O bê-á-bá do sarampo

Hugo Rodrigues // Fevereiro 6, 2019
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O sarampo é uma infecção vírica, que se transmite unicamente entre humanos. Dada a sua elevada contagiosidade, é fácil surgirem surtos/epidemias, pois a transmissão entre pessoas é extremamente frequente e rápida. Trata-se de uma doença muito pouco frequente em Portugal há alguns anos, motivo pelo qual pode passar despercebida. Assim, é importante conhecer os seus sintomas, de forma a ser mais fácil a sua identificação.

Manifestações

Nos primeiros dias de doença surgem sintomas pouco específicos e esta fase é designada de “pródromo”:

  • Febre – Caracteristicamente é muito elevada, sendo habitual atingir valores acima dos 40ºC. A sua duração é de 3-5 dias, em média.
  • Prostração – Este é um aspecto muito característico do sarampo, pois é frequente que as crianças infectadas estejam prostradas e com um ar claramente ‘doente’.
  • Olhos vermelhos/conjuntivite – É, provavelmente, a imagem mais típica da doença. Os olhos ficam muito vermelhos e é comum surgir dificuldade em lidar com a luz. Ao contrário das outras conjuntivites infeciosas, no sarampo não surgem secreções oculares.
  • Obstrução nasal e tosse – Uma vez que se trata de uma infecção respiratória, é comum surgirem manifestações de atingimento das vias aéreas superiores, tais como nariz entupido e tosse.

A seguir ao pródromo, surgem outras manifestações típicas da doença:

  • Manchas vermelhas na pele – Surgem ao fim de 2-4 dias e iniciam-se geralmente pela face. Aos poucos vão-se estendendo progressivamente para o tronco e membros inferiores, acabando por convergir em grande parte dos casos, dando um aspecto generalizado e “em toalha”. Duram, em média, cerca de 6-7 dias.
  • Pontos esbranquiçados na boca – Surgem cerca de 1-2 dias antes de aparecerem as manchas na pele. Localizam-se na parte de dentro das bochechas e são muito característicos do sarampo (manchas de Koplik). A sua presença ajuda muito no diagnóstico, embora possam não estar presentes em todos os casos e nem sempre sejam muito fáceis de observar.

O contágio faz-se através do contacto com gotículas respiratórias de pessoas infectadas, seja directamente ou então através de objectos contaminados. O período de incubação varia entre 6 a 21 dias. Os principais grupos de risco para esta doença são os bebés muito pequenos, que não podem ser vacinados, as pessoas que não estão vacinadas, ou então que têm esquemas incompletos de vacinação, e as pessoas imunocomprometidas.

Diagnóstico

Para fazer um diagnóstico de sarampo é preciso, em primeiro lugar, existirem os sintomas descritos. Sempre que houver contacto com algum caso de sarampo, torna-se ainda muito mais provável. No entanto, o diagnóstico definitivo só pode ser estabelecido com a pesquisa do vírus do sarampo nas secreções respiratórias, ou seja, após confirmação laboratorial.

Complicações

Esta é uma doença vírica, o que significa que se resolve naturalmente na maior parte dos casos. No entanto, pode ter uma gravidade significativa, podendo a sua mortalidade chegar aos 4-10% nalguns grupos de risco.

As complicações mais importantes a conhecer são as seguintes:

  • Pneumonia

Esta é a principal causa de morte, em crianças, relacionada com o sarampo. Deve suspeitar-se sempre que a febre se prolonga mais de 4 dias sem noção de melhoria, se surgirem sinais de dificuldade respiratória ou se a auscultação pulmonar assim o indicar.

  • Diarreia

É bastante frequente e, na maioria dos casos, não condiciona um risco significativo.

  • Infecções oportunistas

A infecção pelo vírus do sarampo pode provocar alguma diminuição das defesas, o que faz com que exista um risco aumentado de infecção por bactérias oportunistas.

  • Neurológicas

Este tipo de complicações são as mais temidas. O atingimento cerebral nesta doença pode surgir ainda na fase aguda ou então instalar-se mais tarde. Quando surge, tem sempre uma mortalidade elevada e uma probabilidade também alta de provocar sequelas. Um tipo particularmente grave de complicação neurológica é a panencefalite esclerosante subaguda, que é uma doença neurodegenerativa, progressiva e sempre fatal. Pode surgir até 10 anos depois da doença, o que a torna ainda mais assustadora.

Os grupos de risco para desenvolver complicações são os imunocomprometidos, as grávidas, os bebés pequenos, os idosos e todos os indivíduos que não estejam vacinados.

Prevenção

A única forma verdadeiramente eficaz de prevenir o sarampo é a vacinação. A vacina é extremamente eficaz e diminui drasticamente a probabilidade de desenvolver a doença. Para além disso, mesmo no caso de surgir doença em pessoas vacinadas, geralmente é uma forma atenuada de sarampo, menos grave e com muito menor risco de complicações.

O maior exemplo de eficácia da vacina é o número reduzido de casos que temos tido em Portugal, comparativamente com outros países onde as taxas de vacinação são muito mais baixas do que as nossas.

Por este motivo, é importantíssimo que todas as pessoas confirmem o seu estado vacinal e se informem junto dos seus médicos assistentes sobre a necessidade eventual de se vacinar. A prevenção é sempre a melhor opção e, se queremos manter as taxas baixas de sarampo em Portugal, é mesmo o caminho a seguir!

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