Na maioria das vezes, quando se pensa em Terapia da Fala associa-se a um trabalho com crianças. Contudo, a faixa etária de actuação é muito mais vasta e nunca é tarde para pedir uma avaliação ou opinião.
O Terapeuta da Fala é um profissional de saúde com competências para intervir desde o nascimento, isto é, intervém: em recém-nascidos, na área da alimentação e no desenvolvimento de competências comunicativas, junto dos seus pais e equipa multidisciplinar nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais; com crianças em idade pré-escolar, centrando-se na prevenção, diagnóstico e intervenção na promoção das competências linguísticas, vocais e de comunicação assim como na intervenção das suas perturbações. Por sua vez, em crianças e jovens em idade escolar a intervenção centra-se nas perturbações da leitura e da escrita, patologia vocal, na potencialização da comunicação e na gaguez. Sendo que nos dois últimos grupos etários é essencial desenvolvermos o nosso trabalho junto dos educadores, professores, médicos e da família.
Finalmente, na idade adulta, o nosso campo de atuação é maioritariamente em perturbações da linguagem, adquiridas após Acidente Vascular Cerebral (AVC), demências, tumores, Parkinson ou Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), patologias vocais e da deglutição (dificuldade a beber e/ou engolir líquidos), sendo o trabalho em equipa multidisciplinar essencial.
O que indica que uma criança precisa do acompanhamento de um/a Terapeuta da Fala?
Há guidelines que apontam os indicadores linguísticos e comunicativos e os fatores de risco para cada idade ou etapa de desenvolvimento e que nos permitem identificar e diagnosticar uma perturbação e/ou orientar a família a estimular adequadamente a criança.
Muitas vezes há a ideia de que antes dos 3 anos não vale a pena intervir, mas é completamente errada. Como inicialmente explicado, é muitas vezes em bebé, quando ajudamos a fazer uma boa pega durante a amamentação ou a alimentar o bebé durante o internamento, na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, ou quando ensinamos a mastigar alimentos sólidos, que, para além de estarmos a intervir, estamos a prevenir dificuldades de fala ou outras alterações oromotoras.
Nas crianças existem alguns sinais de alerta a ter em atenção, como:
- começar a falar mais tarde;
- aos 2 anos ainda não falar;
- fazer uso do gesto para fazer pedidos e/ou descrever os objectos;
- não conseguir fazer a localização de um som;
- trocar sons nas palavras (ex: bota/mota);
- usar apenas vogais ou uma sílaba para dizer quase todas as palavras;
- dificuldade em lembrar-se dos nomes das coisas (descrevendo-as pela função, pela acção, pelas características, através de gestos ou ainda substituindo por outra);
- não conseguir manter o mesmo tema de conversa;
- fazer frases curtas e/ou desorganizadas (“Está o filha calçar sapato”);
- não ser objetivo nas descrições que faz dos acontecimentos;
- dificuldade em perceber piadas, anedotas e/ou charadas, interpretando-as à letra;
- responder desadequadamente a perguntas começadas por “Quem, Como, Quando, Onde, Qual…”;
- dificuldade em produzir histórias, lengalengas e canções;
- não conseguir dividir as palavras em sílabas e as sílabas em sons;
- dificuldade em discriminar os sons da fala, ou seja, quando ouve “bota” e “mota”, a criança não identifica diferenças nas palavras;
- dificuldade na produção e reconhecimento de rimas;
- rouquidão frequente;
- repetição de palavras ou sílabas, prolongamentos e/ou bloqueios durante a fala.
É importante referir que as crianças não devem ir para o 1º ano com dificuldade de fala e/ou linguagem, uma vez que estas podem interferir na aquisição da leitura e da escrita.
Já no final do 1.º ano de escolaridade consideram-se sinais de alerta:
- vocabulário reduzido;
- inversões ou troca de letras ou sílabas e/ou palavras – Ex: secola (escola); fela (vela);
- omissão de letras e/ou sílabas – Ex: Sato (sapato); casola (camisola);
- dificuldade em discriminar sons – Ex: f/v, s/z, ch/j;
- dificuldade na interpretação de frases e/ou textos;
- dificuldade em aplicar as regras ortográficas – Ex: comião (comiam);
- evita ler a tarefa de leitura em voz alta;
- rouquidão persistente.
Não há uma idade certa para recorrer a um Terapeuta da Fala.
Em todas as fases da vida há intervenção, soluções e/ou estratégias. Quer na idade infantil, quer na adulta. E assim que surja uma alteração ou dificuldade, é muito importante uma intervenção precoce.