O fascinante mundo das emoções

Inês Afonso Marques // Novembro 21, 2021
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emoções
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– Como te sentes?”

– “Bem.” “Assim assim.” “Muito mal.” “Mmmmmm…”

Este não pode ser o léxico emocional das nossas crianças e adolescentes! A Inteligência Emocional é a chave que abre portas à resiliência e que permite que uma criança construa um caminho para ser um adulto mais confiante e feliz. Falemos, então, do fascinante mundo das emoções.

Desempenhando as emoções um papel preponderante no nosso comportamento, nas nossas escolhas e reações, a Inteligência Emocional constitui uma área a que devemos dar atenção na educação de uma criança desde cedo. O filme da Pixar “Divertidamente” (no original “Inside Out”) ilustra de forma fantástica esta realidade. A Alegria, a Tristeza, a Repulsa, a Raiva e o Medo, transportam-nos para um painel de controlo no cérebro de uma menina e demonstram-nos como todas elas desempenham um papel crucial no comportamento e no pensamento, e em tudo o que ambos implicam. Este é um filme cuja visualização recomendo vivamente, para toda a família, e a partir do qual poderão emergir importantes reflexões e brincadeiras em torno do mundo das emoções.

Para ajudar uma criança a crescer confiante, feliz e resiliente, é muito importante, desde cedo, promover o desenvolvimento de ferramentas para que consiga identificar e nomear emoções que identifica em si e nos outros, para expressar as suas emoções de forma adequada e, também, fornecer-lhes estratégias para regular as suas emoções.

O uso eficaz das emoções permite que a criança ganhe maior controlo sobre situações desafiantes, aprenda a comunicar sobre os seus estados emocionais, expresse necessidades, desenvolva relações saudáveis com a família e os amigos, e alcance maior satisfação na escola, no trabalho e na vida.

Conversar sobre emoções em família é muito importante para o desenvolvimento da criança

Crescer num contexto de confiança, onde há espaço, tempo e recetividade para se conversar sobre emoções, permite que as crianças e os adolescentes desenvolvam uma relação adequada com esta dimensão das suas vidas, incentivando-os a expressar livremente aquilo que sentem e a ter oportunidade de empatizar com as experiências emocionais de outras pessoas.

A Inteligência Emocional é uma competência importante que deve ser desenvolvida com a ajuda dos pais, educadores e professores.

Uma meta-análise publicada em 2020 na revista “Psychological Bulletin” reforça aquilo que diferentes estudos nos últimos anos têm evidenciado: pessoas emocionalmente inteligentes apresentam melhores desempenhos nos seus trabalhos, são mais saudáveis e apresentam melhores índices de bem-estar. Adicionalmente, salienta que a Inteligência Emocional é uma competência importante a ser desenvolvida nos estudantes, como promotor do seu bem-estar e sucesso futuros, sendo efetivamente um poderoso preditor de sucesso académico.

Pais, educadores e professores: não podemos fechar os olhos a isto!

A Inteligência Emocional pode e deve ser promovida desde o nascimento.

O que implica saber?

  • Identificar e nomear emoções, em si e nos outros;
  • Expressar emoções de forma adequada;
  • Possuir e usar estratégias de regulação emocional.

Uma criança emocionalmente inteligente possui maior controlo sobre reações instintivas em condições de stress, sabe comunicar o seu estado emocional, desenvolve relações interpessoais satisfatórias, tem mais sucesso na escola, no trabalho e na vida. Ou seja, crianças emocionalmente inteligentes:

  • sabem reconhecer e dar nome às suas emoções;
  • reconhecem e compreendem o que os outros expressam e sentem;
  • têm maior capacidade de autocontrolo – agem, não reagem;
  • conseguem tranquilizar-se de forma mais autónoma;
  • têm uma mentalidade de crescimento, na procura de soluções face a contrariedades;
  • são mais criativas,
  • relacionam-se com os outros de forma satisfatória;
  • confiam mais em si próprias.

Vamos tratar as emoções por tu?

Não há emoções certas ou erradas, boas ou más, positivas ou negativas. Por vezes, tendemos a rotular emoções como a tristeza ou a raiva como “más” porque não gostamos de as sentir. Contudo, todas as emoções fazem parte de uma paleta de emoções que os seres humanos possuem e não existe forma certa ou errada de as experienciar. Julgar uma emoção como certa ou errada, boa ou má, positiva ou negativa pode conduzir-nos a um registo de sofrimento, pelo simples facto de nos estarmos a distanciar daquilo que estamos a sentir. É muito mais eficaz olhar para as emoções como confortáveis ou desconfortáveis, agradáveis ou desafiantes, mais ou menos ativadoras.

