Hoje, dia 21 de Dezembro, celebramos oficialmente o Solstício de Inverno, caracterizado pela chegada desta estação e por ser o dia mais curto do ano, o que consequentemente traz a noite mais longa. E claro que muitos de nós por vivermos num país tão abençoado de sol tendemos a olhar para esta altura do ano de uma forma mais triste. Dias curtos, frio, chuva e pouca vontade de sair de casa. Mas o que podemos mesmo aprender com esta chegada?
Na cultura pagã esta época é conhecida como Yule, existindo várias celebrações à volta da temática noite e dia. A ideia era celebrar a vitória da Luz contra a sombra uma vez que a partir daqui os dias aos poucos começam a ficar maiores e o sol ganha cada vez mais espaço.
Ora eu gosto sempre de olhar para estas festividades com um sentido curioso e perceber aquilo que posso aprender com elas para levar aos meus alunos uma nova forma de olharmos para diferentes épocas do ano, pois tal como nós o nosso ano é cíclico e precisa de ser vivido dessa forma.
A vitória da Luz contra a sombra
Esta analogia da vitória da Luz contra a sombra é algo que podemos trazer de forma regular para as nossas vidas e pergunto muitas vezes a quem pratica comigo na Casa Lagom Yoga, de que forma procuram manter uma vida Iluminada, de que forma procuram manter uma vida cheia no meio do caos da vida.
Uma vida cheia no meio do caos da vida
Se olharmos para o caos da vida com os mil afazares, as muitas vezes que dizemos “não tenho tempo”, as outras tantas vezes em que terminamos um dia a sentirmo-nos uma nulidade por não termos conseguido cumprir todas as tarefas insanas que ainda achamos ser possível concretizar num dia podemos afirmar que este é o lado sombra. Ora olhando para uma sociedade que está cada vez mais privada de contacto humano caindo na falácia da proximidade que as redes sociais criam mas que efetivamente afastam ainda mais, é fácil perceber que as pessoas estão na sua maioria cansadas, irritadas, infelizes, descontentes e desmotivadas, ou seja, estão embrulhadas numa completa sombra de coisas para fazer, coisas para comprar, coisas para ter mas estão cada vez menos presentes.
Muitas coisas para fazer e muito pouco para realmente receber
E chegamos a uma época, onde a sua essência seria a família, a companhia, a presença a entrega, mas aquilo que mais vemos é a irritação de longas filas de trânsito, longas filas em lojas, o correr desenfreado por compras e mais compras de coisas que vão apenas acumular sem as quererem realmente. E entramos mais uma vez na sombra do consumismo.
E por fim, temos uma época fria, onde a chuva, os dias curtos e o frio fazem parte e tendemos a cair facilmente nas desculpas do “hoje não vou ao yoga/ao ginásio porque está a chover”, escolhendo de forma automática o não cuidar de nós, o não tirar tempo para nós porque algo que faz parte de uma estação – a chuva – apareceu.
Ora estas escolhas, de cair no rebuliço desenfreado de uma época que perdeu o seu sentido apelando loucamente ao consumismo, versus deixarmos que as desculpas adiem o nosso autocuidado para as promessas de ano novo que todos irão fazer mas que passados 20 dias já se perderam novamente no rebuliço da vida, torna a nossa vida repleta de muitas coisas para fazer e muito pouco para realmente receber. Assim, gosto sempre de desafiar os meus alunos a encontrarem e nutrirem momentos de luz no seu dia.
Precisamos de equilíbrio nas 24h que temos.
Precisamos de viver com um propósito, de tornar o tempo valioso, precisamos de perceber que aquele tempo que escolhemos estar em longas filas para entrar num centro comercial e comprar presentes de forma desenfreada já não vai voltar. E que esse tempo poderia ter sido o melhor presente se o tivéssemos dado genuinamente a alguém que amamos.
Dar tempo. Dar tempo a quem amamos, dar tempo a nós mesmos.
É assim que acendemos a chama da luz no meio da sombra que são muitas vezes os nossos dias. E, como digo tantas vezes na escola, não precisamos de tirar 2h por dia para cuidar de nós. Se era bom ter 1h por dia todos os dias – sim, claro – mas não sendo possível, porque não 20 minutos a respirar ainda na tua cama? A torcer o corpo, alongar, espreguiçar. Porque não esquecer o telemóvel e pegares no livro que andas a adiar? Porque não pegares no telemóvel e em vez de fazeres scroll infinito ligares aquela pessoa que andas a dizer “temos de combinar” há imenso tempo e efetivamente combinares algo.
Dar tempo. Ter tempo. É o maior presente. É a maior luz que podes ter na tua vida.
É quando te permites escolher primeiro e aos que realmente amas de forma mesmo verdadeira que a luz vence a sombra.
É quando olhamos para a vida como passageira que percebemos que o Inverno e os seus dias escuros, cinzentos e chuvosos também passam e lá à frente quando o calor voltar em força, a falta de água se tornar uma realidade e não aguentarmos estar sem um ar condicionado, voltaremos a pensar que lá longe existe um Inverno e um frio que até iria saber bem.
Acima de tudo, o Solstício de Inverno lembra-nos que tudo na vida faz parte de um ciclo, e que é possível encontrar beleza na escuridão se a soubermos iluminar de forma realmente intencional.
Nota: Fotografia por Margarida Pestana