Quando peguei no livro “Lá, onde o vento chora”, já tinha ouvido comentários muito positivos sobre ele. Diziam-me que era um livro diferenciador e transformador. Mas, ninguém me explicou exatamente no quê. Por isso, fui com uma expectativa moderada. Não esperava ler algo tão intenso e que mexesse tão profundamente comigo.
Este é um livro feito de uma profundidade difícil de relatar. Já aqui tinha recomendado esta fantástica leitura, mas, agora que já passou algum tempo, decidi que tinha de partilhar mais sobre o impacto que este inesquecível livro teve em mim.
Kya é uma menina que, desde muito cedo, aprendeu a lidar com a partida sistemática daqueles que ama.
E isto prolonga-se ao longo de toda a sua vida. Aos 6 anos, esta menina vê a mãe partir com uma mala e uns sapatos de crocodilo e vive os anos seguintes sempre na esperança que ela volte. Kya vê todos aqueles que ama, mesmo não a tratando bem, a partirem. É um ser que cresce dentro de um abandono a todos os níveis. Um ser feito maioritariamente de resiliência, resistência e com uma sensibilidade e doçura únicas.
A sensibilidade de quem cresce no colo da natureza, aproveitando a sua beleza e sem pedir nada em troca.
Desde os 6 anos, pouco ou nada sabendo da vida, Kya vai resgatando as poucas memórias que tem das pessoas que viviam consigo e com elas constrói-se e constrói a vida. Ou seja, ela vai buscar à natureza todos os recursos e todas as respostas. E é na verdade na natureza, que vai buscar forças para se conseguir erguer e levar a vida para a frente.
“Lá, onde o vento chora” é um hino à natureza.
Este livro despertou-me para sensações, cheiros, imagens, experiências que eu nunca vivi e que não tinha noção que poderiam ser tão impactantes. E à medida que o ia lendo, percebi que o meu contacto com a natureza não era tão profundo como eu julgava.
Com a sua mãozinha de criança, Kya conduziu-me pela profundidade da natureza. E o amor que eu fui sentindo era tão profundo, que conforme as páginas iam passando o meu coração enchia-se desta natureza.
A leitura deste livro deveria ser obrigatória para toda a gente.
Obrigatória para quem não tem nenhuma ligação com a natureza, para os que não a respeitam, para os que estão a precisar de aumentar a resiliência, para quem vive ou viveu situações de abandono e não as consegue arrumar dentro de si porque acha que são inultrapassáveis, para aqueles que passaram uma situação de bullying, de desrespeito, de preconceito e não foram aceites, nem tiveram oportunidades… A Kya passa por isso tudo e mostra de uma forma muito inteligente, sábia e pura, que há sempre uma porta para resolver todas as situações. Este é mesmo daqueles livros que deveria fazer parte das recomendações obrigatórias, principalmente para quem está num momento em que precisa de despertar, de ganhar forças e de ir buscar o melhor que tem dentro de si. Para quem precisa de descobrir as suas potencialidades, os seus próprios caminhos, que o levem ao equilíbrio e a uma vida que lhe faça sentido e que traga felicidade. E, isto é algo único para cada um.
“Lá, onde o vento chora” é uma bênção.
Há pessoas que ao lerem a história da Kya, provavelmente não vão atingir a sua profundidade por ainda não estarem preparadas. Vão apenas aborrecer-se com as descrições da natureza que compõe o universo de Kya – do contacto dela com as gaivotas, com os pássaros, com as plantas… Eu diria que essas pessoas estão uns passos atrás de uma evolução que devem fazer. Então, em vez de fugirem deste livro, acelerem o passo porque estão mesmo a precisar de descobrir uma conexão com a natureza e com elas próprias.