O meu filho precisa de Terapia da Fala?

Lina Marques de Almeida // Março 6, 2021
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Na maioria das vezes, quando se pensa em Terapia da Fala associa-se a um trabalho com crianças. Contudo, a faixa etária de actuação é muito mais vasta e nunca é tarde para pedir uma avaliação ou opinião.

O Terapeuta da Fala é um profissional de saúde com competências para intervir desde o nascimento, isto é, intervém: em recém-nascidos, na área da alimentação e no desenvolvimento de competências comunicativas, junto dos seus pais e equipa multidisciplinar nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais; com crianças em idade pré-escolar, centrando-se na prevenção, diagnóstico e intervenção na promoção das competências linguísticas, vocais e de comunicação assim como na intervenção das suas perturbações. Por sua vez, em crianças e jovens em idade escolar a intervenção centra-se nas perturbações da leitura e da escrita, patologia vocal, na potencialização da comunicação e na gaguez. Sendo que nos dois últimos grupos etários é essencial desenvolvermos o nosso trabalho junto dos educadores, professores, médicos e da família.

Finalmente, na idade adulta, o nosso campo de atuação é maioritariamente em perturbações da linguagem, adquiridas após Acidente Vascular Cerebral (AVC), demências, tumores, Parkinson ou Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), patologias vocais e da deglutição (dificuldade a beber e/ou engolir líquidos), sendo o trabalho em equipa multidisciplinar essencial.

O que indica que uma criança precisa do acompanhamento de um/a Terapeuta da Fala?

Há guidelines que apontam os indicadores linguísticos e comunicativos e os fatores de risco para cada idade ou etapa de desenvolvimento e que nos permitem identificar e diagnosticar uma perturbação e/ou orientar a família a estimular adequadamente a criança. 

Muitas vezes há a ideia de que antes dos 3 anos não vale a pena intervir, mas é completamente errada. Como inicialmente explicado, é muitas vezes em bebé, quando ajudamos a fazer uma boa pega durante a amamentação ou a alimentar o bebé durante o internamento, na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, ou quando ensinamos a mastigar alimentos sólidos, que, para além de estarmos a intervir, estamos a prevenir dificuldades de fala ou outras alterações oromotoras.

Nas crianças existem alguns sinais de alerta a ter em atenção, como:

  • começar a falar mais tarde;
  • aos 2 anos ainda não falar;
  • fazer uso do gesto para fazer pedidos e/ou descrever os objectos;
  • não conseguir fazer a localização de um som;
  • trocar sons nas palavras (ex: bota/mota);
  • usar apenas vogais ou uma sílaba para dizer quase todas as palavras;
  • dificuldade em lembrar-se dos nomes das coisas (descrevendo-as pela função, pela acção, pelas características, através de gestos ou ainda substituindo por outra);
  • não conseguir manter o mesmo tema de conversa;
  • fazer frases curtas e/ou desorganizadas (“Está o filha calçar sapato”);
  • não ser objetivo nas descrições que faz dos acontecimentos;
  • dificuldade em perceber piadas, anedotas e/ou charadas, interpretando-as à letra;
  • responder desadequadamente a perguntas começadas por “Quem, Como, Quando, Onde, Qual…”;
  • dificuldade em produzir histórias, lengalengas e canções;
  • não conseguir dividir as palavras em sílabas e as sílabas em sons;
  • dificuldade em discriminar os sons da fala, ou seja, quando ouve “bota” e “mota”, a criança não identifica diferenças nas palavras;
  • dificuldade na produção e reconhecimento de rimas;
  • rouquidão frequente;
  • repetição de palavras ou sílabas, prolongamentos e/ou bloqueios durante a fala.

É importante referir que as crianças não devem ir para o 1º ano com dificuldade de fala e/ou linguagem, uma vez que estas podem interferir na aquisição da leitura e da escrita.

Já no final do 1.º ano de escolaridade consideram-se sinais de alerta:

  • vocabulário reduzido;
  • inversões ou troca de letras ou sílabas e/ou palavras – Ex: secola (escola); fela (vela);
  • omissão de letras e/ou sílabas – Ex: Sato (sapato); casola (camisola);
  • dificuldade em discriminar sons – Ex: f/v, s/z, ch/j;
  • dificuldade na interpretação de frases e/ou textos;
  • dificuldade em aplicar as regras ortográficas – Ex: comião (comiam);
  • evita ler a tarefa de leitura em voz alta;
  • rouquidão persistente.

Não há uma idade certa para recorrer a um Terapeuta da Fala.

Em todas as fases da vida há intervenção, soluções e/ou estratégias. Quer na idade infantil, quer na adulta. E assim que surja uma alteração ou dificuldade, é muito importante uma intervenção precoce.

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