Menopausa. O momento em que parece que tudo acaba e em que muita coisa começa. Para algumas mulheres é o ansiado fim das dores menstruais, dos períodos abundantes, das dores de cabeça insuportáveis, do medo da gravidez fora de tempo, das alterações constantes do humor… Para grande parte, o início dos afrontamentos incapacitantes, da secura vaginal, da falta de desejo sexual, das noites mal dormidas… Mas, não só… Surge (ou aumenta) o medo da perda da juventude, da beleza, do vigor, da energia… do espelho mágico que já não nos diz que somos a mais bonita do mundo, como se a perda da fertilidade fosse o início do fim. Será mesmo assim? Será que a menopausa significa tudo isto?
O que é a menopausa?
A menopausa corresponde à perda definitiva da função dos ovários, ou seja, à perda da capacidade reprodutora. A partir deste momento já não é possível engravidar. Como esta perda muitas vezes não é súbita, e pode passar por períodos em que os ovários funcionam de forma irregular, só depois de 12 meses sem menstruação é que podemos dizer que estamos perante a menopausa. É a data da última menstruação (do mesmo modo que a menarca é a data da primeira- e, curiosamente, quase todas as mulheres sabem, mesmo aos 90 anos, quando é que foram menstruadas pela primeira vez).
Qual o impacto da menopausa na vida da mulher?
O problema é que o fim da função dos ovários implica a perda das hormonas por eles produzidas, os estrogénios e a progesterona. Os estrogénios são essenciais a muitos sistemas do nosso organismo e é aqui que começam as complicações… Com a perda dos estrogénios todos os órgãos que deles dependem para funcionar podem começar a falhar e a vagina e a vulva não são exceção… Como se não chegassem os afrontamentos e as alterações do sono, a secura vaginal e a perda do desejo sexual podem afetar de forma dramática a vida íntima da mulher e do casal.
O maior problema é mesmo o estigma, a vergonha e a dificuldade em aceitar a menopausa. Como se não fosse um evento natural. Como se não fosse o início de um novo dia, da libertação das hormonas de uma vida inteira, do foco nos filhos e na família que tanto exigem (e tanto dão, também), uma nova etapa em que o objetivo já não é a continuidade da espécie e em que, de repente, há mais espaço para crescer e amadurecer. Para prestar atenção ao nosso corpo, às nossas necessidades, aos nossos desejos e perceber como é que podemos tornar a menopausa a nossa maior conquista.
E, quando surge a síndrome génito-urinária?
A síndrome génito-urinária é uma definição relativamente recente que engloba as principais consequências da falta de estrogénios a nível da vulva, vagina e bexiga associada à menopausa e que pode afetar até 70% das mulheres.
Quais são os sintomas associados à síndrome génito-urinária?
As manifestações incluem secura vaginal, sensação de ardor/picadas a nível da vagina e vulva, diminuição da lubrificação vaginal, dor ou desconforto associado às relações sexuais, diminuição do desejo sexual e alterações urinárias, como aumento da vontade de urinar e, por vezes, dificuldade em conter a urina.
Todas estas alterações podem levar à diminuição da intimidade do casal, com a mulher a evitar qualquer contacto físico ou sexual sendo que, muitas vezes, o parceiro não compreende ou aceita esta situação. E o ciclo vicioso instala-se já que com a menor frequência das relações as queixas de secura e diminuição da lubrificação tende a agravar-se.
Sabemos que a vida sexual do casal é um dos aspetos mais importantes para o bem-estar em qualquer fase da vida, mas particularmente na pós-menopausa, estando muito relacionada com a qualidade de vida. Os filhos criados, a estabilidade laboral e financeira, a disponibilidade para atividades que até então eram impensáveis tornam este período uma oportunidade de intimidade e redescoberta da sexualidade que pode e deve ser otimizado.
Síndrome génito-urinária – Que tratamentos existem?
Para tal é necessário que as mulheres percebam que não é um karma ou uma cruz que se tem de carregar até ao fim da vida. Não é uma resignação ou uma aceitação de mártir. Existem tratamentos muito eficazes e bem tolerados que podem reverter estas alterações, mas não aparecem por magia… É um tema que tem de ser abordado e discutido abertamente com o médico assistente, sem vergonhas ou pudores.
Ninguém tem vergonha de ir à consulta queixar-se de dores de cabeça ou de costas. Ou da tensão que está mais alta ou do colesterol que teima em não baixar. Mas, grande parte das mulheres com queixas génito-urinárias não se queixa e, infelizmente, muitas vezes os médicos também não perguntam, tão preocupados que estão com as outras doenças. Sim, as outras porque esta também é uma doença quando interfere com a qualidade de vida – e interfere sempre, especialmente quando as relações sexuais se tornam um momento de dor e sofrimento em que o único desejo presente é o de que acabe depressa.
Não chega ir à farmácia e pedir a quem está atrás do balcão que lhe venda um creminho ou um líquido de lavagem milagroso. Existem tratamentos muito eficazes e bem tolerados à disposição de todas as mulheres e que, com indicação médica adequada, permitem melhorar e otimizar as consequências da menopausa. Alguns possuem hormonas, outros não. Para algumas mulheres a hidratação local é suficiente, mas muitas vezes é necessário recorrer ao tratamento local ou sistémico. É importante que as mulheres, e os seus clínicos, não confundam os potenciais riscos da terapêutica hormonal sistémica (ou seja, aquela que aumenta os níveis sanguíneos de estrogénios) com os da local de baixa dosagem. Nenhum estudo realizado até à data com tratamentos hormonais locais de dose baixa revelou níveis hormonais superiores aos registados na pós-menopausa. Também é importante que as mulheres percebam que estes tratamentos são para fazer, assim como fazem o creme anti-rugas facial…
A importância de se falar neste lado mais íntimo da menopausa
É importante que este tema, de elevada intimidade, se torne público na discussão. Que se fale abertamente das queixas, seja no consultório médico, seja no chá das 5 com as amigas. Que não se ache que é suposto sofrer com os sintomas da menopausa. Que não se aceite nada menos do que o bem-estar e a satisfação plena da mulher e do casal. Porque merecemos. Todos.