“O Gigante com pés de princesa” é uma história que um dia inventei para tentar adormecer o meu filho Martim. Ele não adormeceu, o que me levou a crer tratar-se de uma boa história. Todas as histórias que inventei para o Martim começavam apenas com um título, normalmente parvo, e depois era a minha imaginação a correr para tentar chegar a um fim que o deixasse feliz. Um gigante com pés de princesa pareceu-me parvo o suficiente. E depois comecei a correr.
Confesso que no momento em que comecei a contar e a inventar a história não estava a pensar em passar nenhuma mensagem em concreto, apesar dessa ser sempre uma preocupação nossa, minha e da Rita (a minha mulher e mãe dos meus filhos Tomás e Martim). Desde sempre que tentamos incutir aos nossos filhos os valores da igualdade, solidariedade, liberdade e empatia para com os outros. E a hora de ir para a cama, cá em casa, é sempre a altura para as conversas mais profundas. Parece que durante o dia nunca há tempo para pararmos e desfrutarmos da presença uns dos outros e é durante aqueles minutos em que eles querem sempre adiar o sono, que conversar lhes parece sempre melhor do que dormir.
Talvez tenha sido de forma inconsciente que surgiu a temática do bullying nesta história. Talvez porque também eu tenha sofrido do mesmo mal durante a minha adolescência.
Foram tempos difíceis aqueles quando tinha de ir para a escola sabendo que ia ter de enfrentar um bully que ameaçava bater-me todos os dias. Nunca contei aos meus pais, o que só contribuiu para prolongar a situação certamente. Mas naquela idade não queremos dar parte de fraco e a coisa acabou por se arrastar. Felizmente contei sempre com a ajuda da minha turma e o bully acabou por desistir por cansaço. Aquilo durou praticamente um ano inteiro. Era só terror psicológico, porque ele não chegou a vias de facto, mas teve um impacto tremendo em mim e no meu rendimento escolar naquele ano.
O Gigante com pés de princesa
O Tobias (é assim que se chama o gigante com pés de princesa) é alvo de bullying por grande parte da população da Grandelândia, a cidade dos gigantes. Todos fazem troça dele porque não tem pés com a dimensão normal para um gigante. E isso causa-lhe grande tristeza, isolamento, levando-o até a cometer um ato desesperado. Mas isso fica para quando lerem o livro. Garanto que tem um final feliz, mas só se tu quiseres.
Espero que este livro seja utilizado para levantar e debater esta questão em muitas salas de aula e que contribua para acabar com o bullying de uma vez. Ou como disse o Tobias:
“Os pés crescem, os dentes nascem, as borbulhas desaparecem. Tu és sempre tu. E não deixes que te digam que não és importante. Lembra-te que serás sempre GIGANTE!”
Nota: Fotografia por Carolina Prata