A dinâmica da temperatura no ciclo menstrual está documentada desde o início do século passado, e o primeiro método simptotérmico oficial surgiu por volta de 1950. Apesar dos métodos chamados “naturais” terem sido abandonados em larga escala com a chegada da contraceção hormonal na década seguinte, assistimos atualmente a um interesse crescente sobre os mesmos, à boleia das inovações em “femtech” dedicadas à fertilidade e saúde menstrual (com base em algoritmos de temperatura basal) e da reivindicação, por parte das mulheres, de uma maior literacia de corpo, desejo de conhecimento e de alternativas não-hormonais de gestão da sua fertilidade.
O que diz a temperatura?
Durante o ciclo menstrual a temperatura do corpo em descanso (temperatura basal) varia: estamos mais frescas na primeira fase de ciclo e mais quentes na segunda.
Porquê? Porque depois de ovularmos, os nossos níveis de progesterona começam a subir e a aquecer o corpo. O objetivo é garantir que o óvulo que foi libertado, e que pode vir a ser fecundado, encontra, nessa eventualidade, ambiente para se desenvolver e dar início a uma gestação.
Quando a gravidez não acontece, o corpo para a produção de progesterona ovárica que provoca uma quebra de temperatura e a libertação do revestimento uterino criado traduzido na chegada da menstruação.
Assim, quando monitorizamos diariamente a nossa temperatura basal, conseguimos observar um padrão bifásico nos gráficos construídos desde que os nossos ciclos se apresentem ovulatórios; Da mesma forma, quando a temperatura sobe e assim se mantém durante mais de 16 dias consecutivos, é tempo de fazer um teste de gravidez.
As duas grandes vantagens de medir a temperatura basal são:
- Saber se se ovulou no ciclo que termina (e quando);
- Saber se há probabilidade de gravidez.
Mas as vantagens não ficam por aí e passam ainda por uma aferição primária do funcionamento da tiróide, identificação de ciclos sem ovulação, saber em tempo real em que fase do ciclo se está sem ter de andar a fazer testes de gravidez em caso de atrasos menstruais, etc..
As regras de medição
O Método Natural de Fertilidade é um “método” porque tem regras. Estas são, como todas as regras, específicas, para serem cumpridas e não dão espaço para interpretações pessoais ou “faço assim porque me dá mais jeito”.
Como a variação da temperatura entre as duas fases do ciclo é bastante subtil, temos de garantir que a mesma é medida em condições idênticas diariamente. Quando isso não acontece, as temperaturas são identificadas como questionáveis a fim de não enviesarem a leitura do gráfico.
A temperatura é medida idealmente com um termómetro basal, que tem duas casas decimais e pode facilmente ser comprado por 10 ou 15 euros na Amazon ou eBay.
Pessoas saudáveis, que não façam qualquer tipo de medicação e que querem usar o método enquanto estão a tentar engravidar, podem usar inicialmente um termómetro de uma décima.
Regras:
- temperatura interna (medida oral, vaginal ou retalmente);
- todos os dias ao despertar, à mesma hora, sem sair da cama;
- após um mínimo de 3 horas de sono consecutivas (sendo o ideal, 5 horas).
Aceita-se uma variabilidade de trinta minutos relativamente à hora habitual, antes ou depois. Por exemplo, se a hora habitual de medição for às 7:00, todas as temperaturas entre as 6:30 e 7:30 são consideradas fidedignas. Fora dessa janela de tempo, serão questionáveis.
Fatores que interferem na temperatura basal
Para além da medição a uma hora diferente da habitual, outros fatores podem fazer com que a temperatura não seja válida para a leitura do gráfico de ciclo. São exemplos:
- sexo noturno;
- álcool consumido na noite anterior;
- medir temperatura sem estar em jejum;
- estado febril ou doença;
- sono interrompido com saída da cama;
- condições de tiróide;
- medicação;
- todas as outras variáveis que alterem o ambiente noturno (temperatura do quarto alterada, cobertor eléctrico, outra cama, etc.).
Qualquer método de monitorização de ciclo e fertilidade deve ser aprendido com uma instrutora.
Pode ser utilizado por quem está a tentar engravidar, por quem não quer engravidar ou ainda por quem quer perceber o seu ciclo menstrual, agora que a evidência recente já deitou por terra os 28 dias de ciclo com ovulação a meio como modelo aplicável a todas as pessoas que menstruam.
No site do Círculo Perfeito, está disponível para download um ebook gratuito sobre o assunto.