O que é o empoderamento pessoal?

Cláudia Morais // Março 11, 2020
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Mais dinheiro, menos peso, um casamento feliz ou um emprego melhor – seja qual for o seu objetivo, ele só será alcançado se você fizer alguma coisa para isso. Falar sobre empoderamento pessoal é assumir que nada muda se nada mudar. Se queremos que algo melhore, precisamos de agir.

No mês passado os meios de Comunicação Social anunciaram a morte do doente que, há cinco anos, interrompeu o parlamento para pedir ao então ministro da Saúde que não o deixasse morrer e garantisse o acesso a tratamentos para a hepatite C. A minha curiosidade levou-me a querer saber um pouco mais sobre este herói. 

Lembrava-me bem do momento em que se fizera ouvir daquela forma tão desesperada. “Não me deixe morrer. Eu quero viver!” foram as palavras que todos os microfones registaram e difundiram, e que sensibilizaram o povo português. Essas palavras serviram literalmente para desbloquear um processo de negociação difícil que se arrastava há longos e penosos meses. 

Antes daquele dia, José Carlos já tinha escrito uma carta ao ministro da Saúde e fazia parte de uma plataforma que procurava chamar a atenção para o facto de haver milhares de doentes em risco de vida que poderiam ficar curados se recebessem o tratamento adequado. Ao mesmo tempo, a farmacêutica que detinha a patente do medicamento exigia ao Estado dezenas de milhares de euros por cada tratamento. O braço-de-ferro entre o ministério e a farmacêutica parecia ter tudo para se estender e o ministro anunciava naquela sessão parlamentar que ainda não tinha condições para se comprometer com a compra do medicamento. Até que a negociação ficasse concluída perder-se-iam várias vidas, evidentemente. José Carlos sabia disso melhor do que ninguém: a sua vida não teria durado mais cinco anos se não tivesse gritado da forma como gritou, furando o protocolo e passando automaticamente a ser o rosto de todas as manchetes.

O que é o empoderamento pessoal?

O empoderamento pessoal é um conjunto de crenças, ações e competências que nos ajudam a ter controlo sobre a nossa própria vida. Não é uma sensação. Uma pessoa pode sentir-se confiante, pode sentir que é capaz de atingir um determinado sonho ou objetivo, mas pode não conseguir fazer muito nesse sentido.

Por exemplo, no meu trabalho como terapeuta familiar ouço muitas pessoas que me dizem que iniciaram uma conversa com o(a) companheiro(a) de forma assertiva, com a intenção de manifestarem os seus sentimentos e as suas necessidades afetivas, mas que rapidamente se sentiram atropeladas pelos argumentos da outra pessoa, acabando por desistir de reivindicar o que quer que seja. Noutros casos, são pais e mães que procuram ser firmes com os filhos e que, na prática, se sentem pouco capazes de impor limites. E depois há todas aquelas pessoas que flutuam entre alturas em que se sentem muito motivadas para atingir um objetivo – que pode ir da perda de peso à progressão na carreira – e as alturas em que se desmotivam e desistem.

Nenhum de nós tem total controlo sobre a própria vida e, se olharmos para trás, é provável que demos conta de que a vida que temos é muito diferente daquela que imaginámos há uns anos. Até aqui não há nada de errado. Sermos capazes de aceitar aquilo que não controlamos também é uma forma de inteligência emocional. Mas, é crucial que distingamos a aceitação da resignação. E é mesmo muito importante que definamos de forma inequívoca um plano de ação com que nos possamos comprometer. De resto, sem ações e sem compromisso, dificilmente há poder pessoal.

Voltemos ao herói José Carlos: a esta distância, o seu ato impulsivo parece fácil e quase insignificante. Afinal, parece-nos expectável que, perante a existência de um medicamento capaz de curar uma doença fatal, o Estado e as farmacêuticas se entendam rapidamente. Se imaginarmos um cenário em que uma farmacêutica detivesse hoje a patente de um medicamento capaz de curar alguém infetado com o novo Coronavírus, parecer-nos-ia surreal que as negociações pudessem durar um ano e que, entretanto, centenas ou milhares de pessoas continuassem a morrer. Mas, foi exatamente isso que aconteceu entre 2014 e 2015 em relação à hepatite C. 

