O termómetro da vida

Fátima Lopes // Agosto 3, 2020
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Imagino o quanto achem estranho alguns dos temas mensais que escolho para o Simply Flow, mas, para mim, é um desafio muito estimulante pensar a vida de uma forma diferente e desafiar os meus especialistas. Achei que, para este mês de Agosto, fazia sentido falar sobre o termómetro da vida porque, efectivamente, a vida pode ser medida com um termómetro.

O termómetro de vida

Até uma determinada temperatura nós consideramos que estamos bem e com saúde, sem nenhum sinal de alarme, e isso acontece até aos 37.5º. Daí para a frente já estamos com febre e isso pode ser um barómetro interessante para a nossa vida, mas com uma outra leitura do termómetro. E o que é que eu quero dizer com isto? 

Uma vida levada a baixas temperaturas

Às vezes levamos a vida sempre em temperaturas muito baixas, o que significa que é como se nada nos apaixonasse, como se a vida fosse toda flet e toda levada a um mesmo ritmo, sem variações, sem oscilações, sem nada que nos estimule e, portanto, ela é fria e é destituída das cores do arco-íris. É como se fosse um quadro pintado sempre com as mesmas cores em que nós soubéssemos de antemão o que é que o pintor vai fazer na tela. E isso é a vida levada com temperaturas baixas.

Talvez existam pessoas que se sintam felizes assim. Tenho as minhas dúvidas, mas isso é porque vejo as coisas segundo a minha perspectiva e na minha visão, quando a vida assinala sempre no termómetro temperaturas muito baixas, na casa dos 35º, então nada faz brilhar os olhos daquela pessoa. 

A temperatura ideal

Depois à medida que a temperatura vai aumentando, e eu diria para os tais 36º, 37º, é quando nós efectivamente sentimos que há coisas que mexem connosco, que nos desafiam, que nos estimulam, e nós queremos fazer diferente.

Por exemplo, quando estamos numa relação onde não estamos felizes, temos consciência dessa não felicidade e vamos à procura dela. Não baixamos os braços, nem dizemos: “é assim, não há nada a fazer”. Acreditamos que tem de haver diferente e melhor.  Se estamos num trabalho com o qual não nos identificamos, ou se estamos a trabalhar num sítio onde não nos sentimos felizes ou não nos sentimos valorizados ou reconhecidos, também não tomamos isso como uma fatalidade. Isso gera cá dentro um movimento que é esta tal temperatura que nos faz ir à procura daquilo que quanto a nós vai fazer a diferença. É este movimento de ir à procura da solução, à procura de outra porta, de outra resposta. 

Quanto às relações de amizade, se estamos num contexto em que percebemos que mantemos relações de amizade que não nos dão o melhor, com pessoas que são eventualmente tóxicas, que se agarram aos nossos defeitos e não conseguem ver as nossas virtudes, que não estão presentes nos momentos em que precisamos delas, estão apenas presentes quando está tudo bem, então se calhar este movimento diz-nos que se calhar o tempo dessa pessoa na nossa vida terminou. Ponto final. Não é preciso grandes explicações. Basta afastar. Quanto mais nos afastamos daquilo que nos faz mal, mais rapidamente sentimos uma melhoria.

E portanto esta tal temperatura é ir à procura de respostas, é saber que a vida tem muitos tons, é saber que a vida tem muitas cores e que nenhuma tela é igual à outra. Nada é previsível. 

A temperatura do movimento, da acção

Esta temperatura é, como eu costumo dizer, a temperatura da acção, a temperatura do movimento. A temperatura de quem quer resolver e de quem tem a vida nas suas mãos. 

Para mim esta é a temperatura ideal para quem sonha e quem sonha não quer ficar apenas pelos sonhos. Sonha e vai atrás dos seus sonhos e das suas conquistas. E, uma vez alcançados, é capaz de parar, de se deter, de saborear, de ficar por ali algum tempo, o tempo suficiente para conseguir digerir o valor desta conquista. O perceber todos os passos que deu para chegar ali e conseguir saborear cada um deles. Isto é muito importante.

É a capacidade do aqui e agora. Porque quando se alcançam estes objetivos na tal temperatura ideal e se pára para os saborear, eu diria que isto é o equilíbrio. É o eu já cá cheguei, agora vou saborear isto. Não preciso já de sair daqui para ir a mais lado nenhum, eu vou ficar por aqui enquanto eu precisar do meu tempo para sentir isto, para ter integrado esta conquista, esta vivência, este sentimento, esta emoção. 

Uma vida levada a altas temperaturas

Depois há uma temperatura que é perigosa, que é quando as pessoas sentem que têm de estar sempre a funcionar como se estivessem sempre num estado febril, ou seja, elas estão sempre acima dos 38º graus. São as pessoas que levam a vida num ritmo tal, numa velocidade, numa ânsia de conquistas, de mudanças, de alterações, como se nunca nada estivesse bem.

Como, por exemplo, aquelas pessoas que têm uma relação amorosa que teve a fase mais fogosa, em que a parte física fala mais do que o resto e assim que esta parte física entra num ritmo mais sereno acham que o papel delas já não é ali, que aquela relação já acabou e que têm de ir à procura de outra. E de outra, e de outra e de outra, porque, no fundo, estas pessoas têm de estar sempre com a adrenalina a bombar a 800%, caso contrário acham que aquilo não é suficientemente bom. Não. Elas não se sabem deter e saborear. 

Profissionalmente são aquelas pessoas que nunca nada lhes chega. Elas têm um sonho, uma ambição e assim que conquistam esse sonho têm uma total incapacidade de ficar, de saborear, de viver, de tirar todos os ensinamentos e todas as experiências desta conquista. Não sabem o que é olhar para os outros com olhos de ver, escutá-los, dar as mãos, analisar as lições que a vida nos dá diariamente. Estas pessoas simplesmente não o conseguem fazer porque têm uma total incapacidade. Isto para elas significa parar e retroceder. E não é nada disto. Não é nem parar, nem retroceder. É deter-se. Analisar e saborear. 

São as pessoas que não sabem viver o aqui e agora. Vivem sempre como se estivessem no amanhã. São eternas insatisfeitas, eternas sedentas de desafios e de mais e mais. No fundo funcionam sempre na parte vermelha do termómetro. E o que é assustador, é que o termómetro não pode estar sempre na parte vermelha porque… um dia estoira. 

Em que fase da vida se encontra?

E é isto que nós temos de pensar: em que fase da nossa vida nos encontramos? Como é que nós olhamos para a vida? Estamos sempre nos 35º? Estamos numa temperatura equilibrada? Ou estamos sempre na parte vermelha do termómetro com o risco de a qualquer momento colapsarmos? 

Vale a pena olhar para a nossa vida com um termómetro na mão. 

Nota: Fotografia por Verónica Silva

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