Falamos muito de paz e da sua importância. Da paz no mundo, da paz entre os povos, da paz entre comunidades ou entre religiões. Fala-se menos de uma paz que é basilar: a paz familiar e o peso que ela tem no bem-estar de cada pessoa e de cada família.
É realmente urgente falar da paz familiar porque são muitas as famílias onde existem situações de desavenças, de zangas, em que as pessoas vivem de costas voltadas e sem sequer se falarem. Situações onde as pessoas acham que não vale a pena sentarem-se nem tentarem resolver os conflitos e as diferenças. Às vezes na origem do desentendimento está algo grave, difícil de ultrapassar, mas acontece, com frequência, a zanga acontecer por algo sem qualquer importância.
Há um orgulho muito presente em grande parte das situações familiares.
Nessas situações as pessoas vestem uma capa de orgulho que acham mais valiosa que tudo o resto e recusam-se a resolver os conflitos existentes. Acreditam que tomar a iniciativa de dar um passo na direção do outro para conversar e perceber o que está em causa – o que é que levou à mágoa, à zanga, à desilusão… – e tentar resolver a situação, é sinal de que não têm razão. Logo, o melhor é não fazer nada. Com isto abrem mão da paz familiar e prescindem de laços que podem ser muito importantes.
Objetivo: Paz familiar
Dar esse passo não significa que não se tenha orgulho. Dar esse passo significa que a paz familiar é mais importante que o resto. E, esse passo deve ser motivado pela noção de que uma relação bonita e tranquila com os que amamos, vale mais do que quezílias, zangas e ódios.
A morte dos patriarcas da família
Outra situação a que assistimos com frequência, é na origem desses desentendimentos estarem questões económicas que surgem após a morte dos patriarcas. Eram estes que colocavam a família na ordem, levando-os a respeitarem-se. Não havia espaço para o diz que disse, nem para coisas pequeninas sem importância. A partir do momento em que desaparecem essas figuras de respeito, começam a surgir os mal-entendidos e rapidamente se destrói aquilo que era, aparentemente, uma família equilibrada.
Questões materiais
As questões materiais são as que mais frequentemente levam a desentendimentos familiares. Todos se davam bem até chegar o momento das partilhas. Aí começa a guerra.
Vamos por partes…
Quando morremos ninguém leva os bens consigo. Estar a hipotecar vivências, amor, relação com um irmão, uma irmã, um tio, uma prima, um avô, uma mãe, um pai por causa de dinheiro, é triste e lamentável. Um dia essas pessoas vão partir e uma conta bancária mais recheada não as vai substituir. As pessoas mantêm-se vivas no nosso coração, elas não desaparecem. O dinheiro e os bens, esses, podem desaparecer. E, por isso, devia haver mais zelo pela paz familiar.
A importância da paz familiar
Fazem-se, e bem, homenagens à paz no mundo. Sugiro que se façam também homenagens à paz familiar, dando espaço para que se fale da importância da família.
Os mediadores familiares são normalmente requisitados para as questões relacionadas com os divórcios e a mediação entre ex-cônjuges. Era de ponderar chamá-los para as situações em que as famílias não se entendem. Para as incentivarem a sentarem-se, a conversarem civilizada e educadamente, a ouvir e a praticarem a empatia, ou seja, colocarem-se no lugar do outro. E, quando é necessário pedir desculpa ou perdão, então que o façam. No fundo, trata-se de ultrapassar os obstáculos que existem para que aquela família possa voltar a funcionar.
Em muitas famílias existem alguns elementos que se colocam à margem, mas essas são as pessoas cuja conduta nunca trouxe nada de positivo para a família. Nesses casos talvez não valha a pena fazer nada. O que é bem diferente de desistir daqueles que nem sempre foram assim, mas que a determinada altura mudaram de atitude. É preciso levar estas pessoas a sentirem que quando uma família tem paz é uma família que tem mais força, mais equilíbrio, maior capacidade de enfrentar as adversidades e de se ajudar para chegar a bom porto.
A paz é das maiores ajudas que uma família pode ter para sair das adversidades.
A guerra é um dos maiores combustíveis que uma família pode ter para se autodestruir.