Montessori é um dos métodos de ensino alternativos mais reconhecidos na atualidade, não só pela popularidade que tem ganho, como também, pela comprovação científica da sua eficácia. Existem escolas Montessori nos quatro cantos do mundo, a par disso, cresce o interesse de famílias e profissionais de educação que procuram em Montessori o que outros sistemas de ensino, mais tradicionais, não oferecem, ou seja: seguir a criança e os seus interesses, respeitando o seu desenvolvimento, de forma natural, levando a uma paz e tranquilidade que, de outro modo, são difíceis de alcançar.
Montessori em Portugal
Em Portugal, gradualmente, esta pedagogia tem conquistado seguidores e interessados em conhecer o método. Na internet, começam a surgir, cada vez mais, páginas, sites e blogs de famílias portuguesas que seguem Montessori e partilham as suas experiências quotidianas. No que toca a escolas, também no nosso país, já existem algumas e, outras que não sendo Montessori, inspiram-se no método, oferecendo atividades, materiais e reproduzindo ambientes. Porém, não podemos falar de Montessori, sem falar da sua mentora.
A mentora Maria Montessori
Maria Montessori, a médica, a cientista e a pedagoga que, há mais de 100 anos, criou o método de ensino que viria a mudar a forma como se olhava para as crianças que, até então, eram vistas como seres incapazes, oprimidos e manipuláveis às ordens dos adultos. Maria Montessori observou milhares de crianças em todo o mundo e desenvolveu uma nova abordagem à educação que tem como pilares principais, o respeito, a liberdade, a autonomia, o encorajar a fazer, acreditando nas capacidades de cada criança. Entre outros, princípios que visam a educação da criança num todo, onde a aprendizagem preconiza, sem esforço, no desejo natural de aprender, construindo seres humanos íntegros, de espírito crítico e livre.
Embora muitas das características se tenham perdido pelo caminho, esta pedagogia é uma das bases do sistema de ensino como o conhecemos hoje.
Na sociedade atual, o tempo cronometra a vida e, nesse panorama, seguir a criança pode ser uma miragem. A imposição de atividades formatadas, ganham espaço num mundo, onde não há tempo, nem espaço para a individualidade de cada um. Montessori resiste numa vontade de dar a volta a esse sistema: observar, respeitar e trabalhar com cada criança na sua essência, proporcionando-lhe um ambiente preparado, isto é, arrumado, agradável na aparência, simples e real, onde cada elemento existe por um motivo específico, para contribuir para o desenvolvimento dessa criança.
Algumas características do Método Montessori:
- Respeitar o ritmo individual de cada criança;
- Liberdade de movimento e de escolha;
- Aprendizagem através das experiências vividas no ambiente, pelo que, na aplicação do método Montessori, o ambiente que se oferece à criança é fundamental (entende-se por ambiente, onde a criança vive/está, ou seja, a sua casa ou a sala de aula, onde móveis e tudo o que a criança precisa para o seu desenvolvimento é colocado à sua altura. Por exemplo: para chegar à bancada da cozinha colocamos um banco, chamado de “torre de aprendizagem” que permite à criança ajudar na cozinha ou até lavar a loiça);
- Promover a autonomia e a independência física e psíquica;
- O adulto (denominado assistente/guia nas escolas Montessori) deve ter uma confiança total nas capacidades da criança e, através da observação, deve descobrir as necessidades reais da criança e tentar satisfazê-las, através de materiais ou atividades apropriadas para a fase de desenvolvimento em que se encontra;
- Utilização de materiais didáticos com características “Montessori”, ou seja, materiais concebidos para captar a curiosidade da criança e levá-la a ter desejo de aprender. Tomemos por exemplo um puzzle, tão característico em escolas infantis. Em Montessori, os puzzles possuem pegas em cada uma das peças, oferecendo, deste modo, a função de pinça dos dedos, o que para a futura aprendizagem da escrita é essencial;
- A autocorreção é uma característica fundamental do material Montessori, ou seja, os materiais permitem a autocorreção, isto é, nenhuma tarefa pode ser completada de forma incorreta, sem que a criança se aperceba que não está correto e sem precisar do adulto. Outra forma de distinguir é que os materiais Montessori, normalmente, são de madeira, trabalham uma só função, ou seja, são destinados apenas a uma área de desenvolvimento e nunca têm pilhas ou botões que façam as coisas pelas crianças.
