Acredita que é mais produtivo se todo o seu tempo estiver preenchido, mesmo que para isso seja necessário abdicar dos seus períodos de descanso (fins de dia, fins de semana, feriados, férias)?
Pense novamente.
É natural que sinta alguma culpa ou medo quando imagina uma vida onde o «não» faz parte da sua vida profissional. Vamos tentar desconstruir, de vez, esse pensamento. Para isso, vamos abordar um conceito: produtividade.
O conceito de produtividade
A produtividade consiste na relação entre alcançar um resultado e o tempo necessário para tal. Desta forma, a produtividade é igual aos resultados obtidos versus o tempo despendido. Então, podemos afirmar que o que consegue realizar com o seu tempo determina a sua produtividade. Até aqui parece‑me claro.
Agora, gostava de introduzir aqui uma nova variável e adicioná‑la ao tempo: quantidade.
Será que somos mais produtivos por realizarmos mais em menos tempo?
Embora a pressão do tempo nos condicione a realizar mais coisas, na realidade não estamos a ser produtivos. Não sou eu que o digo, mas, sim, Teresa Amabile, professora americana na Harvard Business School, no seu artigo «Creativity Under the Gun», publicado na Harvard Business Review. Ao estudar a relação criatividade e pressão de tempo, a autora concluiu que a ideia de que trabalhar sob pressão produz melhores resultados é um mito. Pelo contrário: quanto mais pressionadas as pessoas se sentem, menor será a probabilidade de pensarem criativamente. A investigação demonstrou, ainda, que havia cada vez menos pensamento criativo à medida que a pressão do tempo aumentava.
Certamente que o ideal seria uma ausência completa de pressão de tempo para a execução de uma determinada tarefa. Contudo, atendendo às exigências que a vida atual nos impõe, é muito provável que isso possa não ser possível. Teremos, assim, de encontrar estratégias para nos ajudar a fazer um planeamento consciente do nosso tempo e, consequentemente, sermos produtivamente conscientes. Já lá iremos.
Teresa Amabile deixa‑nos um alerta: «Não se iluda a pensar que a pressão do tempo, por si só, estimula a criatividade. Essa é uma ilusão poderosa, mas ainda assim uma ilusão».
«Porquê?», deve estar a questionar-se. E eu respondo também com uma pergunta à qual gostaria que respondesse de forma sincera:
Como se sente quando está a realizar uma tarefa sob pressão?
Com ansiedade, stresse, frustração, raiva, insatisfação, podem ter sido algumas das suas respostas. Quando agimos sob pressão, reagimos. Uma reação é uma resposta a um estímulo externo, ou a vários estímulos externos. E quando estamos a reagir nem sempre tomamos as melhores decisões, pois estamos a ser comandados pelo nosso instinto de sobrevivência, pelas nossas emoções mais primitivas, o que nem sempre é racional. Reagir é, por isso, ser‑se expectador, e até deixar‑se levar pelas expectativas dos outros.
Logo, quando nos deixamos levar pelo ritmo frenético do mundo em que vivemos, e aplicamos esse ritmo às nossas respostas (reações), estas tomam conta de nós, e muitas vezes correspondem apenas às expectativas dos outros e não ao que realmente queremos.
Qual é o papel que prevalece na sua vida, no momento atual: expectador ou realizador?
Quando o nosso dia começa, temos sempre duas opções: agir ou reagir. Se nos agarrarmos ao telemóvel, por exemplo, com a quantidade de informações disponíveis e tantas distrações que este aparelho nos proporciona, é muito fácil sermos meros expectadores. Para sair deste modo piloto automático de estímulo/reação, é importante ter presente que necessitamos de ser criadores da nossa história, todos os dias.
Vejamos: a base da ação (a sua decisão) é uma escolha que, por sua vez, define uma estratégia. Uma estratégia rumo à concretização dos seus objetivos, que estarão de acordo com o seu propósito e valores, visando o seu bem‑estar e a sua felicidade. Então, esta tem de ser consciente. O leitor tem de ter a noção do que escolhe para a sua vida, através de um plano de ação consciente, onde cada atitude é necessariamente um ato refletido, escolhido e construído por si.
Logo, e tal como quando nos propomos a fazer uma viagem, a fazer obras na nossa casa ou a treinar o nosso corpo, este plano pode e deve ser programado, para que possa alcançar resultados mais eficazes. Com este plano, de cada vez que se permitir pensar e definir as suas ações, que decidir sobre algo e se responsabilizar por tal, estará a agir e não a reagir.
Isto é fundamental, pois agir é a base da produtividade consciente; é aquilo que queremos fazer com o nosso tempo, de forma consciente e não reativa. E, na minha perspetiva, este conceito tem dois grandes pressupostos:
1. Estar intencionalmente consciente
Em primeiro lugar, é estar intencionalmente consciente, momento a momento, do que está a acontecer à nossa volta, à medida que o dia avança e as nossas rotinas vão acompanhando os diferentes horários. Para que esse estado de consciência aconteça, é necessário conduzir toda a nossa atenção sem julgamento, para os sentimentos e pensamentos que vão surgindo enquanto realizamos as nossas tarefas, previamente definidas por nós.
Quando vivemos em modo piloto automático corremos o risco de perder o contacto connosco, com o momento atual e com quem está à nossa volta. Pelo contrário, quando estamos conscientes do momento atual, percebemos se estamos a respeitar o nosso ritmo e os nossos limites, permitindo‑nos redirecionar o nosso percurso ou fazer uma pausa consciente, caso percebamos que estamos a ir para além do que conseguimos. E só o conseguimos fazer porque estamos no momento presente, atentos.
2. A nossa identidade pessoal
Em segundo lugar, a produtividade consciente contempla a nossa identidade pessoal, as três esferas da nossa vida. Quando temos presente os nossos papéis sociais, aqueles que são importantes para nós, parte do nosso tempo é dedicado aos mesmos. O que quero deixar bem claro, também, é que a produtividade consciente pressupõe uma relação entre os resultados obtidos versus o tempo conscientemente despendido para cada uma das nossas esferas da vida, e não só para a esfera profissional. Esta é uma frase que repito várias vezes: nós não somos apenas profissionais.
Ser conscientemente produtivo é assumir o controlo da sua vida, deixar de entender o conceito de produtividade como estar sempre ocupado e passar a ter um novo entendimento sobre os resultados que pretende atingir.
Ser‑se conscientemente produtivo é atingir os nossos objetivos e também usufruir de todas as experiências que essa concretização nos proporciona. Quando sentimos prazer ao vivenciar as experiências diárias, as pequenas coisas ganham outro brilho. E até os momentos em que não fazemos literalmente nada são valorizados.
Escolha ser conscientemente produtivo (ou produtivo de forma consciente)
Este é o meu desejo para o ano que agora se inicia: seja conscientemente produtivo!