O Outono chegou e, apesar dos dias de sol e calor se manterem por cá, a verdade é que a energia de recolhimento tão característica desta estação do ano já se sente. Os dias estão mais curtos, o nosso corpo começa a pedir alimentos mais quentes e aquela sensação de querer abrandar começa a tornar-se mais evidente. É esta a vibração de Outono que nos convida verdadeiramente a olhar para dentro para esta nossa casa interna e a desfrutar da nossa própria companhia.
Olho para o Outono como uma verdadeira oportunidade para desconectar. Para deixar de lado o excesso de estímulos externos que as estações mais quentes nos proporcionam e conectarmo-nos mais com a respiração e com a fluidez de práticas que incentivem a tomada de consciência do nosso corpo como um todo.
É importante manter o corpo em movimento.
Apesar de aos poucos o frio começar a chegar e existir uma certa tendência para nos tornarmos mais letárgicos é realmente importante manter o corpo em movimento para que a nossa imunidade se mantenha forte e a mente saudável. Depois de um ano e meio bastante difíceis devido à pandemia é importante procurarmos atividades que nos nutram por inteiro e que nos mantenham motivados especialmente quando aos poucos a luz do dia começa a encurtar levando-nos muitas vezes a mergulhar durante horas na televisão.
Manter o auto cuidado sempre.
Como professora de Yoga e fundadora da Casa Lagom procuro incentivar os meus alunos a manterem o seu auto cuidado durante toda a semana. Não é só o momento que escolhem tirar para praticar Yoga nos dias em que vão à escola, é procurar bloquear todos os dias pelo menos 20 minutos para aquilo a que chamo higiene mental que no fundo é simplesmente parar, sentar e respirar.
Chega de adiar!
A verdade é que usamos muito a falta de tempo para justificar muitas coisas na nossa vida, mas será que existe realmente falta de tempo ou existe falta de gestão de tempo? E isto leva-nos a outra questão: o adiar. Quantos de nós já não fizeram resoluções de início de ano? “É agora que vou emagrecer.” “É agora que vou cuidar de mim, mover-me ou começar a ler mais.” Chega de adiar, é exatamente isto que a energia de Outono nos traz, esta energia de recolhimento, de nos permitirmos olhar para o nosso dia e procurar 20 minutos que sejam para parar.
Quem sabe esses 20 minutos não podem acontecer ao acordarmos um pouco mais cedo. Ou talvez durante a hora de almoço, em vez de ficarmos letárgicos a consumir redes sociais porque não usar esse tempo para caminhar, fechar os olhos e respirar profundamente, escrever sobre o que a alma quiser de forma completamente livre ou simplesmente alongar.
4 Dicas para manter a conexão no Outono:
Algumas dicas que me permitem conectar com a minha casa interna durante esta época são:
1. Journaling
Eu sou completamente apaixonada pela escrita livre e já perdi a conta ao número de cadernos que enchi com pensamentos e ideias soltas que vou deixando. Não tem de ser nada elaborado e, na verdade, quanto mais sem expectativas for melhor. O segredo da escrita está em começar. Tal como Elizabeth Gilbert escreveu uma vez no fabuloso livro “A Grande Magia”, se ela estivesse à espera da chamada inspiração, nenhum livro dela teria nascido. A maior parte das vezes a escrita começa de forma forçada, uma palavra atrás da outra e quando damos por nós a mente desbloqueou. No entanto, como sei que para algumas pessoas a escrita não é um hábito vou deixar aqui três temáticas para desenvolver na sua prática de Journaling:
- Aponta três ideias para tornares os últimos meses do ano mais saudáveis e ativos e descreve passo a passo como os vais implementar.
- Qual a memória que te traz mais alegria?
- Outubro para ti combina com? Descreve o mais detalhadamente possível.
2. Movimento
Eu sei que o frio tende a deixar-nos mais preguiçosos, mas é justamente por estarmos numa altura onde o sistema imunitário mais é colocado à prova que precisamos de nos mover. A minha opinião é que devemos sempre procurar uma modalidade que nos apaixone e entusiasme. É óbvio que como professora de Yoga vou sempre tentar espalhar os benefícios desta prática milenar que vão muito além das posturas acrobáticas que vemos por essas redes sociais fora. No entanto, aquilo que mais importa é efetivamente que faças alguma coisa que te entusiasma e não porque todos fazem.
Na minha escola, incentivo os alunos a combinarem práticas mais ativas como o Vinyasa, onde, para além da total consciência da respiração, trabalhamos a força e resistência muscular, com práticas de maior permanência como o Yin Yoga, onde a ausência de movimento e a longa permanência nas posturas permitem não só potenciar a flexibilidade e mobilidade geral do corpo. São um verdadeiro convite a desligar por completo. A verdade é que à primeira vista uma prática de maior permanência pode não ser atrativa para nós habitantes do Ocidente, mas garanto que assim que experimentamos a conjugação de práticas Yang (ativas) com práticas Yin (permanência) o corpo torna-se muito mais estável e com maior espaço. E a maior curiosidade de tudo isto é que pelo menos na Casa Lagom a aula que esgota por completo é exatamente a de Yin Yoga. Eu tenho uma teoria: passamos a vida a fugir do silêncio e da quietude e quando nos permitimos só estar percebemos o impacto nocivo que uma vida de estímulos externos traz à nossa mente.
3. Respiração
Li há uns tempos que uma boa técnica para não nos deixarmos acomodar é: quando tivermos vontade de ficar horas a ver tv, sentamo-nos no chão e simplesmente respiramos durante 5 minutos. Isto permite ao cérebro oxigenar e refrescar, e de repente o ficar apenas no sofá já não é tão atrativo. Não que de vez em quando não seja prazeroso ficar a ver uma boa série ou filme no sofá, mas a verdade é que a maioria das pessoas tem padrões diários muito repetidos. Acordamos, vamos para o trabalho, chegamos a casa, tratamos da família, vamos para o sofá e depois para a cama. O corpo precisa de outros estímulos e a mente também. Por isso, procura conectar-te mais com a tua respiração, tomar atenção ao número de vezes que inspiras e expiras por minuto, e procura diminuir esse número. Sabias que os animais que vivem mais tempo possuem respirações muito longas e respiram poucas vezes por minuto? Tem tudo a ver com permitir criar espaço para o peito expandir.
4. Jogos de tabuleiro
Para terminar tinha de deixar um dos meus passatempos favoritos que combina tão bem com esta época e traz um novo estímulo mental. Chega de ficar agarrado ao telemóvel ou à televisão! Vamos recuperar aqueles hábitos antigos de fazer um puzzle ou jogar um jogo interessante de tabuleiro. Cá por casa somos muito fãs de jogos deste género e garanto que se passam 3 ou 4 horas fabulosas a criar estratégias e a rir sem nos lembrarmos que o telemóvel existe. Para além de fomentar as relações humanas, traz um novo estímulo ao nosso cérebro e isto é impagável.
Espero que gostes destas sugestões e que tornes o teu Outono bem propício ao teu autocuidado. Até à próxima.
Nota: Fotografias por Margarida Pestana