Sabia que uma em cada mil crianças em todo o mundo nasce com algum problema de surdez? E, que existem comportamentos de risco que fazem parte do nosso dia-a-dia e que devem ser evitados para não comprometer a capacidade auditiva das nossas crianças e adolescentes?
Este é um tema bastante pertinente e, por isso, estive à conversa com Alexandra Marinho, especialista em audiologia da GAES – Centros Auditivos. Aqui fica a partilha de alguns pontos-chave:
. Quais as razões mais frequentes para a perda de audição em crianças e adolescentes?
“Aproximadamente uma em cada 1000 crianças em todo o mundo nasce com algum problema de surdez congénita em diferentes graus, mas também é possível que uma criança que ouve bem perca parte da sua capacidade auditiva em alguma fase da infância. As causas podem ser muitas e cabe ao médico especialista otorrinolaringologista (ORL) detetá-las. Genética, perfuração do tímpano, otites, etc. são algumas das principais causas.
Nos últimos anos, têm-se registado cada vez mais casos de perda auditiva em adolescentes. Calcula-se que um em cada três jovens, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos, ouve música com auriculares de forma continuada e, em 75% dos casos, num volume acima do recomendado.”
. Quais os sintomas aos quais os pais devem estar alerta?
“Os pais são os primeiros a perceber que o filho pode não ter uma audição normal. E, também é frequente dar-se pelos primeiros sintomas na escola.
A maioria das crianças pode ouvir desde o momento do nascimento e esta capacidade é fundamental para o desenvolvimento da linguagem, que ocorre nos três primeiros anos de vida. Aprendemos a falar pela imitação dos sons que ouvimos, pelo que a perda auditiva, dependendo do grau, irá afetar esta aprendizagem.
Uma criança pode responder com um aceno ao ouvir alguns sons, mas não significa que perceba com clareza todos os estímulos sonoros ao seu redor. Inclusive, pode não ouvir em absoluto e ter uma inteligência que lhe permita ser capaz de interpretar corretamente outras formas de comunicação, como língua gestual, olhares, postura que apoiam a comunicação oral e, às vezes, até tem mais força expressiva que a palavra.
Ouvir e ouvir bem são dois aspetos diferentes. Por isso, deixo aqui alguns sinais que apresentam as crianças com problemas auditivos em função da sua idade:
Bebés dos 0 aos 12 meses:
– não reage a sons fortes nem a sons familiares. Por exemplo, a queda de um objeto pesado, o som de uma porta que se fecha com força, etc;
– não emite sons nem vira a cabeça quando falamos com ele;
– não se tranquiliza ao ouvir a voz dos pais;
– entre os 6 e os 8 meses deixa de balbuciar ou passa a emitir gritos;
– não brinca com vocalizações, imitando os adultos.
Entre os 2 anos e os 3 anos:
– o bebé não responde a indicações simples;
– não reconhece nem reage ao seu nome, nem sabe identificar partes do corpo;
– não repete ou não consegue construir frases de duas palavras;
– não canta nem trauteia fragmentos de canções que lhe costuma cantar;
– não é capaz de indicar ou localizar a origem de um ruído.
A partir dos 4 anos:
– não canta nem trauteia fragmentos de canções familiares;
– não é capaz de manter uma conversa simples nem de contar o que fez durante o dia na escola;
– não se entende o que diz ou tem uma linguagem madura e apenas a sua família entende o que diz;
– evita o contacto social e não fala com outras crianças;
– não se entretém com os desenhos animados;
– mostra falta de linguagem ou evolui de forma lenta para a sua idade;
– tem uma atitude excessivamente distraída;
– tem dificuldade de aprendizagem na escola ou mostra-se frequentemente distraído;
– faz muitas birras e é difícil tranquilizá-la;
– sofre, com frequência, de tosse, otites ou alergias;
– senta-se perto da TV ou aumenta o volume;
– pergunta frequentemente “O quê?” quando alguém fala com ela.
. Quando levar a criança a um especialista? Apenas quando existe alguma urgência?
