Começo este texto por fazer uma pergunta essencial:
O que é afinal ser espiritual?
Nos dias de hoje temos termos para tudo, “caixas” para caber em determinadas secções, que na verdade só nos separam da verdadeira espiritualidade – que é o contrário de separação, requisitos, exigências e a necessidade de “caber”. E acho muito importante começar por aqui. Porquê? Porque às vezes, neste trabalho de evolução, de auto-aperfeiçoamento podemos cair numa “arrogância espiritual” no qual nos consideramos mais certos, mais sábios, mais conscientes, mais evoluídos. Ora o crescimento espiritual é o oposto disso e tem muito que se lhe diga!
Primeiro, gostaria de fazer uma ressalva – crescer espiritualmente pode ser considerado algo místico, religioso, quando na verdade esse crescimento e jornada faz parte da vida de todos nós! Não há ser humano que não tenha dentro de si um sentido de missão, uma vontade de deixar a sua marca no mundo e a vontade de responder a duas essenciais perguntas: quem sou e o que faço aqui?
Cada um, à sua maneira, seguindo a trajectória que lhe faz mais sentido, faz este caminho de crescimento espiritual consciente ou inconscientemente.
Um caminho onde existe uma vontade inata de se melhorar, de se reinventar, de se superar e de crescer de dia para dia. Nesse crescer estão incluídas todas as aprendizagens que a vida nos coloca no caminho – aquelas que nos parecem fazer cair, mas que na verdade são apenas o degrau para mais um nível de conhecimento da nossa consciência e existência.
Acho fundamental relembrar que neste mundo da espiritualidade se fala de premissas fundamentais como: ter a capacidade de amar incondicionalmente, de aceitar o outro como é, de ser compassivo e totalmente livre de condições e requisitos, e de não julgar as escolhas dos outros. Mas, não deixa de ser curioso também que, neste “meio chamado espiritual”, tal como em todos os outros, se podem ouvir muitas ideias separatistas e julgadoras onde o vegetarianismo pode ser considerado o caminho “mais certo e consciente”; onde a moda pode ser considerada fútil; onde aquele que não corresponde às nossas ideias e convicções já pode ser considerado “menos evoluído espiritualmente”.
Crescer espiritualmente é realmente a quebra das caixas que todos nós criamos.
Pois na minha humilde opinião, crescer espiritualmente é realmente a quebra das caixas que todos nós criamos nesta sociedade onde existem debates entre os que comem carne, os que são totalmente vegan, os que abraçam as terapias complementares, os que só acreditam na medicina convencional, os que são doutores e altamente focados no progresso profissional, e os que andam descalços e só desejam mesmo viver de um profundo contacto com a terra. E a lista poderia continuar de forma longa…
Crescer espiritualmente é transversal a qualquer ser humano e exige de nós o que tanto temos dificuldade em abraçar.
Sejam quais forem as escolhas do outro, elas estão sempre certas, pois as mesmas vão sempre trazer o resultado que precisamos para aprender determinada lição. Eu não sou mais, eu não sou melhor, eu não sei mais…Mas, é assim que vivemos, separando, criando caixas e julgando…
Uma verdade poderosa que deveríamos todos abraçar com humildade
Neste crescimento espiritual há, quanto a mim, uma verdade poderosa que deveríamos todos abraçar com humildade, para não cairmos na superioridade de nos acharmos mais certos – nós não nos podemos tornar em algo que já somos desde que nascemos – Deus! Somos centelhas divinas de uma consciência colectiva e superior, todos nós sem exceção, e nunca deixaremos de ser isso, nunca! É impossível! As nossas escolhas não nos tornam menos divinos, elas são o que são e há que ter a capacidade de assumir a responsabilidade dessas escolhas, sabendo que elas resultarão em algo com o qual eu terei de lidar.
Acredito que crescer na vida inclui esta compassividade e extrema humildade em que deixamos de nos comparar, deixamos de ter de corresponder a requisitos para caber em determinada caixa: “o professor”; o “futebolista”; o “blogger”; o “vegetariano”, o “yogi”, o “hippie”, o “empresário”… Uma vez mais, seria uma lista interminável…
Investir na espiritualidade, é investir em mim.
Fazendo por estar sempre no meu melhor, fazendo por evoluir de dia para dia, de acordo com as minhas aprendizagens. Mas, é preciso não esquecer que ser o melhor de mim é, também, ter a grande capacidade de aceitar o outro e todas as suas escolhas, não esquecendo que somos estrelas a ocupar um mesmo céu, refletimo-nos, espelhamo-nos porque somos feitos da mesma matéria e nunca deixaremos de ser isso.
A espiritualidade pode ser resumida numa só palavra: Amor.
Se nos separamos constantemente, considerando-nos mais, melhores, esta espiritualidade de que falamos aqui, especificamente neste texto, pode ser comprometida. Digo isto porque, para mim, a espiritualidade pode ser resumida numa só palavra: Amor. E esse divino amor não é arrogante, não é superior, não separa e não julga… Ele sabe que tudo está certo e que tudo faz parte de um plano maior.