Pensar no crescimento dos nossos filhos, deixa-nos algumas vezes com um friozinho na barriga. Não propriamente pelo crescimento físico, porque esse, por norma, não nos preocupa, a menos que exista alguma patologia ou algum problema de saúde associado. Achamos que o crescimento físico acontecerá de forma natural e desde que consigamos que os nossos filhos se alimentem como deve ser, descansem, brinquem, corram e saltem, tudo acontecerá de forma natural e expectável. Aquilo que, por norma, nos inquieta é mesmo o crescimento a nível emocional e psicológico. Mas…
Afinal, o que é isto de crescer?
O que é que significa crescer? Crescer é ir ganhando cada vez mais ferramentas e competências para saber lidar com as várias situações que a vida nos vai colocando, sabendo reagir de forma adequada. É isto que é crescer.
Quando, perante determinada situação, os nossos filhos reagem de uma forma infantil para a idade que têm, dizemos: “É um bocadinho imaturo”; “Ainda não atingiu uma fase de crescimento que lhe permita entender esta situação e as respectivas consequências”. Por isso, o crescimento emocional e psicológico é algo realmente único e muito particular.
Cada um tem o seu próprio ritmo.
Não existem dois ritmos iguais. Cada um tem a sua forma de encaixar as diversas situações. O que nós – pais, família, amigos, cuidadores, educadores, professores – temos de cumprir, é dar-lhes ferramentas para que este crescimento seja saudável. Ou seja, para que seja um crescimento cumprindo e respeitando os seus timings.
Não se pode obrigar as crianças/jovens a crescerem mais rápido do que é suposto para a idade, mas às vezes a vida leva a que isso aconteça. Por exemplo, quando as crianças sofrem uma perda abrupta, muito forte e impactante – como a perda de um pai, de uma mãe ou de avós de quem era muito próxima – muitas vezes acabam por revelar um crescimento emocional precoce. Porquê? Porque vêm-se com vivências, papéis e competências que não era suposto serem as suas e isso faz com que cresçam mais rapidamente. Não era suposto, é verdade, mas com o devido apoio, a situação pode ser integrada e não tem, necessariamente, de se tornar um problema para a vida.
Crescer é sempre positivo.
Para mim, crescer é algo sempre positivo, mesmo que por trás esteja um acontecimento duro. Esse acontecimento apetrechou aquela criança, aquele jovem, com ferramentas para fazer diferente. E, por isso, deve ser encarado de uma forma sempre positiva. O ideal é que exista por perto quem ajude a integrar estas vivências da melhor forma.
Crescimento saudável é um crescimento acompanhado.
É importante que o crescimento seja aquele que respeita o ritmo da própria criança, mas o mais importante é que seja um crescimento saudável. E, o que quero dizer com isto? Que seja um crescimento acompanhado. Que tenha por perto quem vá colocando legendas, quem ajude a compreender as situações.
O momento que estamos agora a viver, é muito desafiante para os nossos filhos.
A pandemia, é um grande desafio para os nossos filhos. Eles também estão um pouco atordoados. Não somos só nós. Eles vêem as suas vidas todas viradas do avesso. Vêem-se impossibilitados de estar com os seus amigos, com os seus colegas, de frequentar a escola. Vêem-se confinados sempre às mesmas pessoas e ao mesmo espaço, e isto é duro. Mas, também vai levá-los a crescer. Desde que nós coloquemos as legendas no que se está a passar, os ajudemos a perceber a situação e passemos segurança e confiança.
No outro dia conversava com o meu filho sobre o difícil que está a ser ele cumprir as tarefas escolares em casa. Dizia-me ele com enorme consciência: “Mamã, eu ainda não estou adaptado a esta minha nova vida. Eu ainda não estou adaptado a que agora é em casa que eu aprendo e que estudo. Eu estou-me a esforçar, mas não está a ser fácil”. Esta resposta do meu filho deixou-me, primeiro, feliz por ele verbalizar o que sente e pela tomada de consciência. Segundo, preocupada pela noção do desafio que ele tem pela frente, com tempo alargado.
Uma coisa ficou para mim clara: ele já está a crescer mais rápido emocionalmente devido a esta pandemia. Ou seja, esta tomada de consciência acontece porque ele está perante uma dificuldade que provavelmente não se iria atravessar na sua vida. Em vez de achar, “O meu filho pode ficar traumatizado”, optei por pensar “O meu filho está a deparar-se com uma dificuldade maior e eu vou ajudá-lo a perceber que esta é uma situação que também custa aos adultos e que exige que todos encontremos outras ferramentas para nos adaptarmos e levarmos a vida para a frente”. O mais importante é que estejamos juntos e saudáveis. Depois cabe a cada um focar-se nas suas tarefas e cumpri-las para que consigamos todos ultrapassar esta fase da melhor forma. O que não é importante, e não ajuda nada, é que cada um se demita das suas tarefas sobrecarregando os outros. Porque os outros também estão ainda a procurar adaptar-se.
Portanto, tivemos uma conversa bastante construtiva sobre a situação actual, o que me fez perceber que estava a acontecer aqui um crescimento rápido. Estava a acontecer aqui um crescimento difícil para ele, tal como está a acontecer com todas as crianças, porque quando falo com as minhas amigas percebo que estão, exactamente, a viver a mesma situação dentro de suas casas. Por isso…
Temos de lidar com naturalidade com o crescimento dos nossos filhos.
Estarmos atentos para os ajudarmos a perceber as várias etapas, os vários momentos, pormos legendas nas situações e a partir daí deixá-los crescer ao seu ritmo porque esse é só deles. E, isso é muito importante que seja respeitado.
Nota: Fotografia por Verónica Silva