Novos relacionamentos em tempos de pandemia

Cláudia Morais // Junho 4, 2021
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Para quem está solteiro(a), a pandemia trouxe um grande desafio: Como é que se conhece pessoas novas? Como é que podemos socializar e, assim, aproximarmo-nos do objetivo de encontrar a pessoa certa para um relacionamento?

Se há algo que a pandemia nos trouxe foi a certeza de quão importantes são os afetos na nossa vida. Mais do que dos restaurantes, dos ginásios, das viagens ou de quaisquer outras formas de divertimento – essenciais para o nosso bem-estar e para a nossa felicidade – percebemos quão impactante é estarmos longe das pessoas que amamos. Não podermos tocar, abraçar, beijar os nossos pais ou avós foi, sem dúvida, o mais difícil para todos. E se é verdade que, para muitas famílias, o confinamento também representou elevados níveis de saturação e aumento da irritabilidade, não há dúvidas de que é infinitamente mais fácil passar por uma tempestade como aquela que o COVID-19 provocou acompanhados pela pessoa que amamos. Tal como demonstravam vários estudos feitos antes da pandemia, as pessoas casadas (e satisfeitas com a relação) são as mais felizes. Em tempos de pandemia, isso fez-se notar. Se, por um lado, a impossibilidade de sair de casa foi especialmente dura para as relações em crise e para as vítimas de violência, por outro lado, as pessoas solteiras enfrentaram o peso da solidão.

Como é que se conhece pessoas novas quando estamos obrigados a ficar em casa?

Somos seres altamente programados para construir laços afetivos e o amor romântico tem um impacto brutal no nosso bem-estar e na nossa felicidade. Mas, mesmo que reconheçamos a importância desta área da vida, como é que se dá a volta aos constrangimentos provocados pela pandemia? Como é que se conhece pessoas novas quando estamos obrigados a ficar em casa? E depois do confinamento, como é que lidamos com a ansiedade associada às medidas de segurança? Marcamos encontros de máscara? Arriscamos atravessar concelhos “só” para conhecer finalmente aquela pessoa que nos pareceu tão interessante na Internet?

Nos últimos meses tenho ouvido muitos desabafos de pessoas solteiras que viveram na pele o impacto do isolamento. Em muitos desses casos, a solidão foi colmatada pelas aplicações e sites de relacionamentos. O Tinder, uma das mais conhecidas apps de relacionamentos, bateu recordes em tempos de confinamento – nunca houve tanta gente a fazer swipe em simultâneo. Curiosamente, a empresa também anunciou que nas localidades confinadas as conversas passaram a durar mais tempo, o que mostra bem o impacto do isolamento social e a importância de falarmos com outras pessoas, mesmo que seja virtualmente. Claro que o propósito destas plataformas é promover o encontro presencial entre pessoas que estão à procura de um relacionamento e, por isso, também houve quem se fartasse de apenas socializar por via digital.

A importância de falarmos com outras pessoas em tempos de pandemia

No primeiro confinamento foi mais fácil: Tudo era novidade! Achámos graça aos copos que tomámos com amigos via Houseparty ou Zoom e os solteiros aproveitaram intensamente as videochamadas para conhecerem potenciais parceiros. Depois veio o Verão e voltou a ser mais fácil marcar encontros presenciais. O segundo confinamento foi mais duro e, por isso, houve quem se sentisse tentado a infringir as restrições. Há quem critique, quem aponte o dedo, quem se comporte como polícia de serviço. É fácil julgar os outros quando estamos numa posição infinitamente mais confortável.

Nas minhas consultas – que também passaram a ser virtuais – ouvi descrições de quem atravessou concelhos para viver um encontro romântico em tempos de confinamento. Nalguns casos as coisas correram bem, noutros a ansiedade tomou conta do momento. Afinal, como é que se pode relaxar quando nos sentimos apavorados com a ideia de sermos apanhados pela polícia no regresso a casa?

Um dos desafios que os utilizadores destas aplicações enfrentaram foi a diferença de valores associados ao Covid-19. Para algumas pessoas, tornou-se imperativo ter a certeza de que a outra respeitaria todas as medidas de segurança e assumiria uma postura cuidadosa perante esta pandemia. Para outras, se havia margem para um encontro presencial, também havia margem para estar com outras pessoas. Também por isso, houve quem adiasse ao máximo o encontro presencial.

Outro desafio esteve relacionado com as necessidades de cada um. As pessoas que mais sofreram com o isolamento social foram as pessoas habituadas a estar num relacionamento e que tinham terminado a relação há pouco tempo. O que acontece nas apps de relacionamentos não é muito diferente do que acontece no mundo “real”: Há mais pessoas interessadas em relações sem compromisso do que pessoas dispostas a investir num relacionamento sério. No entanto, no mundo digital isso tornou-se mais óbvio e – para alguns – desmotivante.