Mente absorvente e períodos sensíveis
Maria Montessori descobriu que as crianças passam por diversas fases, que denominou de “períodos sensíveis”. Contudo, os períodos sensíveis são etapas passageiras, logo que a criança domina as habilidades ou o conceito, o período sensível desaparece. Por exemplo, quando reparamos que a criança quer abrir e fechar uma gaveta, vezes sem conta, ou subir e descer uma cadeira, isso significa que está a desenvolver habilidades. Como pais, educadores, cuidadores temos a obrigação de incentivar estes períodos sensíveis, através de um ambiente preparado, para que se desenvolvam as agilidades concretas de cada período. Compreender isso é fundamental para perceber as necessidades da criança, em vez de ficarmos desesperados perante as chamadas “birras” que não são mais do que necessidades não satisfeitas.
Outro ensinamento que Montessori nos traz é a chamada “mente absorvente”, isto significa que, desde o momento do nascimento até aos seis anos, a criança tem uma capacidade imensa de aprender e assimilar o mundo que a rodeia sem esforço consciente. Enquanto que, nós, os adultos, alcançamos conhecimentos através da inteligência, a criança “absorve” como se fosse uma esponja, daí a importância que este período tem para a construção da personalidade da criança.
O ambiente Montessori
Neste método, o ambiente é constituído por dois fatores fundamentais: o contexto e o material. Ambos devem estar organizados cuidadosamente para fomentar a autoaprendizagem.
O ambiente baseia-se nos princípios de simplicidade, beleza e ordem, sendo espaços luminosos e quentes que, por exemplo, incluem plantas, música, arte.
Outra das características do ambiente Montessori é a sua adaptação à criança. Assim, uma das primeiras considerações a ter em conta é que as crianças, devido à sua altura, se deparam com muitos obstáculos que se devem tentar eliminar utilizando móveis e utensílios adaptados ao seu tamanho, por exemplo, facilitando-lhes o acesso à água para poder lavar a cara, colocando os seus livros, brinquedos e materiais à sua altura. O princípio em Montessori é colocarmos as coisas ao nível da criança, portanto, segundo Montessori, devemos colocar a criança num plano de trabalho à sua altura, por exemplo, uma pequena mesa na cozinha para trabalhar. Contudo, a “torre de aprendizagem” – que embora não seja Montessori porque, neste caso, elevamos a criança a um plano de trabalho ao nível do adulto – é um material que tem ganho muitos adeptos e, por isso, aceitável para quem quiser seguir o método.
As experiências sensoriais são outro aspeto importante em Montessori.
Um bom exemplo é a chamada puzzle ball feita de tecidos e com fendas que permitem que o bebé a possa segurar com as suas mãos, tendo um guizo na parte central. Esta bola está desenhada especificamente para estimular e desenvolver a coordenação motora e visual do bebé desde o nascimento até aos 2-3 anos.
Durante os primeiros meses, pode ser utilizada como móbil, pendurando-a para que o bebé lhe toque com as suas mãos ou pés, estimulando-se os primeiros movimentos. Já na etapa do gatinhar estimula-se a necessidade de movimento, pois este tipo de bola permite tanto que o bebé a agarre, como que não rode mais do que um metro, o que faz com que o bebé não se frustre e adquira confiança em si mesmo.
Montessori, uma educação para a vida
Montessori não é apenas um método educativo a desenvolver nas escolas. É também uma filosofia de vida que pode ser aplicada em casa, uma vez que está inteiramente ligado ao desenvolvimento das potencialidades da criança, com o objetivo de promover uma motivação própria por aprender e no desejo de fazer as coisas espontaneamente e por si mesmo. Tal como a própria Maria Montessori apelidava o seu trabalho, Montessori é “uma educação para a vida”, ou seja, não apenas para a sala de aula, mas para o dia a dia.
Exemplo de atividades Montessori feitas pelas crianças em casa Exemplo de atividades Montessori feitas pelas crianças em casa
Pais que querem saber mais
Entender Montessori e aplicar este método significa algum treino dos adultos, por isso, quem realmente está interessado nesta pedagogia deve procurar saber mais. Um bom começo é ler os livros de Maria Montessori e de outros autores que abordem o método. Para quem tem oportunidade pode também fazer formações ou workshops, a Mindful Montessori Portugal é uma opção. Se o tempo for escasso, o podcast Montestory é uma boa alternativa, para ouvir em qualquer lado. São entrevistas quinzenais com especialistas em Montessori em Portugal e Brasil, que dão várias dicas de como aplicar o método. É gratuito.
Referências bibliográficas:
– Seldin, Tim, “Método Montessori na educação dos filhos” .Editora Manole, 2 ª edição, 2018.
– Davies, Simone, “A Criança Montessori – De 1 a 3 anos” 1ª edição, 2020.
– Tébar, Cristina, “Educar com o Coração Pedagogia Montessori em Casa”, 2017.