Na altura, José Carlos era “só” mais um doente. Na verdade, no dia em que se fez ouvir, estava sentado ao lado do filho de uma doente que perdera a vida no dia anterior. Se se tivesse desmotivado pela inexistência de resposta do ministro à carta que escrevera meses antes, também ele poderia ter morrido naquele ano. Se tivesse olhado para si mesmo como um pequenino grão de areia numa engrenagem tão gigantesca como é a indústria farmacêutica ou o Orçamento do Estado, não teria conseguido agir, apesar de toda a sua motivação.

Empoderamento pessoal, autoconsciência e resiliência

O empoderamento pessoal começa com a autoconsciência. Cada um de nós precisa de conhecer os seus próprios pontos fortes e pontos fracos. Uma coisa é sermos otimistas e treinarmos um olhar positivo sobre a vida. Outra, bem diferente, é assumirmos uma postura irrealista em relação a nós mesmos.

A autoconsciência não se limita ao reconhecimento das nossas competências, virtudes e limitações. Ela deve incluir o reconhecimento dos nossos próprios valores, dos nossos objetivos e das nossas intenções. É fundamental que definamos de forma clara aquilo que queremos para nós e porque é que o queremos. Por exemplo, uma pessoa pode traçar um plano de ação para progredir na carreira e ganhar muito dinheiro, mas se os seus valores morais estiverem desfasados da respetiva carreira, acabará por sentir-se infeliz e pouco empoderada.

Para além de um plano de ação, o empoderamento pessoal depende em larga medida da disponibilidade para “correr atrás” dos objetivos que definamos. Não basta estabelecer metas. Se não agirmos, nada acontece.

Depois, na prática, é óbvio que nem todos os planos vão dar certo, é óbvio que não vamos ser sempre bem-sucedidos à primeira. O empoderamento pessoal depende da nossa resiliência e da capacidade de aprendermos com os erros. Quando falhamos, temos a oportunidade de questionar se será ou não razoável continuar a tentar da mesma maneira ou se chegou a altura de semear de forma diferente para podermos colher frutos diferentes.

Resumidamente, o empoderamento pessoal é um processo que implica várias etapas:

  1. Definição clara dos objetivos;
  2. Elaboração de um plano de ação;
  3. Ações concretas;
  4. Autoavaliação;
  5. Repetição dos passos 2,3 e 4 até atingir os objetivos.

No caso de José Carlos, o objetivo era claro: curar-se! O plano inicial não incluía furar protocolos ou ser estrela de TV. Antes do episódio que fez capas de jornais e abriu noticiários houve tentativas mais formais de chamar a atenção para o seu problema. Nenhuma resultou e, por isso, houve necessidade de refazer planos e tentar algo novo.

Seja qual for o nosso objetivo, é relativamente fácil cair na tentação de dar o nosso máximo e insistir sempre da mesma maneira. Se não estivermos dispostos a prestar atenção ao retorno que estamos a obter (autoavaliação) e a refazer os nossos planos tantas vezes quanto forem necessárias, até podemos falar de exaustão, mas dificilmente falaremos de empoderamento.

Empoderamento pessoal e autoestima

De cada vez que cumprimos um destes ciclos aproximamo-nos dos nossos objetivos, daquilo que nos traz felicidade e isso é importante para a nossa autoestima. Quando verificamos que o nosso comportamento tem poder para alterar as nossas condições de vida – sejam elas familiares, profissionais ou de outra natureza – sentimo-nos invariavelmente mais confiantes, mais otimistas, mais seguros. Mas, estes frutos dependem do reconhecimento de que não há atalhos, não há formas de acelerar o processo. Às vezes os frutos surgem ao fim de poucas tentativas e quase nenhum esforço, mas na maior parte dos desafios é preciso tempo, paciência e criatividade.

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