Milhares de estudos recentes demonstram que o mundo inteiro está a ficar com excesso de peso. E, se assim é, há uma questão a colocar: afinal, o que é que nos anda a engordar?
Será que é a genética, como tanta gente afirma?
Não. O genoma do ser humano permanece inalterado há mais de 30.000 anos! Estudos estatísticos de larga escala têm vindo a demonstrar que essas pequenas mutações têm pouco impacto.
Será do sedentarismo?
É evidente que a prática de exercício físico regular ajuda, e muito, a emagrecer, mas só por si, não é um fator decisivo.
O ambiente mudou nos últimos 100 anos?
Sim. E, assim sendo, a epidemia da obesidade tem que ser investigada no ambiente. É fundamental perceber o que está a acontecer no meio ambiente que contribua para a epidemia da obesidade.
Estamos a ingerir mais calorias do que há 30 anos?
Sim. Em média consumimos mais 275 kcal do que há 30 anos. Mas, o mais importante é perceber qual é o tipo de caloria que nos anda a fazer engordar.
Estamos a ingerir mais gordura?
Só 5 grs. O que representa cerca de 45 kcal.
Estamos a ingerir mais hidratos de carbono?
Sim, 57 grs. O que representa cerca de 228 kcal.
Daquilo que ingerimos desde há 30 anos, a quantidade em gramas é 11 vezes superior nos hidratos de carbono em relação às gorduras.
Estamos a comer 11 vezes mais hidratos de carbono do que gordura!
Uma criança com 10 anos já consumiu tanto açúcar quanto o seu avô com 80 anos! Ora vejamos:
- Três saquetas de açúcar por dia = 540 – 720 g mês
- Um copo de sumo comercial = 3 – 4 saquetas
Façamos, então, uma perspectiva evolutiva do consumo de sacarose.
O que aconteceu para o consumo de sacarose disparar?
1970 – Descoberta clínica do colesterol LDL;
1970 – Co-relação entre dieta com gordura e o aumento do colesterol LDL (Mau Colesterol);
1979 – Co-relação entre o aumento do colesterol LDL e o enfarte do miocárdio;
1982 – Campanha contra as dietas com gordura. Este estudo foi baseado no estudo dos sete países do Dr. Ancel Keys, um estudo que demonstra que os países onde se consumia a maior percentagem de gordura (EUA), eram os países que tinham mais mortes por doenças coronárias. Em contraposição, os países onde se ingeria menos gordura eram os países com menor taxa de mortes por doenças coronárias (Japão).
Perante as conclusões deste estudo do Dr. Ancel Keys, por volta de 1982, houve um grande encontro de três poderosos e importantes departamentos do governo dos EUA:
- A.H.A. – American Heart Association;
- A.M.A. – American Medical Association;
- U.S.D.A. – United States Department of Agriculture;
Estes três departamentos reuniram-se e tomaram uma decisão: consciencializar a população para os perigos associados ao consumo de gordura, o que originou um estímulo para o consumo de hidratos de carbono. E, assim se iniciou uma guerra contra as dietas com gorduras!
Toda a gente sabe, e a indústria alimentar sabe-o melhor ainda, que o que dá sabor aos alimentos é a gordura. Ora, esta indústria, perante a “guerra às gorduras”, e para fazer face aos prejuízos que isto lhe causava, começou a introduzir nos alimentos uma substância que se chama HFCS – High Frutose Corn Syrup.
O grande erro do Dr. Ancel Keys, e que veio originar mais problemas do que soluções, foi o facto de se esquecer de relacionar que os países onde se consumiam mais gordura eram também os países onde se consumia mais açúcar.
Gordura e açúcar caminham juntos?
Depois de o artigo estar publicado, o investigador descobriu a co-relação entre a ingestão de açúcar e a morte por doenças coronárias – “Gordura e açúcar caminham juntos”. Porém, foi tarde demais, uma vez que o Dr. Ancel Keys faleceu em 2004 e a investigação ficou incompleta.
Na realidade, o alimento que o Japão quase não consumia era açúcar, sobretudo Frutose. E é, precisamente, a frutose que, como vamos ver já de seguida, é o que anda a engordar as pessoas.
É o consumo de frutose que nos anda a engordar.
Pois, uma dieta rica em frutose é, na realidade, uma dieta rica em gordura!
Vejamos: o açúcar comum é formado por glicose mais frutose. O que é que acontece quando consumimos frutose? O metabolismo hepático da frutose é completamente diferente do metabolismo hepático da glicose, pois sem a fibra, presente na fruta, a frutose “sobrecarrega o fígado”.
O que temos mesmo de saber sobre o consumo da frutose e o seu impacto na sua saúde:
- Só o fígado é capaz de metabolizar a frutose;
- A frutose gera 7 vezes mais AGEs (Glicação – união cruzada entre proteínas e glícidos) do que a glicose;
- Envelhece sete vezes mais;
- Não inibe a Grelina (hormona da fome), logo aumenta o apetite;
- Não estimula Leptina (hormona da saciedade);
- O uso excessivo de frutose sem fibra causa síndrome metabólico, ou seja, origina obesidade visceral, resistência à insulina, diminui o bom colesterol (HDL), aumenta os triglicéridos e causa hipertensão;
- A frutose não é utilizada pelas células do Sistema Nervoso Central e, portanto, não há manifestação aguda, como no caso da ingestão do álcool. Porém, a frutose causa efeitos crónicos iguais aos que estão associados ao consumo excessivo de álcool: causa habituação, esteatose (fígado gordo) e cirrose hepática não alcoólica.
Mas, afinal, onde podemos encontrar frutose sem ser na fruta?
Em praticamente todos os alimentos industrializados ou processados contêm uma percentagem de HFCS. Daí ser extremamente importante aprender a ler os rótulos e moderar o consumo de alimentos que tenham uma quantidade elevada de hidratos de carbono. Podem vir com esta designação, mas também podem vir com as seguintes: HFCS, High Frutose Corn Syrup, xapore de milho, amido de milho, amido, açúcares adicionados ou simplesmente açúcar.
Só para terem uma noção, um pacote de açúcar costuma ter 4 a 5 grs de açúcar. Então, quando forem comparar produtos alimentares tenham este número em consideração.
Produtos aos quais devem ter mais atenção:
- refrigerantes e sumos de fruta;
- molhos;
- massa;
- bolachas;
- iogurtes;
- sopa para crianças;
- boiões de fruta;
- iogurtes;
- leite enriquecido;
- batidos de leite;
- gelatina;
- pão industrializado.