Claro que também há histórias felizes. Há quem tenha encontrado o(a) tal durante o confinamento, há quem tenha concordado em praticar o distanciamento social, exceto um com o outro, há quem tenha aproveitado os encontros virtuais para conhecer melhor o(a) potencial parceiro(a), há quem tenha aproveitado a impossibilidade de haver encontros presenciais para explorar a intimidade emocional.

5 Dicas para novos relacionamentos em tempos de pandemia:

1. Elabore a sua lista de valores. 

Antes de partir para a análise de qualquer perfil online, pare um pouco para refletir sobre aquilo que procura. Elabore uma “lista de valores” e organize-os de acordo com a importância. Gaste algum tempo a refletir sobre este assunto tão sério. O que é que é realmente importante para si? Que características é que um(a) parceiro(a) romântico(a) tem mesmo de ter? Depois, reflita sobre a sua própria experiência. A que sinais é que acha que pode estar atento(a)? Que perguntas vai precisar de colocar para perceber se a outra pessoa partilha os mesmos valores? Por exemplo, aquilo a que achamos piada diz muito sobre nós. Algumas pessoas sentem-se imediatamente retraídas quando percebem que a outra é capaz de brincar com assuntos que para si são sensíveis. Outras, pelo contrário, sentir-se-ão mais tensas perante alguém que não partilhe o mesmo sentido de humor.

2. Vulnerabilize-se. 

Não tenha medo de partilhar os seus sentimentos em relação aos assuntos que são importantes para si. Por exemplo, se a sua família é muito importante para si e isso implica que as suas escolhas sejam feitas com o objetivo de estar presente na maior parte das comemorações, faz sentido que partilhe essa característica. Se o trabalho for um dos elementos importantes para que se sinta feliz e realizado(a), assuma-o com clareza e honestidade. Se não se imagina a assumir o papel de pai ou mãe nos próximos anos, fale sobre o assunto com transparência.

3. Seja autêntico(a). 

No que toca à vontade de encontrar o amor, o medo pode complicar o processo. Quando uma pessoa se sente ansiosa perante a possibilidade de se sentir rejeitada, pode ser tentador mascarar a própria realidade. Por exemplo, algumas pessoas omitem, propositadamente, o facto de terem filhos com medo de serem automaticamente excluídas pela maioria dos potenciais parceiros. Mas será que vale a pena? A minha experiência mostra-me que não. A procura do amor não é um concurso de popularidade e a sua autoestima não pode estar dependente do número de pessoas que gostam do seu perfil.

É preferível ser claro(a) e honesto(a) em relação a quem é e àquilo que quer para si. Isso aproximá-lo(a)-á das pessoas certas e permitir-lhe-á investir apenas nas pessoas que estejam dispostas a aceitá-lo(a) exatamente como é. Mesmo assim, é possível que do outro lado haja quem não seja totalmente sincero e possa tentar iludi-lo(a).

Quando estiver a construir o seu perfil, lembre-se de que não há qualquer vantagem em criar uma personagem. Foque-se na minoria que lhe interessa, mostrando-se de forma autêntica. Isso vai livrá-lo(a) de uma carga de nervos quando partir para os encontros presenciais. Pelo contrário, se optar por incluir pequenas mentiras no seu perfil, sentir-se-á sob grande pressão quando tiver de se esforçar para que o seu Eu real corresponda às expectativas que o seu perfil online criou na outra pessoa.

4. Seja honesto(a) também nas fotografias. 

Não vale a pena publicar uma foto de há 10 ou 15 anos. Esse é meio caminho para que, num encontro presencial, a outra pessoa se sinta enganada e o momento fique irremediavelmente estragado. Experimente copiar a fotografia de perfil da pessoa que o(a) atrai e faça uma pesquisa por imagens no Google. Se a fotografia for falsa e tiver sido descarregada de outro site, você aperceber-se-á na hora e isso poupá-lo-á a um desgosto mais à frente. Se for verdadeira e essa pessoa tiver a mesma fotografia em mais do que uma rede social, você acabará por reunir mais algumas informações sobre ela. Preste atenção à possibilidade de as outras pessoas poderem fazer o mesmo consigo. Se não tem a intenção de partilhar os dados referentes ao seu trabalho, assegure-se de que a fotografia que escolher para este tipo de aplicações não é a mesma que utiliza no LinkedIn ou noutras redes sociais onde essa informação esteja disponível.

5. Marque encontros em segurança. 

Quando decidir marcar um encontro presencial, lembre-se de garantir a sua segurança. É importante que encare estes encontros com leveza, como um jogo, mas isso não significa que deva descurar algumas regras importantes:

  • Combine o primeiro encontro num lugar público;
  • Partilhe a sua localização com um familiar ou um(a) amigo(a);
  • Evite partilhar informações que possam ser utilizadas de forma abusiva;
  • Defina bem os seus limites. Seja claro(a) em relação a qualquer comportamento que considere inapropriado;
  • Confie no seu instinto: se alguma coisa lhe parecer errado com essa pessoa, provavelmente tem razão, mesmo que não consiga encontrar uma explicação suficientemente explícita.

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