Gosto do tempo em que se escreviam cartas e as caixas de correio traziam surpresas que vinham de longe. Surpresas que não eram anunciadas mas tantas vezes aguardadas com a ansiedade de quem espreita a chegada do carteiro.
Já se lhe conhecia “a volta” e o desânimo de à hora calculada não haver sinais do homem de quem já se lhe conhecia o nome.
Eu acho que aquela volta de correspondência o tornava um homem mais sábio. Quase adivinhava as dores e alegrias de cada casa e sorria e sofria com elas.
Eu acho que aquela volta de correspondência o tornava um homem mais sábio.
Não raro era perceber o olhar de cumplicidade de quem quer aliviar uma dor ou partilhar um sucesso que não era contado, antes persentido.
E o silêncio seguia com ele pese embora a curiosidade da vizinhança ávida de saber para poder contar num sussurro que se ia repetindo rua fora.
Aquele homem trazia os “abraços” que deixava em cada carta colorida tantas vezes a querer cheirar às rosas que não podiam ser enviadas. Trazia os segredos, os amores e desamores, as notícias ruins que se anunciavam com uma tarja preta a ferir um envelope branco, imaculado.
Receber uma carta era receber uma visita daquelas que vivem dentro de nós. Era acolhê-la no nosso melhor canto onde guardamos os afetos.
Hoje não se recebem “cartas”. As nossas caixas de correio são depósitos de envelopes que não trazem sorrisos… mas contas!
As caixas de correio foram bonitas e porque foram esquecidas envelheceram. Tal como acontece connosco se a vida se esquece de nós.
E se começássemos a escrever cartas?