No meu mais recente livro “O frasco das memórias avós e netos – Ideias para fazerem juntos”, da editora Livros Horizonte, partilho algumas das ideias que resultaram de alguns anos no papel de avó. Posso garantir que todas as ideias foram testadas em netos de carne e osso. Aliás, a minha filha Ana Stilwell, mãe de quatro dos meus netos, garante que as filhas sobreviveram a esta avó! Por isso, e porque é de muito importante que avós e netos criem memórias, aqui ficam quatro ideias para lhe abrir o apetite para todas as outras que pode encontrar no livro.
O regresso dos álbuns em papel
Os nossos computadores e telefones estão atulhados de fotografias dos nossos netos, e até podemos ter tudo guardado em “nuvens” que prometem não desaparecer, mas a verdade é que um álbum em papel continua a ser outra coisa. Sobretudo se for feito em conjunto.
As possibilidades são infinitas, mas a nossa coroa de glória é aquela que intitulámos “Passeios com os avós”. Como o nome indica, referem-se apenas a visitas, viagens, fins-de-semana ou férias em que os pais não entraram.
Escolham as fotografias que têm mais significado e que não têm necessariamente de ser as melhores, mas as que contam mais histórias. Podem até estar desfocadas, mas se aquela fotografia é a que mostra como o neto chegou pela primeira vez ao topo do escorrega mais alto do parque, é essa que importa.
É essencial que as legendas das imagens contem a história do que se passou, onde foi, o que se retrata, e não se esqueçam da data.
Estes álbuns têm múltiplas vantagens: são divertidos de fazer e, depois, continuamos a revê-los em conjunto vezes sem conta.
Horticultor de janela
Não ter um quintal não pode ser desculpa para não os ajudar a perceber de onde vem o que comem à mesa. Os morangos e o tomate, por exemplo, crescem maravilhosamente em vasos, e até é possível plantar uma abóbora num vaso no canto da cozinha. Vai ver que tudo tem um sabor completamente diferente quando são eles a plantar, a pôr as estacas para ajudar a crescer e a regar com cuidado. Pronto, se calhar vai ter de comprar mais um quilo de morangos para juntar aos seis que crescerem em casa, mas não há nenhuma embalagem de supermercado que traga consigo tanto divertimento.
Acampar num quarto com ar condicionado
Se é dos que imagina que só se acampa ao ar livre, desengane-se. Nós provámos que se acampa mesmo muito bem dentro de casa; aliás, é mesmo onde melhor se acampa no pino do verão. Quando as gémeas tinham três ou quatro anos, armámos uma tenda na sala, com a ajuda de paus apanhados lá fora, montámos colchões e sacos-cama, até fizemos uma mala com pijama e escova de dentes. E, é claro, tínhamos lanternas. Durante o dia, almoçaram e lancharam em versão piquenique dentro de casa e, à noite, era proibido acender luzes e não podíamos ver televisão. Em vez disso, contámos histórias e conversámos até adormecermos. O avô preferiu dormir na cama dele, mas nesse dia decidimos não passar cartão às pessoas que continuavam a pensar que estavam dentro de uma casa normal, quando sabíamos muito bem que por cima das nossas cabeças não estava o teto, como parecia, mas as estrelas do céu.
Em busca de rainhas
A História de Portugal para netos é o tema de um capítulo inteiro do livro, em que, entre outras coisas, conto a história das sete rainhas sobre as quais já escrevi, e sugiro a melhor maneira de as apresentar aos seus netos. É importante que estudem o personagem que querem conhecer antes de embarcar na viagem, e depois lançar-lhes o desafio de a procurarem no lugar escolhido. Ou seja, se visita o palácio da Vila de Sintra, por exemplo, a ideia é estarem atentos apenas ao que diz respeito a Filipa de Lencastre e a sua família, deixando para outra oportunidade tudo o resto que há para ver. Os nossos netos só se interessarão por História, se perceberem que eram pessoas como nós, que contribuíram para que Portugal seja hoje aquilo que é.
Nota: a fotografia destaque deste artigo é da autoria de Jorge Simões.