Nós não somos as nossas emoções; elas não nos definem. 

Pode acontecer quando experienciamos uma determinada emoção de forma prolongada, começar a olhar para ela como parte da nossa identidade. Por exemplo: “Sinto-me triste” como se dissesse “Eu sou a minha tristeza”. Recordemos que as nossas emoções são apenas uma peça de um complexo e enorme puzzle que somos. Sentir uma emoção desagradável não significa que somos essa emoção. A subtileza na escolha das palavras que usamos, pode fazer toda a diferença para a forma como realmente nos sentimos. “Sou uma pessoa triste” é muito diferente de “Sinto-me triste”. Acresce que sentirmos uma emoção desagradável não significa que haja algo de errado connosco ou que tenhamos feito algo de errado. Ajude o seu filho a reformular o discurso sempre que ele se definir como uma emoção.

Nós não nos livramos das emoções. 

Por vezes podemos cair na tentação de ignorar, acumular ou esconder emoções desagradáveis. Por exemplo, poderemos pensar coisas como “Não me posso sentir triste tantas vezes”, ou “Ninguém fica nervoso como eu.” Não nos podemos forçar a não ter emoções, na medida em que estas são respostas a eventos, internos (como uma memória) ou externos (como algo que se experiência ou que nos acontece). Entrar num registo de evitamento apenas faz com que aquilo que evitamos ainda se torne mais impregnado. Aceitar que, por vezes, essas emoções vão surgir, da mesma forma que aceitamos que os dias de chuva e vento surgem, apesar de preferirmos os dias luminosos e amenos, é mais eficaz do que tentar fugir delas.

Quanto mais procuramos não pensar em algo (geralmente porque causa algum grau de desconforto), mais esse tema surge como uma pipoca saltitante na nossa mente. Quer ver? 

  • Desafio 1: Durante o próximo minuto, pense em tudo o que quiser, exceto em elefantes cor-de-rosa às bolinhas amarelas. É proibido pensar em elefantes cor-de-rosa às bolinhas amarelas. Esforce-se por não pensar neles. 
  • Desafio 2: Durante o próximo minuto, pense em tudo o que quiser. Na eventualidade de lhe surgir no pensamento a imagem de algum elefante cor-de-rosa às bolinhas amarelas, repare nesse pensamento e deixe-o ir, como se fosse uma nuvem no céu.

Conclusões:

Qual dos dois desafios foi mais tranquilo? Em qual deles se sentiu mais relaxado? E em maior controlo? Em qual dos desafios teve de lidar com mais elefantes?

Esta é a importância de evitarmos dizer a alguém que se sente incomodado com um determinado assunto: “Para te sentires melhor, não penses nisso”. É uma estratégia muito pouco eficaz. 

Um determinado estado emocional não dura para sempre. 

Quando experienciamos a mesma emoção com frequência é fácil pensar: “Nunca vou deixar de me sentir zangada”, ou “Vou sentir-me triste para sempre”. As emoções surgem e desaparecem de forma natural e fluída, tal como as ondas do mar. A sua presença, por vezes, persiste porque escolhemos estratégias pouco eficazes para lidar com elas. Ainda assim, não só o tempo fará o seu papel, como podemos recorrer a estratégias de regulação emocional eficazes, que permitam tolerar melhor o desconforto e suscitar novas emoções.

As nossas emoções são únicas. 

Todas as pessoas são capazes de experienciar as mesmas emoções, mas as pessoas podem sentir diferentes emoções em resposta às mesmas situações. E cada pessoa pode experimentar a mesma emoção de forma diferente, consoante a situação.

E, em grande medida, como é que se aprende, pratica e testa isto tudo? Através do brincar!

Sugestão: “As emoções são parecidas com as ondas do mar”

Pegue numa folha de papel e desenhe ondas, enquanto fala com o seu filho sobre as emoções. Ondas grandes e ondas pequenas. Atribuam o nome de uma emoção a cada onda. Conversem sobre aquilo que observam no mar, na praia: ondas grandes, ondas pequeninas, ondas fortes, ondas suaves… Conversem também sobre as estratégias que usam para abordar as ondas: mergulhar, flutuar, surfar, apanhar a onda, saltar… Relacione o tema das ondas com o tema das emoções. Há emoções mais agradáveis e outras menos agradáveis. Há emoções que nos fazem sentir mais energia e outras menos energia. Às vezes surgem com intensidade e outras vezes quase nem damos por elas. Há emoções que nos fazem querer fugir e outras que nos fazem querer que persistam. Há emoções que ficam muito tempo e outras são muito breves.

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