Qualquer pessoa que já tenha estado doente (por exemplo com uma gripe) percebe que entre os vários sintomas da doença existe uma emoção desagradável associada com o “estar doente” – sentimo-nos deprimidos, quase infelizes.
Este estado emocional surge em resposta a uma inflamação aguda – a inflamação, como já vimos em textos anteriores, está relacionada com a resposta do nosso sistema imunitário a uma agressão viral ou bacteriana. Os nossos glóbulos brancos libertam substâncias (citoquinas pró inflamatórias) que vão chegar ao cérebro, através da corrente sanguínea, e vão provocar a sensação de doença.
O que alguns investigadores americanos foram pesquisar foi se existia uma relação entre esta inflamação e o “surto” de doenças depressivas que afligem as nossas sociedades, ditas modernas.
Já sabíamos que doenças que causam inflamação crónica generalizada – casos como os cancros, doenças reumatológicas e outras doenças prolongadas, aumentam em indivíduos sensíveis a possibilidade de estar deprimido. Mas entende-se que quem está constantemente com dores ou muito doente tem menos motivos para estar feliz.
É normal sentirmo-nos febris e por vezes enjoados quando estamos doentes, temos menos apetite, não apetece mexer muito e estamos mais irritáveis e, como tal, menos disponíveis para socializar. Se estamos doentes dormimos pior e temos pouca ou nenhuma vontade de estudar ou aprender coisas novas – e nesses dias que não nos chateiem muito. Estes sintomas são comuns e, felizmente na maior parte dos casos de gripe e doenças de curta duração, são rapidamente ultrapassados e esquecidos. Por serem comuns e até banais, têm sido até certo ponto ignorados como foco de investigação – mas são semelhantes a quem tem sintomas depressivos. Só que nestes casos não passam ao final de uns dias – antes pelo contrário, habitualmente pioram com o tempo.
O que os investigadores da Universidade do Ilinóis nos EUA descobriram, é que a inflamação é um acontecimento biológico importante e que aumenta o risco de episódios depressivos, tanto como os fatores ditos psicossociais: problemas económicos, desemprego, más relações amorosas e outros.
Fica a dúvida: o que nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? A pessoa está deprimida porque tem inflamação crónica? Ou tem inflamação crónica, sente-se “doente” e por isso está deprimida?
Mais importante do que desfazer esta dúvida científica é, cada um de vós, promover o “combate” à inflamação crónica. Nesse sentido é importante relembrar que este combate se faz através da alimentação (aumentar os já falados alimentos anti inflamatórios e retirar os que provocam a inflamação) fazer exercício físico regular e cuidar do corpo e mente: relaxar na natureza, sentir o calor do sol no corpo e, de preferência, em boa companhia.
Para a semana falamos novamente sobre inflamação e alimentação – vamos abordar o tema do chamado “síndrome do intestino poroso” – ou como o Dr. Mark Hyman (médico e autor americano) gosta de o chamar o síndrome do “sinto-me uma porcaria” (feel like crap syndrome).
Saúde para todos
José Fernando Santos
josefsantos@docnurse.pt
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