais testosterona a circular no organismo, promovendo a autoconfiança. Amy Cuddy inclusive popularizou as posições que mais força nos trazem em apenas 2 minutos imobilizados nessas posições!

Quais são as posições que mais força nos trazem?

Numa sociedade em que temos de lidar com tantos desafios, sentindo-nos constantemente avaliados nas nossas ideias, atitudes e comportamentos, há que praticar mais vezes as posições de poder e dar as boas vindas ao orgulho nas nossas vidas. Descansem que caso se “armem ao pingarelho, de nariz empinado”, alguém vos dará o toque e retomam a atitude adequada perante a sociedade. Porém, ignorar a dose de força e energia que um sentimento como o orgulho nos proporciona é um desperdício! E daqui lanço o desafio neste TPC: abandonem o preconceito e sintam o orgulho de serem quem são.

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