A alimentação intuitiva é uma filosofia alimentar que nos torna especialistas do nosso corpo, das nossas emoções e dos sinais de fome que emite. É o oposto de uma dieta tradicional. Não impõe diretrizes sobre o que evitar e o que ou quando comer. É uma abordagem anti-dietas que nos ensina que somos a melhor pessoa para fazer as nossas escolhas alimentares.
O que é uma alimentação intuitiva?
A alimentação intuitiva é uma abordagem alimentar que ajuda a construir um relacionamento entre a mente e o corpo. Foi construída com base no princípio de que dietas não funcionam e que as mudanças no estilo de vida e os cuidados pessoais são mais importantes para a saúde e bem-estar a longo prazo.
Uma pessoa que consegue alimentar-se de forma intuitiva é alguém capaz de distinguir e saber responder aos sinais do corpo, relacionados com comida e a bebida, que podem ser físicos e/ou emocionais. Não é mais uma dieta, mas, sim, um estilo alimentar que promove uma atitude saudável em relação à comida e à imagem que tem do seu corpo.
A ideia base desta filosofia alimentar é que deve comer quando estiver com fome e parar quando estiver satisfeito.
Costumo dizer nas minhas consultas que até podemos fazer ainda melhor e sentirmo-nos inspirados pelo mantra de Confúcio que nos recorda da importância de parar de comer antes de ser sentir cheio, ou seja, parar quando o estômago já está 80% cheio. Embora este deva ser um processo intuitivo, para muitas pessoas não é.
Nas últimas décadas fomos seduzidos pelos livros de dietas, cujo objetivo maior é vender livros – e se há termo que vende logo pela capa é a palavra “dieta” – e pelos chamados especialistas sobre o que, quando e como comer.
Quando foi que nos esquecemos de saber comer?
Ou, por outro lado, quando foi que nos começaram a convencer que não sabíamos comer de forma saudável? Se se lembrar desse dia, lembrar-se-á certamente que desde esse momento começou a perder a confiança no seu corpo e na sua intuição. Esta é uma das reflexões que deixo no meu livro “A Roda da Felicidade”.
O nosso corpo tem uma inteligência natural, que tende para a cura.
A partir do momento em que nos convenceram a adjudicar a nossa saúde e autoestima à indústria dos livros de dietas e ao marketing da beleza e alimentar, divorciámo-nos da nossa intuição e da sensibilidade para escutar o nosso corpo.
Se se identifica com isto e quer começar a comer de forma intuitiva, está na hora de recuperar o seu poder pessoal e de reaprender a confiar em seu corpo. Está na hora de se reaproximar de si mesmo. Para fazer isso, primeiro precisa saber distinguir a fome física da emocional.
Diferenças entre fome física e fome emocional
- Fome física: É um desejo biológico que lhe diz que está na hora de repor os nutrientes. Desenvolve-se gradualmente e tem sinais, tais como: o roncar do estômago, fadiga ou irritabilidade. E depois de comer qualquer alimento sente-se satisfeito.
- Fome emocional: é impulsionada pela necessidade emocional. A tristeza, a solidão e o tédio são alguns dos sentimentos que podem criar desejos por comida, geralmente alimentos de conforto. Costumo explicar que quando alguém chega a casa, depois de um dia cansativo, e não tem um abraço ou um sorriso à sua espera abraça-se a um chocolate, gelado ou algo semelhante. E depois de comer, surgem os sentimentos de culpa e ódio por si mesmo.
Assim sendo, começamos a perceber que a alimentação intuitiva é baseada na fome física, e não nas receitas de livros de dieta e conselhos de especialistas.
Comer deve satisfazer a fome física sem causar culpa.
Ao contrário do que se possa pensar, olhar para a alimentação de uma forma intuitiva não é um conceito novo. Alguns dos conceitos base existem, pelo menos, desde o início dos anos 1970, embora o termo tenha sido cunhado em 1995 com o livro de Evelyn Tribole e Elyse Resch que incluem os 10 Princípios da Alimentação Intuitiva, para o ajudar a aceitar seu corpo e honrar os seus sentimentos de fome e saciedade.
