O que é preciso para que uma relação dê certo? De que forma é que a nossa bagagem afetiva, a forma como os nossos pais se relacionaram connosco na nossa infância, influencia a forma como nos relacionamos com os nossos parceiros românticos? O que é que determina a compatibilidade entre duas pessoas? Porque é que alguns de nós tendem a repetir os mesmos erros? Porque é que algumas pessoas parecem atrair sempre as pessoas erradas?
Quando ouço um casal numa primeira consulta de terapia conjugal, é como se estivesse a assistir a uma dança. Tal como um professor de dança é capaz de distinguir entre os passos que caracterizam um chachachá e aqueles que compõem um merengue, um psicólogo treinado é capaz de identificar os padrões de relacionamento de um casal. É capaz de observar a forma como cada um dá voz aos próprios sentimentos e necessidades, é capaz de observar o estilo de vinculação amorosa de cada um e porque é que alguns casais passam a vida em círculos viciosos apesar de todos os esforços que têm feito.
O que é a vinculação amorosa?
Claro que a maioria das pessoas que pedem a minha ajuda nunca ouviram falar de vinculação amorosa e estão longe de perceber a importância de conhecerem o estilo de cada um. Se tivesse de resumir este conceito, diria que o estilo de vinculação amorosa da pessoa que escolhemos é determinante para o sucesso da relação. Ainda que não haja estilos certos ou errados, a verdade é que algumas combinações simplesmente têm maior probabilidade de dar certo do que outras.
Já se interrogou porque é que algumas pessoas comem muito e não engordam enquanto outras têm tendência para engordar mesmo tendo uma alimentação cuidada? O que acontece é que as pessoas com metabolismo mais acelerado terão tendência para emagrecer, ao contrário do que acontece com as pessoas com metabolismo lento. Quanto melhor conhecermos a forma como o nosso corpo funciona, mais facilmente poderemos fazer escolhas conscientes que nos ajudem a ter a vida saudável que desejamos. Claro que quanto mais tempo perdermos em comparações inúteis com outras pessoas, menor é a probabilidade de nos focarmos no que realmente interessa. Também é assim com os estilos de vinculação amorosa: quanto melhor conhecermos o nosso estilo de vinculação amorosa, isto é, as nossas necessidades afetivas, aquilo de que precisamos numa relação, maior é a probabilidade de sermos felizes no amor. Dito assim, parece fácil, mas todos sabemos que as relações amorosas são desafiantes e, às vezes, complicadas. A verdade é que é igualmente importante que percebamos que, entre os diferentes estilos de vinculação amorosa, há alguns com maior probabilidade de serem compatíveis com o nosso e há outros que simplesmente vão implicar mais dificuldades.
Na minha prática clínica tenho observado muitos momentos em que as pessoas que pedem ajuda respiram de alívio quando percebem que muitas das dificuldades que têm enfrentado não têm a ver com a culpa de um ou com a culpa do outro. Têm a ver com o perfil de cada um e com as necessidades – às vezes antagónicas – que estão por detrás desses perfis. Quando os membros do casal aprendem a reconhecer essas necessidades e as valorizam na medida certa, a comunicação torna-se mais fluída e a probabilidade de a relação dar certo aumenta.
Manual do Amor
Quando decidi escrever o livro “Manual do Amor”, fi-lo com a intenção de partilhar o conhecimento que acredito que seja empoderador. Na prática, tratou-se da vontade de partilhar com todas as pessoas interessadas em melhorar a sua vida amorosa o melhor que a ciência nos tem oferecido nos últimos anos. Não poderia deixar de começar por explicar a importância da vinculação amorosa, a forma como o relacionamento com os nossos pais tem impacto no estilo que cada um desenvolve e, claro, os “segredos” para que possamos lidar com os desafios de cada estilo de vinculação. Partindo de casos reais com os quais espero que o leitor se possa identificar, procurei mostrar como pode ser relativamente fácil reconhecermos o estilo de vinculação amorosa de um(a) potencial parceiro(a) romântico(a) logo nos primeiros encontros e, assim, fazer escolhas que nos protejam e nos ajudem a encontrar a pessoa certa para nós.
Claro que num livro onde procuro partilhar ferramentas para “encontrar e manter a pessoa certa” não poderia faltar um capítulo sobre o amor-próprio e exercícios específicos que espero que o(a) ajudem no seu caminho de desenvolvimento pessoal.
Como tenho a consciência de que vivemos num mundo em constante mudança e no qual a forma como conhecemos pessoas novas também tem mudado consideravelmente, decidi partilhar o meu conhecimento a respeito das escolhas que nos podem ajudar a lidar com o desafiante mundo dos encontros românticos e das aplicações de relacionamentos. Sim, é cada vez mais fácil conhecer pessoas novas, mas é imprescindível que conheçamos as regras do jogo e que estejamos atentos ao que podemos fazer para evitar sofrimento desnecessário.
E viveram felizes para sempre?
Como o “Viveram felizes para sempre” só acontece nos filmes, no último capítulo do livro partilho os resultados das múltiplas investigações na área do amor romântico a propósito das escolhas que nos permitem manter uma relação viva e entusiasmante. Sim, todos sabemos que as relações precisam de ser alimentadas, que a comunicação é fundamental e que o sexo é aquilo que distingue uma relação amorosa de uma amizade, mas é essencial que conheçamos as ferramentas específicas que os casais felizes utilizam e que lhes permitem ter relacionamentos duradouros.Nenhum livro de autoajuda deve ser um manual de receitas com fórmulas milagrosas e este também não o é. Este é um livro que espero que o(a) incentive a sentir esperança – seja para encontrar a pessoa certa, seja para melhorar a relação que já existe – e a perceber que as suas escolhas são determinantes. Sim, no amor, tal como noutras áreas da vida, também é preciso ter sorte, mas cada um tem de fazer a sua parte.