O fim-de-semana continua a ser, pelo menos para quase todos nós, o momento mais esperado da semana. É nele que depositamos muitas expectativas em relação ao descanso, ao lazer, ao tempo de estar com os nossos e até em relação a uma série de coisas que não conseguimos concluir durante a semana e que achamos que algures, durante o fim-de-semana, conseguiremos arranjar uns minutos para pôr tudo em dia.
O fim-de-semana é mesmo para fazer uma pausa.
Eu sou uma grande defensora de que, tirando as profissões em que se trabalha por turnos e/ou obrigam a trabalhar ao fim-de-semana, fim-de-semana é fim-semana. É mesmo uma pausa. É mesmo para deixar de lado o trabalho, as preocupações, a tomada de decisões, a resolução do que quer que seja. O fim-de-semana deveria ser sempre um período de pausa para que possamos recarregar a energia necessária para na segunda-feira regressarmos com uma capacidade acrescida.
Eu vivo o sábado e o domingo de formas bastante diferentes.
Quando entra o fim-de-semana, para mim, chegam dois dias vividos de forma bastante diferente.
O sábado é o entusiasmo característico do sábado. O saber que ainda tenho 48h livres pela frente, que ainda posso aproveitar muito bem aqueles dois dias, que ainda posso viver muitos momentos diferentes daqueles que vivo habitualmente durante a semana. Portanto, é um dia que, já por si, vem carregado de uma energia muito boa, muito positiva, muito luminosa. É no sábado que acabo por marcar encontros com os amigos, passeios e visitas aqui e acolá, exactamente pela noção de que se for um dia mais longo, mais cansativo e se eventualmente dormirmos menos, porque nos fomos divertir, temos sempre o domingo para recuperar. Portanto eu diria que o sábado é, para mim, o ponto alto das minhas expectativas.
Porque é que o fim-de-semana passa tão rápido?
A verdade é que quando damos por nós já estamos no domingo e perguntamos sempre: porque é que o fim-de-semana passa tão rápido? Porque é que o sábado parece que leva um acelerador, os minutos voam e rapidamente chegamos ao domingo? E, para mim, o domingo é um dia que se divide em dois. É um dia que vivo de duas formas diferentes.
Eu vivo o domingo de duas formas diferentes.
Até ao almoço, vivo ainda com um pouco do espírito de sábado, ou seja, com o pensamento que ainda posso aproveitar bem o dia, fazer várias coisas e com a sensação de que ainda é fim-de-semana. Porém, depois do almoço, por norma, o espírito altera-se um bocadinho. E porquê? Porque eu sinto que se inicia uma contagem decrescente para o fim deste período que nos foi dado para fazer uma pausa e estar, por exemplo, com as pessoas que mais gostamos. Porque os encontros de família acontecem, por norma, ao fim-de-semana e quando eles têm muito significado, efectivamente, o domingo à tarde já significa muitas vezes uma separação. E, de alguma forma, a partir dos meus 15 anos, fiquei com alguma nostalgia de domingo porque foi a altura em que a minha irmã foi estudar para fora, para Vila Real, em Trás-os-Montes, e nas poucas vezes que nos visitava era ao domingo que nos voltávamos a separar.
A nostalgia de domingo
Na altura, os transportes era muito reduzidos e a minha irmã levava um dia inteiro para chegar a nossa casa, no Barreiro. Ela visitava-nos três ou quatro vezes por ano e saía para Vila Real sempre ao domingo à tarde, ou seja, depois do almoço ia embora. E eu fiquei sempre com este sentimento de nostalgia em relação ao domingo porque era um dia em que me separava da minha irmã, uma pessoa que eu amo profundamente e, portanto, custava-me muito.
Nessa altura houve ainda outro período que coincidiu com a ausência do meu pai que estava a trabalhar em África, onde permaneceu 3 anos. E quando vinha passar uma temporada connosco, curiosamente, também era ao domingo à tarde que ele saía para o aeroporto. E então ficou este mesmo sentimento de alguma nostalgia em relação ao domingo à tarde. O dia em que nós nos separavámos e em que o fim-de-semana acabava.
Dar outra cor ao fim de tarde de domingo
Com o passar dos anos arranjei estratégias para dar outra cor ao fim de tarde de domingo, para que ele deixasse de ser nostálgico ou, pelo menos, para que não me trouxesse um sentimento de tristeza. Até porque, a partir de uma certa altura da minha vida, já não se justificava de todo aquela sensação. Hoje, quando a minha irmã me visita também é ao domingo à tarde que regressa a casa dela, mas já é um contexto diferente onde, apesar de estar longe, sei que posso pegar no carro e ir ter com ela. O meu pai regressou há muitos anos e felizmente permaneceu sempre perto de mim. Tudo é muito mais simples. Ou seja, as condições já não são as mesmas e o contexto também não, mas é preciso sempre ter o cuidado de fazer com que o domingo tenha sempre uma cor bonita até ao final do dia.
A verdade é que consegui arranjar as minhas estratégias. Vemos um filme juntos ao fim da tarde, embrulhados no sofá. Por norma é ao domingo que cozinho sempre o jantar com os meus filhos. Preparamos um “jantar da preguiça”, os três juntos. Outras vezes fazemos uma caminhada na natureza antes do jantar e isso é suficiente para o domingo ter a cor mágica do amor que nos une. Ou seja, consegui arranjar estratégias para que o domingo não soubesse a nostalgia, mas sim a união, a afeto e a partilha. Bom domingo a todos.
Nota: Fotografia por Verónica Silva