Os dez princípios da alimentação intuitiva:
1. Rejeitar a mentalidade de dieta
Ignore, ou recicle, os livros de dietas e artigos de revistas que oferecem a falsa esperança de perder peso de forma rápida, fácil e permanente. Questione a cultura dietética que promove a perda de peso e as mentiras que o levaram a sentir -se um fracasso cada vez que uma nova dieta parava de funcionar e você recuperava todo o peso. Encontre a sua liberdade alimentar e abrace uma Alimentação Intuitiva.
2. Honrar o apetite
Consuma o suficiente para manter o seu corpo biologicamente alimentado, com a energia adequada e necessária ao longo do dia. Pois se esperar por um momento de fome excessiva, pode desencadear um impulso primitivo que o leva a comer demais. Depois disso, todas as intenções de comer moderadamente e de forma consciente são passageiras e irrelevantes. Aprender a honrar esse primeiro sinal biológico prepara o terreno para reconstruir a confiança em si mesmo e na comida.
3. Fazer as pazes com a comida
Não se proíba de qualquer alimento, excepto se já lhe reconhecer alergias ou intolerâncias, pois isso pode causar sensação de privação e, eventualmente, levar ao excesso de indulgência.
Faça as pazes; pare de lutar contra a comida! Dê a si mesmo permissão incondicional para comer. Se estiver constantemente a dizer a si mesmo que não pode ou não deve comer um determinado alimento, isso pode levar a sentimentos pesados de elevada privação que se transformam em desejos incontroláveis e, muitas vezes, compulsão alimentar. Quando finalmente “cede” aos tais alimentos proibidos, vai dar por si a com tal intensidade, como se estivesse na Última Ceia e depois termina com uma culpa avassaladora.
4. Elimine a negatividade
Esforce-se por se livrar de pensamentos negativos e provocadores de culpa ao comer certos alimentos e adopte uma abordagem mais relaxada.
Grite um “não” aos pensamentos que vivem na sua cabeça que declaram que é “boa menina/bom menino” se comer o mínimo de calorias ou “uma menina má/um menino mau” porque comeu uma fatia de bolo de chocolate. A polícia alimentar que habita no seu cérebro monitoriza as regras irracionais que a cultura alimentar criou. Essa polícia vive no fundo de sua psique, e está constantemente a gritar e a lançar farpas negativas, frases desesperadas e acusações que provocam culpa. Controlar esta voz tóxica é um passo crítico para conseguir os benefícios de uma alimentação intuitiva.
5. Respeite a sua saciedade
Aprenda a ouvir o seu corpo quando lhe diz que está a ficar cheio. Enquanto come, pare frequentemente para sentir o seu corpo. Pense no sabor da comida e avalie os seus níveis de fome para ver se precisa de mais. E reserve um tempo para saborear a experiência de comer. Quando se sentir feliz e satisfeito, saberá que já basta.
6. Descubra a satisfação
Escolha alimentos que o façam sentir-se bem. Privar-se de certos alimentos pode desencadear desejos sérios e até mesmo levar à compulsão alimentar. Comer intuitivamente significa escolher alimentos que satisfaçam as suas necessidades de saúde e as suas papilas gustativas. Moderação é a chave. Uma dentada de chocolate não o irá fazer ganhar peso durante a noite. Mas, sim, o que e como come ao longo do tempo irá afectar sua saúde.
Faça por ter uma experiência alimentar agradável. Sente-se para comer. Quando transforma a alimentação numa experiência agradável, pode descobrir que é preciso menos comida para satisfazê-lo.
7. Honre as emoções sem usar os alimentos
Explore novas formas de conforto, nutrição emocional e lide com as emoções sem usar a comida como anestesiante. A alimentação emocional é uma estratégia para tentar sedar a dor provocada por sentimentos como a ansiedade, solidão, raiva ou tédio. Encontre maneiras não relacionadas com comida para lidar com os bloqueios emocionais, como dar uma caminhada, meditar, escrever num diário ou ligar para um amigo que não julgue. Lide com as emoções com bondade.
