O que verdadeiramente importa no regresso às aulas?

Fátima Lopes // Setembro 6, 2021
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Avizinha-se mais um regresso às aulas e, este ano, a primeira preocupação deveria ser resgatar as crianças e os jovens e ajudá-los a arrumar as consequências de toda esta experiência de dois confinamentos. 

Confinamento. Desconfinamento. Ora estão na escola, mas com restrições e sem poderem brincar como habitualmente. Ora voltam para casa, para as aulas online. Pouco ou nenhum contacto presencial com os colegas. Assim, foram os dois últimos anos letivos. Já parámos para pensar em tudo o que os estudantes passaram desde que a pandemia chegou? Por exemplo, um estudante universitário que vai agora para o terceiro ano de faculdade, pouco ou nenhum contacto teve com os colegas. 

É preciso dar espaço e tempo para que as crianças e os jovens possam recuperar de toda esta instabilidade. 

E se as duas primeiras semanas de regresso das crianças e dos jovens às escolas, não tivesse como preocupação imediata dar matérias? Se a principal preocupação nestas primeiras semanas fosse recuperar o envolvimento direto com o outro? Eu digo duas semanas, mas até podem ser mais. Não se trata de uma perda de tempo, mas, sim, de um investimento certeiro nas pessoas. 

O regresso às escolas tem de ser primeiro para resgatar os jovens e as crianças para o contacto normalizado com o outro. 

Há crianças que não querem regressar, que afirmam que estão bem com o ensino à distância. E isto é muito assustador e muito perigoso! Mais do que apostar na aprendizagem intelectual, que também é importante, é preciso criar atividades em que os jovens tenham de estar uns com os outros para falar, para trocarem opiniões, para fazerem coisas que os ajudem a regular os seus comportamentos. É preciso incentivá-los a partilharem o que sentem e pensam à volta de tudo isto, até porque temos de nos lembrar que um dos efeitos perversos da pandemia foi o facto de tudo passar pelo mundo digital. A aprendizagem e os contactos passaram a ser feitos através das tecnologias e os miúdos acabaram por se viciar muito nesta solução. Eles já não conseguem pensar em aprendizagem fora do mundo digital. Cabe-nos a nós ajudá-los a aprender e experienciar através de outras formas. 

Tecnologias de lado. Mãos na massa. 

Que sejam feitas atividades aqui, ali e acolá, onde eles passem por experiências e que é uma forma de voltarem a ensaiar as relações interpessoais onde ficaram destreinados. É preciso ensinar de novo aos nossos filhos que não há nada mais valioso do que as pessoas perto de nós, olhos nos olhos. É por aqui que as escolas deveriam começar. E, quando as crianças e os jovens tiverem restabelecido a sua relação de confiança com o outro, então aí sim, vamos para a aprendizagem intelectual. 

São nestas atividades em que os miúdos simplesmente são, que muito provavelmente, os professores vão detetar situações de crianças e jovens que não estão efetivamente bem e que poderão precisar de um acompanhamento diferente. E isto só é possível de identificar em ambientes diferentes. Uma criança que se recusa participar nas atividades, que nunca quer tocar em nada, nem em ninguém, que nunca quer estar presente, é um sinal de alarme. E se todos estiverem sentados numa sala de aula e essa criança estiver calada, se calhar passa simplesmente por uma criança tímida. 

Levar a escola para fora das secretárias. 

Este deveria ser o caminho antes de entrarmos na corrida para as notas espetaculares e as crianças brilhantes intelectualmente, que no fundo podem sentir-se emocionalmente solitárias.

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