A endometriose é uma doença benigna que afeta cerca de 1 em cada 10 mulheres.
Em que consiste a endometriose?
O endométrio é o tecido que reveste o interior do útero e que descama na menstruação. Na endometriose, existem focos desse tecido fora do útero, frequentemente no interior da cavidade abdominal, como também é possível que existam em muitos outros locais. Durante a menstruação, estes focos também sangram e provocam reação inflamatória e dor. Assim, é típico que a dor ocorra durante a menstruação. Pode existir um desconforto, mas quando a dor se torna incapacitante devemos suspeitar da endometriose.
Ter dor durante a menstruação não é normal.
Num estudo prospetivo em 10 países, o Global Study of Womens’ Health (GSWH), verificou-se a prevalência da endometriose.
Das conclusões do estudo destaca-se que:
- Ocorre um atraso médio de 7 anos desde o início dos sintomas até ao diagnóstico de endometriose. As doentes procuram, em média, opinião de 7 médicos até ao diagnóstico;
- Dois terços das mulheres procuram ajuda médica antes dos 30 anos;
- 65% das mulheres referem a dor como principal sintoma, tendo um terço destas infertilidade associada.
Quais são os sintomas mais frequentes da endometriose?
A endometriose pode surgir com sintomas envolvendo vários órgãos e sistemas. A dor associada à endometriose tipicamente surge e agrava-se durante a menstruação.
Em formas avançadas ou de endometriose profunda, as dores podem ser persistentes ao longo do ciclo, mas mostram sempre uma exacerbação durante a menstruação.
Para além da dor abdominal, existem formas de endometriose que evidenciam a sua localização: a dor ciática durante a menstruação (mais frequentemente à direita), aponta para a presença de focos de endometriose no nervo ciático. A dor no ombro durante a menstruação aponta para uma endometriose do diafragma, por exemplo.
Podem existir também alterações intestinais como a dor ao evacuar, durante a menstruação, que apontam para a existência de endometriose envolvendo o septo reto-vaginal. A dor profunda durante as relações sexuais também aponta para a presença de endometriose envolvendo o septo reto-vaginal. Nestas situações, o exame ginecológico evidencia a presença do nódulo, à distância do dedo do examinador atento.
Como diagnosticar a endometriose?
O principal meio de diagnóstico é saber ouvir o que nos dizem as doentes.
Os focos de endometriose pequenos e dispersos pelo interior do abdómen e pelve, provocam dor, mas, não são visíveis nos exames convencionais como a ecografia pélvica. A ressonância magnética pélvica necessita dum radiologista especialmente vocacionado para a sua deteção. Quando há envolvimento do ovário, com o aparecimento de quistos endometriais, a confirmação do diagnóstico com os exames de imagem é mais simples.
Qual a relação entre endometriose e infertilidade?
Embora não possam ser dissociados, a infertilidade é outro sintoma que pode ocorrer num terço das mulheres com endometriose.
Como tratar a endometriose?
Não existe um tratamento único para a endometriose. Cada doente deve ser avaliada e o tratamento ser instituído à sua medida.
Se é preponderante a dor, associada a lesões envolvendo o intestino e os ovários, a cirurgia poderá ser a indicação.
Se a principal apresentação está associada a infertilidade, os tratamentos de Procriação medicamente assistida poderão ser a primeira opção de forma a reduzir o tempo até à gravidez.
Se a gravidez não é o objetivo e a dor não é muito incapacitante, devemos optar por uma pílula contínua, para se menstruar o menos possível, de forma a estabilizar a endometriose.
De forma a balancear este equilíbrio entre os vários tratamentos, devemos compreender a integração de todas estas variáveis na equação. Com esse objetivo, têm-se formado Centros de tratamento integrado da endometriose em que equipas multidisciplinares envolvendo o ginecologista, o especialista de tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA), o imagiologista, o cirurgião colo-rectal, o gastroenterologista, o urologista, a nutricionista. Todos se reúnem para uma abordagem mais completa das situações mais complexas.
O que esperar de futuros tratamentos da endometriose?
Todas as linhas de investigação tentam compreender os mecanismos que dão origem à doença e focam-se em encontrar marcadores específicos dos focos de endometriose, que serão alvo de medicamentos biológicos como anticorpos monoclonais. A cirurgia poderá ser assim cada vez menos agressiva, ou radical, à semelhança do que se verificou em muitas cirurgias do cancro que deixaram de ser radicais para serem mais conservadoras.