O Yoga e as crianças

Pedro Mendes // Outubro 7, 2018
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E, se o seu filho fizesse Yoga? O que acha que poderia mudar na vida dele e na sua?

As crianças são “esponjas” a absorver informação e a adaptarem o seu comportamento ao contexto. Imagine os inúmeros benefícios do Yoga num ser humano que assimila de forma rápida e permanente… O potencial de ganho para uma criança no presente é enorme, mas as ferramentas para o futuro são infindáveis.

Estamos a viver uma “epidemia” tecnológica nas crianças de hoje?

Se olharmos para o panorama hoje das crianças, vejo gerações inteiras a viver através de ecrãs, de forma virtual, sem haver uma implementação real de hábitos de vida saudáveis, ou de vivência expetável de emoções em sintonia com as situações reais, ou a estabelecer contacto, conexão e relações humanas no já “old fashion” olhos nos olhos. Dá que pensar.

Todos temos um papel a desempenhar para um futuro com mais saúde.

Em 2014, assisti a algumas das intervenções de “Um Futuro para a Saúde, todos temos um papel a desempenhar”, na Fundação Calouste Gulbenkian (podem aceder ao relatório completo aqui) e foi muito claro que estamos num ponto de viragem desde então.

O crescente número de crianças obesas é da responsabilidade dos hábitos de vida cada vez menos saudáveis. Substituiu-se a subida às árvores depois de horas a andar de bicicleta pelas horas sem fim em frente aos ecrãs. Hoje, as consequências são desastrosas, daqui a 10 e 20 anos ainda não sabemos o que poderá acontecer ou como vamos lidar com o problema:

No presente, em Portugal, o Sistema Nacional de Saúde é centrado no hospital e na doença. Este relatório propõe que se passe a centrar nas pessoas e na saúde – “O relatório propõe uma transição do sistema atual, centrado no hospital e na doença, em que todas as ações têm como objeto e alvo o doente, para um sistema centrado nas pessoas e baseado na saúde, em que os cidadãos são parceiros na promoção da saúde e nos cuidados de saúde”.

O sistema atual é pouco voltado para um futuro sustentável bem como os custos financeiros e humanos são insuportáveis (é um sistema paternalista, que não está a investir em prevenção, mas que apenas cuida). Não é sustentável!

É uma questão de sobrevivência do nosso sistema de saúde dotar a população de ferramentas para serem proactivas na construção das suas vidas, em especial as crianças.

Se queremos que a sustentabilidade sustente um futuro próspero – e o futuro são as crianças – então dotar as crianças de valores na direção de hábitos de vida saudável, passa a ser central na construção social. Por outras palavras e reforçando: uma sociedade sem educação de qualidade não pode ser evoluída. Ensinar às crianças ferramentas de auto-observação, autoconsciência com vista a autorregulação, passa a ser um investimento para um futuro próspero.

Será que o tempo que as crianças passam a viver as emoções através de ecrãs é saudável?

Eu fiz uma infância tão rica em experiências lúdicas, de bicicleta, com a entrada das tecnologias na minha rotina já na idade adulta, que me sinto um verdadeiro privilegiado. Pergunto-me inúmeras vezes por que razão deixámos de ver crianças a andar na rua de bicicleta ou a jogar à bola com os vizinhos da sua geração, ou a fazer cabanas em cima de árvores. Não querendo dizer que as crianças não devam ter contacto com tecnologia (antes pelo contrário), mas será que o tempo que passam a viver as emoções através de ecrãs é saudável? Não acredito que seja. Começando pelas posturas adotadas, acabando no reduzido tempo de interação e conexão com outros seres humanos, nada de bom pode sair desta “epidemia” tecnológica nas crianças de hoje.

Somos seres sociais, não há saúde emocional e mental sem conexão com outros seres humanos.

