O puzzle da mente: Pensamento, Emoção, Comportamento

Diogo Telles Correia // Janeiro 29, 2019
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Considera-se em psicologia e psiquiatria que um pensamento se associa a uma emoção e a um comportamento (pensamento>emoção>comportamento). Ou seja, perante determinada situação, por exemplo a chegada a um evento social, temos um determinado pensamento (por exemplo: estão a olhar para mim, será que estou bem vestido?), e depois uma emoção (por exemplo: ansiedade, coração a bater muito rápido, suores, etc.) e consequentemente um comportamento (por exemplo: permanecer no evento social ou fugir).

A nossa vida toda pode estruturar-se nestes blocos pensamento-emoção-comportamento. E, assim as situações de ansiedade, de depressão, entre outras perturbações psiquiátricas podem ter origem numa perturbação destes sistemas.

Como intervir?

Geralmente o problema começa no pensamento, que está distorcido. Por exemplo: num caso de ansiedade, quando vamos ao ginásio e começamos a correr, o nosso coração bate mais rápido (como é normal), nos ansiosos podem vir à cabeça pensamentos como “vou morrer”, “vai me dar um ataque cardíaco”… Isso faz com que a pessoa muitas vezes pare e volte para casa. Numa depressão, geralmente a pessoa tem a ideia de ir ao ginásio, mas tem pensamentos disfuncionais (como por exemplo: “para quê, nada vale a pena, não há solução, vou mas é ficar fechado no quarto às escuras”), e que evitam qualquer comportamento benéfico (como ir ao ginásio).

A Psicoterapia Cognitivo-Comportamental

Na psicoterapia cognitivo comportamental, intervimos a nível dos pensamentos e dos comportamentos. Estes, por sua vez, vão moldar e melhorar as emoções.

Podemos utilizar vários métodos:

  1. Identificar os pensamentos automáticos

Muitas vezes os pensamentos distorcidos que referimos no caso da ansiedade e da depressão estão escondidos no nosso quotidiano. Por isso, podemos começar por tentar identificá-los com os pacientes (até podemos pedir-lhes que façam uma tabela com os pensamentos que vão surgindo ao longo dos dias).

  1. Reestruturação cognitiva

Aqui tentamos reestruturar o pensamento negativo, desafiando-o e substituindo-o por um mais positivo. Ensinamos os pacientes a discutir com os pensamentos disfuncionais e arranjar alternativas mais racionais e mais adequadas.

Por exemplo: no caso anteriormente falado da ansiedade no ginásio ou quando corre – “Vai acontecer alguma coisa porquê?” “É normal o coração bater mais rápido quando se corre, faz parte…” “Já fizeste exames de rotina e está tudo bem, estes pensamentos estão a bloquear a tua vida, tenta persistir e não desistas de correr, esta ansiedade já passa…”. No caso da depressão – “Tenta sair de casa, já sabes que se fores podes sentir-te melhor e isso vai melhorar a tua depressão, se não fores nunca mais vais melhorar…”.

  1. Alteração de comportamentos

Neste caso tentamos estimular as pessoas a estabelecer comportamentos positivos para a sua situação.

No caso da ansiedade, o enfrentamento das situações que provocam medo aos pacientes (os pacientes devem ser estimulados a enfrentar estas situações e a persistir mesmo que no início a ansiedade aumente depois acaba por reduzir-se), o planeamento de exercício (o exercício aumenta a tolerância às mudanças corporais que muitas vezes se associam à ansiedade e provoca relaxamento), etc.

No caso da depressão, o estimular os pacientes a sair de casa, a programar actividades prazerosas (nomeadamente sociais), faz com que eles experimentem melhorias no seu estado de espírito e isso estimula-os a voltar a ter estes comportamentos no futuro (reforço positivo, pois os comportamentos que se associam a uma recompensa têm tendência a repetir-se).  

Outras intervenções comportamentais incluem: prática de habilidades de solução de problemas (estimular as auto-gratificações, diminuir o tempo de ruminações, diminuir o tempo de comportamento passivo e associal); treinamento de habilidades de comunicação (ser empático, promover escuta ativa, editar a comunicação, contatos sociais positivos); prescrição de tarefas graduais; Treino de assertividade (ser assertivo nos seus relacionamentos) e habilidades sociais.

  1. Tentar encontrar a origem dos esquemas mentais

Nalguns casos, os pensamentos disfuncionais podem ter origem em situações ou experiências do passado. Atenção: nem sempre se conseguem encontrar estas origens, a ansiedade e a depressão podem surgir espontaneamente. No entanto nalguns casos conseguimos encontrar no passado do paciente ansioso, por exemplo, uma infância em que a pessoa foi hiperprotegida, em que não foi favorecido o enfrentamento das situações, etc, e isso pode favorecer as perturbações de ansiedade no adulto. Pode por outro lado ter assistido a comportamentos de pais muito ansiosos, o que pode ter influenciado também o comportamento ansioso no adulto. Enfim, o encontrar alguma origem para os comportamentos e emoções no passado, pode ajudar o paciente a ter uma sensação de controlo sobre o que se está a passar com ele, embora não seja suficiente para tratar os sintomas. É fundamental que se utilizem as técnicas acima descritas. Ou seja, encontrar possíveis origens dos sintomas em experiências passadas não conduz ao seu desaparecimento por si só!

Em suma:

Com a Psicoterapia Cognitivo-Comportamental o paciente aprende a:

  • Identificar e modificar a sua forma distorcida de pensar;
  • Identificar e modificar as emoções que esses pensamentos provocam;
  • Identificar e modificar os comportamentos que são tomados como consequência desses pensamentos e emoções;
  • Utilizar formas alternativas, mais funcionais, de pensar e se comportar diante das situações;
  • Reestruturar crenças nucleares;
  • Solucionar problemas;
  • Construir estratégias de enfrentamento;
  • Prevenir possíveis recaídas.

Com o conhecimento, por parte do paciente, das habilidades de solução de problemas, o terapeuta fica cada vez menos ativo em guiar o tratamento. Um bom tratamento prevê que o paciente possa ser o seu próprio terapeuta! Isso acontece com ao longo do processo terapêutico descrito em que o paciente sai da posição passiva e adopta uma postura pró-ativa.

NOTA: Texto escrito pelo Professor Doutor Diogo Telles Correia em parceria com o Professor Doutor José de Almeida Brites, Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta, e Professor da Faculdade de Psicologia, Universidade Lusófona.

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