A massificação do uso dos detergentes tornou-se um problema insustentável para o ambiente. Não é assim tão fácil perceber que tipo de químicos são usados como ingredientes nos produtos de limpeza que compramos, mas existem dicas para nos ajudar a fazer melhores escolhas. No entanto, se a limpeza natural lhe interessa porque não optar por fazer os seus próprios detergentes e produtos de limpeza?
O nome detergente vem do latim detergere, que significa “limpar”. Tal como o sabão, os detergentes pertencem a uma categoria de químicos denominada surfactantes ou tensiotivos. De forma simplificada quer dizer que são capazes de se ligar com a água e ao óleo ao mesmo tempo, desagregando a sujidade das superfícies e mantendo esta em suspensão na solução de lavagem.
Os tensioactivos dos detergentes sintéticos provêm essencialmente do petróleo e uma das suas vantagens é a grande eficácia mesmo em contextos que eram difíceis para o sabão, como a chamada água “dura” – rica em sais de cálcio e magnésio. Em compensação podem ser especialmente problemáticos para o ambiente. As suas formulações podem permanecer nas águas por longos períodos de tempo sem se degradarem, formando grandes quantidades de espuma à superfície que afetam negativamente os ecossistemas aquáticos. Tal já acontecia com o sabão, mas a massificação do uso dos detergentes tornou este problema insustentável.
Além dos surfactantes, os detergentes têm inúmeros outros ingredientes na sua composição, como solventes, que ajudam a manter a consistência dos produtos, enzimas, especialmente úteis na remoção de nódoas, fragrâncias, conservantes, estabilizadores de pH, corantes e até espessantes, bem como produtores de espuma e agentes antibacterianos e desinfetantes.
Muitos compostos dos detergentes também têm sido associados a problemas de saúde.
O efeito do contacto cutâneo prolongado, através das mãos ou da própria roupa, de uma combinação de substâncias presentes em detergentes e cosméticos (que pode ascender a dezenas no uso diário) tem vindo a ser cada vez mais estudado, e o número de compostos sujeitos a restrição ou proibição tem vindo aumentar também ao longo dos anos.
No caso dos detergentes, muitas destas substâncias podem ainda ser inaladas uma vez que inúmeros produtos de limpeza libertam compostos orgânicos voláteis durante a utilização. Os vapores de alguns deles podem induzir asma em indivíduos saudáveis, por exemplo, sendo que a maioria não vem sequer referida nos rótulos.
Não é fácil perceber que tipo de químicos são usados como ingredientes nos produtos de limpeza que compramos no supermercado.
Optar por marcas que divulguem todos os ingredientes é um bom princípio, assim como procurar surfactantes mais benignos, como sabão e detergentes de base vegetal. Mas este é um caminho que passa também necessariamente por investir em mais conhecimento. Pesquisar rótulos, aprender a decifrar nomes de químicos muitas vezes impronunciáveis, e contornar o chamado greenwashing, marketing que apela ao consumo através do chamariz da sustentabilidade usando termos como “natural” de forma muitas vezes enganosa.
A verdade é que não existe uma definição útil do que seja “natural” relativamente a ingredientes, desde logo porque todos os compostos naturais têm uma base química.
Os ingredientes típicos dos detergentes caseiros, como o bicarbonato de sódio ou o vinagre (ácido acético), são bons exemplos disso mesmo. Por outro lado, é bom ter a consciência de que nem todos os ingredientes dos detergentes convencionais são nocivos e nem todos os ingredientes ditos “naturais” são bons. Alguns não são sustentáveis e outros podem ser tão ou mais tóxicos do que muitos sintéticos – as fragrâncias derivadas dos óleos essenciais, por exemplo, podem ser fonte de alergias.
Há dicas adicionais que podemos ter em conta se queremos usar detergentes convencionais: a primeira será entender que não precisamos de ter 10, 15 ou 20 produtos de limpeza diferentes. Essa é uma convicção fabricada pelo marketing e podemos simplificar muito a nossa vida usando apenas dois ou três. Quando vamos analisar vemos que muitos desses produtos têm princípios ativos semelhantes. Podemos também usar a menor quantidade de detergente possível em cada lavagem, experimentando reduzir para metade do habitual, assim como procurar colocar menos vezes as roupas para lavar, recorrendo ao velho hábito de as arejar, que não só ajuda a prolongar a sua vida útil como a reduzir a quantidade de microplásticos (presentes nos tecidos sintéticos) que acabam por ir parar aos rios e oceanos, prejudicando a vida marinha.
Por tudo isto, podemos optar por fazer os nossos próprios detergentes e produtos de limpeza.
Foi esse o objetivo do meu livro, ajudar e inspirar a quem quer fazer mudanças mais ecológicas!
Fazer sabão ou detergente de forma artesanal tem a vantagem de reutilizar recursos já existentes, um princípio basilar da economia circular, e ser potencialmente menos ou mesmo nada prejudicial ao ambiente e à saúde. O prazer de fazer algo por nós mesmos, com a autonomia que isso confere e a certeza de que sabemos como o produto é produzido, constituem vantagens adicionais em fazer os nossos próprios detergentes. A poupança é outro elemento interessante, já que na maioria das vezes podemos usar ingredientes saídos da nossa despensa ou que encontramos a preços muito reduzidos. Em contrapartida, é um desafio que exige flexibilidade e capacidade mental de adaptação a uma nova maneira de fazer as coisas, eventualmente com a criação de novos hábitos e rotinas.
Recorrer a receitas caseiras para formular os nossos próprios detergentes é um caminho que considero aliciante e até empoderador.
Ao contrário da ideia de que pretendemos rejeitar os químicos para fazer produtos naturais, vamos na verdade usar combinações de químicos para fazer o nosso próprio detergente. Alguns destes elementos estão presentes em produtos tão vulgares e do dia-a-dia como o limão ou o vinagre, e outros poderemos ter de adquirir numa drogaria tradicional. Com isto formulamos produtos mais simples, com a certeza de que estão isentos de elementos nocivos ao ambiente e à saúde, embora a sua manipulação deva sempre ser feita com precaução e os devidos cuidados.
Nota: Fotografias por Daniela Sousa Photography