“Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar”
Há músicas que são hinos, “abre-olhos” ou viagens no tempo. Esta do António Variações consegue ser tudo.
O pedido de mudança é o principal motivo para se procurar um profissional de psicologia.
Uma relação tóxica, um vício, um emprego não satisfatório, a perda de alguém, um estado emocional que nos deixa desconfortáveis. Além disso somos cada vez mais incentivados a sair da zona de conforto, a arriscarmos e a pensarmos fora da caixa. Ou seja, mesmo que estejamos confortáveis/bem/acomodados, a mudança também é espicaçada. E ainda temos a máxima budista que considera a mudança como o estado mais permanente no universo. Recusar a mudança pode ser visto como estupidez, masoquismo e/ou preguiça. Assim, urge mudar e fazer diferente!
Sem dúvida que às vezes é imperioso mudar, principalmente quando comprometemos a nossa saúde física e psicológica. Contudo, devemos evitar uma mudança só pela mudança, sem uma observação cuidadosa. Como em tanta coisa que nos rodeia, a virtude está a meio. O Dr. Dan Siegel propõe um modelo interessante para nos guiarmos no “rio da vida”.
Cada margem deste rio tem algo muito importante para o nosso desenvolvimento: numa das margens encontramos o Caos e na outra Rigidez.
A mudança é um dos símbolos máximos de caos.
Avançamos para a novidade e não sabemos o que nos espera. Potenciamos novas rotinas, formas de estar, comunidades, aprendizagens… muito bom, enriquecedor e revigorante, mas não podemos permanecer indefinidamente neste caos.
Precisamos de estabilidade para organizar o novo.
Priorizar os valores aprendidos, descansar e contemplar o caminho feito e, daí, extrair sabedoria. Então aproximamo-nos da outra margem, onde a estabilidade e as certezas nos esperam. Mas, também aqui há um momento em que temos de abandonar o conforto… a estabilidade pode terminar em estagnação. E, eis-nos no porto de embarque para nova mudança. Assim, a mudança tem de ser observada, planeada, refletida.
A mudança tem de ser observada, planeada, refletida.
Não deve ser entendida como um ato impulsivo, que acontece num momento, ligando um interruptor. A mudança pode começar interiormente e depois de reunidas as condições é que acontece no exterior (a mudança de carreira, por exemplo). Outras vezes a mudança acontece fora e temos de nos forçar a aceitá-la (a perda de alguém importante, por exemplo). Estamos a falar de um processo, com fases e desenvolvimentos. Encarar a mudança apenas de forma radical, afasta os mais avessos à mudança, porque isso lhes é contranatura e o melhor é mesmo cerrar os dentes e aguentar seja o que for. Também pode desiludir os mais atrevidos que após mudarem de emprego, penteado ou guarda-roupa, não sentem assim nada de tão diferente. Fica a questão…
Como podemos identificar se o momento é ou não de mudança?
Recomendo como bússola a relação que estabelecemos com esse grande desconhecido que convive 24 horas por dia connosco: nós mesmos. E assim, o autoconhecimento torna-se a chave de tudo.