“No primeiro impacto, receber a notícia que o nosso filho tem uma limitação auditiva é motivo de preocupação, mas muitas vezes também de incredulidade. Inclusive depois de um diagnóstico, são muitos os pais que resistem a acreditar que o seu filho tenha um problema de audição grave. Este comportamento é compreensível, mas é necessário ultrapassá-lo o mais rápido possível para evitar que a limitação sensorial que sofre a criança acabe por afetar, de forma grave, a sua capacidade de aprendizagem e socialização.
Assim, sempre que se suspeitar que a criança pode ter algum problema de audição, a primeira opção é falar com o pediatra. Ele fará uma avaliação completa da situação e irá encaminhar para o especialista ORL quando o considere oportuno e necessário.”
. Como deve ser feita a higiene dos ouvidos da criança? Qual a forma mais indicada?
“É possível, por exemplo, que a criança sofra de diminuição da acuidade auditiva por excesso de cera. No entanto, a cera tem uma função útil e não é prejudicial. Nesse caso, é importante consultar o ORL para que ajude na limpeza. Não se deve tentar extrair a cera, pois pode danificar permanentemente a audição da criança.
Os ouvidos da criança devem estar sempre secos para evitar infeções, pelo que após o banho, uma aula na piscina ou um mergulho durante as férias, deve-se secar sempre os ouvidos com uma toalha. Nunca se devem usar cotonetes.”
. Que cuidados devem ser tidos em conta como forma de prevenção?
“A prevenção é, de facto, o primeiro passo. O erro mais comum que quase todas as pessoas cometem é o uso de cotonetes. Estes não devem ser usados. Nunca se devem introduzir cotonetes no ouvido da criança! Também não se deve expor a criança a ambientes com muito ruído, em particular se ainda for bebé, pois são mais sensíveis a qualquer estímulo externo. Para além de poder causar dor, pode originar perda auditiva. Ao passear o bebé, deve-se tapar a cabeça e os ouvidos, pois o vento e o frio contribuem para criar infeções e debilitar o sistema imunitário. No contacto com a água, deve proteger-se os ouvidos com protetores auditivos, como moldes de banho e/ou bandas protetoras. Desta forma, evitam-se as típicas otites por contacto com a água. Também se devem secar frequentemente os ouvidos com uma toalha.
No inverno, é recomendável o uso de tapa-orelhas ou gorros, também como prevenção das otites. Se a criança já tiver uma otite, não deveremos usar protetores de ouvido, pois a infecção pode passar aos protetores e assim o ouvido nunca estará livre da infecção.
Para os adolescentes, devemos ter um cuidado redobrado, em particular devido ao novo estilo de vida comum entre os mais jovens. Que pais não têm um filho adolescente que ouve música com o volume no máximo ou que sai para dançar e divertir-se na discoteca? Este tipo de atividades pode prejudicar seriamente a saúde auditiva, se forem realizadas diariamente. Por isso, sugiro que quando comprar auscultadores para os seus filhos ouvirem música, adquira uns com controlo de volume.
É também importante consciencializar que o ruído em excesso pode ser prejudicial. Se vão a uma discoteca ou concertos de música, é recomendável que fiquem o mais longe possível das colunas. Deve-se explicar aos jovens que, se quando saem de um sítio sentem um zumbido ou os ouvidos tapados, quer dizer que, pouco a pouco estão a danificar o ouvido e que não deveriam voltar aquele sítio porque estão a danificar o ouvido. O mesmo acontece num evento desportivo ou no ginásio. É normal que nestes locais o ruído e a música estejam muito altos. O melhor que podemos fazer é recomendar que usem protetores auditivos se sabemos que vão estar expostos a estes ambientes. Há uma infinidade de opções estéticas e modernas das quais certamente vão gostar e já não poderão dizer: ‘Mãe, fico horrível com isto!’. Assim não há desculpa para que não os utilizem e se protejam.”
Prevenção é a palavra-chave. E, estar alerta aos sintomas, consultando os devidos especialistas assim que perceber que algo se está a passar com os seus filhos é essencial. Pela saúde dos mais novos.
Nota: Texto patrocinado pela GAES – Centros Auditivos.