Gosto de fazer esta pergunta às minhas clientes: Será que era fome ou era “apenas” falta de um abraço, carinho ou intimidade? Da próxima vez que der por si a atacar um pacote de batatas fritas, questione-se: que emoção me trouxe até este pacote e o que vou resolver com isto. Será que é mesmo isto que quero. Nunca vi ninguém triste num sofá abraçado a um prato de brócolos, normalmente há doces e salgados pouco nutritivos.
8. Respeite o seu corpo
Seja realista com o formato do seu corpo e respeite o seu tamanho natural. Agradeça ao seu corpo todo o prazer que já lhe proporcionou, os locais onde o levou, os filhos que gerou em vez de ficar obcecado com um determinado tamanho de roupa. Em vez de criticar seu corpo pela aparência e pelo que acha que há de errado com ele, reconheça-o como capaz e bonito da forma que é.
9. Exercite o corpo e sinta a diferença
Comece a olhar para o exercício, não precisa ser um treino militar, mais como forma de movimentar o corpo, produzir mais energia, hormonas de bem-estar e menos foco no número de calorias queimadas. Encontre maneiras agradáveis de movimentar o seu corpo. Mude o foco de “tenho de perder peso” para “gosto de me sentir mais energizado, forte e vivo”.
10. Honre a sua saúde
Faça escolhas alimentares que respeitem a sua saúde e o seu paladar, e que simultaneamente o fazem sentir-se bem. Lembre-se de que não precisa comer perfeitamente para ser saudável. Aliás, quando comer de forma saudável se torna obsessão deixa de ser saudável – ortorexia. Não terá uma deficiência repentina de nutrientes e não ficará doente com um lanche, almoço ou um dia de comida menos nutritiva. É o que come de forma consistente ao longo do tempo que importa. O que conta é o progresso e não a perfeição.
Quais são os benefícios de uma alimentação intuitiva?
A alimentação intuitiva é apenas uma das muitas teorias dietéticas que abordo nas minhas consultas de alimentação e felicidade integrativa. E uma das perguntas que, por vezes, me fazem, é se este tipo de filosofia tem validação científica. Primeiro para que algo tenha validade científica é necessário que haja alguém interessado em financiar e realizar os estudos. A boa notícia é que as pesquisas sobre este assunto têm vindo a crescer, nomeadamente no público feminino.
Até ao momento, os estudos realizados relacionaram a alimentação intuitiva a melhorias na saúde mental, a um menor índice de massa corporal (IMC) e melhor manutenção de peso – embora não haja grande destaque para a perda de peso.
Um dos principais benefícios da alimentação intuitiva é uma melhor saúde psicológica e uma menor probabilidade para distúrbios alimentares. Os participantes de estudos de alimentação intuitiva melhoraram a sua autoestima, imagem corporal e qualidade de vida em geral, enquanto experimentavam menos depressão e ansiedade.
Viver com base numa alimentação intuitiva também apresenta boas taxas de retenção, o que significa que as pessoas têm maior probabilidade de seguir o programa e continuar a praticar as mudanças de comportamento implementadas, do que estariam numa dieta altamente restritiva.
Um método de alimentação, uma prática de amor-próprio
Este método de alimentação é uma prática de amor-próprio que o incentiva a valorizar seu corpo por tudo que ele tem a oferecer e pela maneira incrível como funciona a cada dia. As pessoas que optam por comer intuitivamente podem ver efeitos positivos, como aumento da felicidade geral, sensação de menos opressão sobre o que comem, redução do stress sobre sua aparência física e mais gratidão para com seus corpos. Uma parte importante da alimentação intuitiva é construir autoconfiança para tomar decisões alimentares fortalecidas, em vez de basear as suas escolhas alimentares no seu estado emocional actual ou energia do ambiente circundante.
Mude a sua relação com os alimentos para sempre!
Em vez de se focar na perda de peso e andar à guerra com o prato, comer intuitivamente é diferente – ensina dicas sustentáveis que podem mudar a sua relação alimentar para sempre. Esqueça a dieta iô-iô e a contagem de calorias. A alimentação intuitiva permite que coma todos os alimentos de que gosta sem ficar obcecado. Embora a alimentação intuitiva possa não ser para todos, muitos dos princípios podem ser benéficos para melhorar sua relação com a comida. Procure ajuda especializada e mude a sua relação com a comida para sempre.