Olá, solidão

Fátima Lopes // Fevereiro 2, 2023
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Olá solidão
Olá solidão

“Olá Solidão” é um tema que gosto muito, do grupo Quatro e meia. Primeiro pela mensagem e depois pela sonoridade. Há muito que não lia uma letra que fizesse tanto sentido para quem anda inebriado com a sua vida. 

Pessoas que vivem focadas no seu umbigo, preocupadas apenas com as suas vidas, os seus objetivos, os seus sucessos e totalmente indiferentes ao que se passa com os outros. 

É assustador perceber que existem muitas pessoas assim. 

Com um ego maior que elas próprias, a acharem que têm mais importância que todos os outros seres humanos e que o seu sucesso é o objetivo número um da humanidade. Não têm qualquer tipo de empatia e, por isso, os desafios ou o sofrimento dos outros, nada lhes diz. 

Por norma são pessoas que não ouvem conselhos de ninguém. Pior. Nem sequer permitem que os outros tenham a ousadia de os tentar dar. A opinião delas é soberana e é a única que vale. 

Escusado será dizer que quem rodeia estas pessoas, não o faz normalmente por amor ou amizade, mas, sim, por interesse. Talvez porque essa pessoa tem muito sucesso ou poder e isso atrai aqueles a quem só isso interessa. 

As pessoas “egóicas”, chamemos-lhe assim, vivem a sonhar muito alto, arriscam e saltam sem olhar, o que só por si não é negativo. Pelo contrário. O problema é que muitas vezes estão tão focadas nos seus objetivos que não olham a meios para lá chegar. 

Passam por cima de tudo e de todos, para alcançar a grande vitória. Mas assim que o conseguem, não têm capacidade de se deter, saborear tranquilamente essa conquista e refletir sobre o processo que as levou até ali. Assim que atingem um objetivo, já estão a correr para o próximo, numa corrida desenfreada pelas conquistas, tentando não pensar nas suas dores enquanto pessoas. 

Quando na letra desta música se diz: “Fiz bandeira de um velho ditado. Melhor só que mal acompanhado. Nem pensava em apoiar os pés no chão”, lembro-me das pessoas que se acham tão importantes, que procuram passar a ideia de que se bastam a elas próprias. 

Os outros são dispensáveis. Tudo lhes parece possível. Nem o céu é o limite.  

“Voei rente ao céu. Tudo era só meu. E o que ainda não era. Iria ser.” E com esta terrível  arrogância e falta de humildade, cavam o seu próprio caminho para a solidão. Uma solidão dura, pesada e que corrói, onde os sucessos alcançados não são mais do que fantasmas que atormentam os seus dias de silêncio. Vale a pena pensar se já fomos ou somos assim.

“Eu já fui assim

Tão focado em mim

Sem querer conselhos

De ninguém

Fiz das nuvens lar

Saltei sem olhar

Crendo que no fim

Sairia tudo bem

Fiz bandeira de um velho ditado

Melhor só que mal acompanhado

Nem pensava em apoiar os pés no chão

Olá solidão

Olá solidão

Eu tinha um lugar

Com vista para o mar

Que ninguém chegou 

A conhecer

Voei rente ao céu

Tudo era só meu

E o que ainda não era

Iria ser

Olho em volta agora estou sozinho

Não liguei às placas no caminho

Nem perguntei para perguntar a direção

Olá solidão

Olá solidão

Olá solidão

Olá solidão”

Olá, solidão (Quatro e meia)

Nota: Fotografia por Verónica Silva

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