O Instagram e a Autoestima

Cláudia Morais // Abril 10, 2018
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Pode a rede social Instagram condicionar a nossa autoestima? Numa altura em que selecionamos as nossas fotografias em função do que é ou não “instagramável”, vale a pena olhar para os bons exemplos que surgem das redes sociais.

Quando pensamos nas redes sociais e nas pessoas que seguimos habitualmente, talvez não nos demos conta de como é fácil entregarmo-nos a exercícios de comparação que nos puxam para baixo. Como alguns destes pensamentos não chegam a ser alvo da nossa atenção plena, nem sempre nos damos conta de como nos influenciam. É a modelo com o metro e oitenta que nunca vamos ter. É a atriz com as curvas inigualáveis. Ou a cantora cujo rosto parece ter sido desenhado à mão. Figuras quase perfeitas que admiramos e que, involuntariamente, nos levam aos ginásios e aos centros de beleza na ânsia de nos aproximarmos do seu patamar.

Com a chegada da Primavera e a aproximação das férias, os nossos corpos ficam cada vez mais expostos e à mercê da avaliação de terceiros. Se não nos mantivermos focados, é fácil entregarmo-nos a batalhas hercúleas em busca do corpo perfeito que nunca teremos e, nesse processo, talvez nem nos demos conta de como podemos estar a sabotar a nossa felicidade.

Exceções à regra

Quando abro o Instagram, sou inundada de fotografias bonitas, corpos esculturais, casas de sonho, paisagens paradisíacas… mas não só. Gosto de contemplar a beleza que está nestas imagens, mesmo que traduzam realidades muito diferentes da minha. Mas, gosto ainda mais de me cruzar com imagens que mostrem o amor nas suas mais diversas formas, incluindo o amor-próprio.

Entre as contas que sigo, há duas que se destacam claramente pela resiliência e pela capacidade de amar o próprio corpo apesar de todas as dificuldades. São dois grandes exemplos do que é ter autoestima e, talvez por isso, sejam também exemplos de sucesso nas redes sociais.

Lexi Reed está longe de ter o corpo perfeito que estamos habituados a ver em revistas de Moda ou de Fitness e, no entanto, a sua conta de Instagram, que conta maioritariamente com fotografias tiradas no ginásio, no final dos treinos, é seguida por mais de 700 mil pessoas. Em 2016, Lexi tinha obesidade mórbida e tomou a decisão de mudar de vida. Aproveitou a passagem de ano para passar a assumir um estilo de vida mais saudável. Graças à mudança de hábitos alimentares e à prática regular de exercício físico, num ano perdeu 137 quilos. As imagens do “Antes e Depois” são impressionantes e, por isso, tornaram-se virais. Mas, aquilo que mais me toca é a mensagem de otimismo que esta americana, de 27 anos, insiste em transmitir-nos. Lexi escreve com frequência que sempre entrou no ginásio de cabeça erguida, independentemente dos olhares que, certamente, enfrentou. Além disso, mostra sem pudores as imperfeições com que continuará a viver e que são o fruto do volume que um dia o seu corpo teve. Tem, certamente, ajudado muitos seguidores no caminho da autoaceitação e do respeito.

Turia Pitt é uma engenheira e triatleta australiana que foi vítima de um incêndio durante uma ultramaratona em que participou. Em resultado deste acidente, grande parte do seu corpo ficou queimado e os médicos disseram-lhe que jamais voltaria a correr. Também neste caso, as imagens do “Antes e Depois” são impressionantes e tornaram-se virais – só que pelos motivos inversos. O rosto de Turia ficou absolutamente desfigurado com as queimaduras roubando-lhe a beleza de capa de revista que tinha. Mas, esta não é uma história de amargura; Pelo contrário! Turia voltou a correr e é, hoje, uma autora e palestrante de sucesso, precisamente pela força e pelo amor-próprio que tem sido capaz de mostrar desde o acidente. Fala frequentemente em escolas, procurando motivar crianças e jovens a lutar pelos seus sonhos, por mais utópicos que eles possam parecer.

Conhecer – Respeitar – Cuidar

Falar de autoestima é falar de três “ingredientes”, essenciais para que sejamos capazes de gostar de nós na medida certa, independentemente das nossas limitações, independentemente da nossa bagagem afetiva ou das dificuldades que tenhamos de enfrentar: autoconhecimento, respeito e cuidado.

Conhecer

A melhor forma de contrariar os exercícios de comparação que nos diminuem e desgastam, é o caminho do autoconhecimento e da autoaceitação. Precisamos de parar para prestar atenção aos nossos sentimentos, às nossas necessidades afetivas, aos nossos gostos e interesses, às nossas qualidades, mas também às nossas limitações. Conhecermo-nos envolve tempo e a capacidade de nos comprometermos. Implica repararmos em todos os rótulos que se foram colando à nossa pele – desde o “preguiçoso” ao “desajeitado” – muito por conta das limitações dos adultos que nos criaram. Implica perdoá-los por isso e perceber que também eles deram o seu melhor. E, implica confrontarmo-nos com todas as coisas que não vamos poder mudar. Aceitarmo-nos tal como somos não é sempre fácil, mas facilita muito a nossa vida.

Respeitar

Parar para prestar atenção às próprias emoções e necessidades só é útil se implicar que façamos o que está ao nosso alcance para dizer “Não” a qualquer forma de desrespeito. E, o desrespeito começa em nós se insistirmos em fazer caminhos que não traduzam aquilo que somos e aquilo de que precisamos.

Cuidar

Quando Lexi Reed decidiu mudar de vida, estava a comprometer-se com hábitos que a poderiam conduzir a uma vida mais saudável. Não o fez para ficar mais bonita ou para conquistar alguém. Fê-lo por si. Cuidar do nosso corpo e da nossa mente é uma responsabilidade nossa, que às vezes dá muito trabalho. Mas, também é o caminho mais gratificante que podemos percorrer. Se olharmos para o exemplo de Turia Pitt, talvez consigamos perceber que é essa capacidade de continuarmos a cuidar de nós, mesmo quando tudo parece perdido e quando tudo dói, que nos salva. Neste caso, é fácil reparar como a autoestima e a felicidade também estão intimamente ligadas à capacidade de continuarmos a dar de nós, atentos às necessidades das pessoas que estão à nossa volta. Fazer bem aos outros faz-nos bem.

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