O que podemos esperar no pós-pandemia?

Ana Caetano // Abril 20, 2021
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pós-pandemia
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Queria começar por pedir desculpa a todo o planeta. Durante anos quis viver um momento histórico: a “minha” 2ª guerra mundial, o “meu” Maio de (19)68, o “meu” 25 de Abril de 1974… realmente temos de ter cuidado com o que desejamos uma vez que estou a ter essa vivência na forma de uma pandemia. Percebo agora que o fascínio suscitado por tantos filmes e relatos históricos, prepararam-me sofrivelmente para o que se passa na atualidade. É certo que fui buscar ao “Mantenha a Calma e prossiga/Keep Calm and Carry On” alguma persistência no quotidiano. Reler o que aconteceu durante a gripe espanhola ampliou a minha compreensão do efeito de uma “peste” na espécie humana. No entanto, nada me preparou para a saturação do “confinar/desconfinar”, a sensação de aprisionamento, a falta dos abraços e mimos dos entes queridos, da incerteza quanto ao futuro ou para a pergunta do que vai acontecer no pós-pandemia.

Afinal, quando é que termina a pandemia?

Ninguém sabe quando termina, quando podemos voltar a andar nas ruas sem proteção, quando podemos ir a uma discoteca e/ou voltar a viajar normalmente. Tudo isto configura uma sensação de incerteza e a incerteza leva a que nos sintamos assustados pelo desconhecido, ou de uma forma mais simples, ao medo, sendo que este leva ao aumento dos níveis de ansiedade. A resposta de ansiedade perante o perigo/insegurança assume 3 formas: combater o perigo, fugir do perigo ou congelar perante o mesmo. O coronavírus só nos deixa perante uma resposta: congelar. Não o podemos combater “olhos nos olhos” e não podemos fugir dele porque está espalhado por todo o mundo.

Mas, o que acontece ao nosso sistema nervoso perante esta resposta de congelamento? Gostaria, então, de introduzir um conceito: A Janela de Tolerância.

A Janela de Tolerância

Este conceito foi apresentado como forma de nos ajudar a identificar o nosso ponto ótimo de funcionamento, onde a nossa capacidade de autorregulação e razoabilidade estão inalteradas. Caso estejamos perante uma situação potencialmente perigosa ou geradora de insegurança, o acelerador do organismo (o sistema simpático), prepara-nos para a luta ou fuga. Caso o estado de alerta/ansiedade se prolongue ou seja muito intenso, o corpo desliga-se como forma de proteção e entra em colapso/congelamento.

Tal como referi antes, perante um vírus invisível, que tem de ser combatido com isolamento social e do qual não podemos fugir, a resposta que nos resta é a de congelamento e colapso.

E depois da tempestade…

Não sabemos quanto tempo vai durar a pandemia e o “novo normal”, mas ao observarmos o ano que passou, percebemos que foi o suficiente para nos deixar tensos, ansiosos e em alguns casos já na fase de colapso/depressão. Só podemos antecipar um aumento destas fragilidades com o passar do tempo. Habituamo-nos ao “novo normal”, às máscaras e ao distanciamento social, mas temos de nos preparar para os processos de luto que nos esperam. Não falo só da perda de pessoas, mas da perda do que tínhamos por garantido: liberdade e a noção de uma sociedade com previsibilidade. 

Se achávamos que a vida nos parecia surpreender, ao convivermos um ano com a COVID-19, percebemos que nada é mesmo garantido. Se nos parecia banal marcar uma saída com amigos ou um fim de semana fora, tudo ficou em pausa. Precisamos de processar essas perdas da mesma forma que precisamos de fazer o luto por quem partiu. Perder o que é importante significa ficar triste. Lembre-se que as emoções simplesmente acontecem e são reações da nossa interação com o que nos rodeia. Permita-se ficar triste e chorar, uma vez que nos permite integrar a experiência que nos aconteceu. Só assim a tristeza desaparecerá, não de forma imediata, mas gradual, tal como indica a palavra “processo”: princípio, meio e fim.

Como se manter na zona ótima da Janela da Tolerância?

  • As fronteiras entre a hipoativação e hiperativação são fluídas e ao mantermos no nosso auto-cuidado, toleramos mais turbulência nos limites da zona ótima. Dito de outra forma: “O que não nos mata, faz-nos fortes”;
  • Aborde o futuro incerto com cuidado e curiosidade: após a tempestade regressa a bonança;
  • Prepare-se para os novos “loucos anos 20”: após um período em que vivemos com extrema cautela e nos tornámos saudosos do que perdemos, afinal o que vale a pena ser vivido?

Ninguém queria viver uma situação extrema… bom, eu queria viver um momento histórico, mas acho que aprendi a lição: os momentos extremos e intensos permitem-nos viver experiências novas, mas exigem doses extra de energia. No pós-pandemia esta intensidade pode ajudar-nos a concretizar aquele projeto, a planear aquela viagem ou a perder o medo de viver o que é importante.

Mal posso esperar que o Cabo das Tormentas se transforme no Cabo da Boa Esperança!

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