As tecnologias têm uma função espetacular na organização das nossas vidas e são uma evolução que não abdico. Porém o equilíbrio saudável das atividades físicas e de ferramentas de atuação em contexto social, é fundamental para o desenvolvimento da criatividade e inovação.

Benefícios gerais Yoga nas crianças:

  • Consciência corporal;
  • Uso do corpo de forma saudável;
  • Capacidade para lidar com stress:
      • controlo respiratório;
      • ferramentas de meditação;
  • Construir e organizar foco e concentração;
  • Autoconfiança e autoestima:
      • Positivação da autoimagem e do autoconceito;
  • Sentimento de pertença em grupo:
      • Reenquadramento do espírito competitivo;
  • Alternativa saudável à constante necessidade de apego aos gagets (telemóvel; ipad; computador; etc).

Dotar a criança de ferramentas para o futuro:

  • Vulnerabilidade como promotor de inovação e criatividade:
        • vulnerabilidade é a origem de qualquer movimentação na direção de algo novo, que é inovador, que exija mudança para atingir criatividade;
        • sem errar, falhar redondamente, não há treino da resiliência. Não há criação de nada novo sem correr risco e sem falhar até se concretizar os sonhos, as ideias;
  • Desenvolver competências emocionais e sociais;
  • Criar estabilidade em terreno instável.

Tomada de consciência da respiração:

  • Efeito – dependendo da intensidade e velocidade da respiração pode ter efeitos opostos:
      • respiração rápida e intensa – energiza;
      • respiração lenta e suave – relaxa;
  • Foco – aumentam os níveis de foco pelo controlo respiratório:
      • têm que se concentrar no que se está a passar no corpo para controlar a velocidade e intensidade, focando a mente no objeto meditação (a respiração);
  • Metabolismo – o controlo da respiração vai automaticamente controlar o metabolismo (destacando-se):
      • a redução de stress;
      • o combate ao sedentarismo e à obesidade;
      • a libertação de hormonas saudáveis (endorfinas);
  • Força – é uma das qualidades físicas centrais na prática de Yoga:
      • sem aplicação de carga, as crianças podem desenvolver força (ao longo da coluna principalmente), tão necessária para o desenvolvimento e manutenção da sua saúde na idade adulta:
        • através de jogos e sequências que vão fortalecer e coordenar os diferentes segmentos corporais ao longo do crescimento;
        • corpos com músculo gastam mais energia – usam o metabolismo de forma mais eficiente mantendo os consumos de gordura dentro dos parâmetros normais (combate o grave e crescente problema de obesidade infantil em Portugal);
        • suporte estrutural da coluna – posturas mais equilibradas perante o transporte das monstruosas mochilas às costas;
  • Flexibilidade – traz velocidade e amplitude ao movimento;
  • Equilíbrio – central na prática de Yoga em crianças;
      • canalizam a atenção para um ponto fixo no espaço mantendo uma postura durante as respirações – aprendem a selecionar o estímulo a que querem estar sujeitos (constante super-estimulação leva a desfoque natural);
  • Meditação – a prática de Yoga é uma meditação ativa:
      • o movimento contínuo repetitivo e coordenado com a respiração produz uma sensação de calma de movimento hipnótico perpétuo:
        • autorregulador natural (por exemplo nos casos de PHDA  ou controlo da raiva).

Tal como incentivo os alunos nas aulas a tomar consciência de si e dos seus comportamentos (agarrando a sua vida, o seu corpo, a sua mente e as suas emoções), com as crianças não é diferente.

A diferença está no método que é utilizado para fazer chegar o conteúdo:

  • jogos lúdicos;
  • histórias;
  • atividades de team building adaptadas à fase de desenvolvimento em que as crianças se encontram;
  • zoomorfização das ilustrações das posturas de Yoga (como nos contos de fábulas).

Invista na sua criança e estará a investir num futuro comum. Yoga é uma ferramenta muito completa para a sua criança levar para a vida.

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