Precisei de uns dias para escrever este texto sobre a minha experiência na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Lisboa 2023. Quando a SIC me convidou para participar na cobertura deste evento aceitei com alegria porque, como católica, já achava que era uma iniciativa muito importante para quem partilhava a mesma fé.
A verdade é que aquilo que vivi, ao longo de cinco dias, superou tudo o que eu poderia imaginar.
O tema da Jornada, “Maria levantou-se e partiu apressadamente”, fazia-me antever que seríamos desassossegados pelas mensagens deixadas pelo Papa Francisco, com o objetivo de fazermos mais e melhor por nós, pelos outros e pelo planeta. O hino da Jornada, “Há pressa no ar”, convidava-nos a refletir sobre a nossa vida, sobre aquilo que nos move, a deixar o medo para trás e a abraçar Jesus que vive e não nos deixa sós:
Todos vão ouvir a nossa voz
Levantemos os braços, há pressa no ar
Jesus vive e não nos deixa sós
Não mais deixaremos de amar
Tu que andas à procura de ti
Parte à descoberta, vem ver o que eu vi,
Vem connosco, vem olhar para além
Daquilo que fazes
E que não te deixa sorrir e amar
Não olhes para trás,
Não digas que não
Ouve o teu coração
E parte, sem medo, nesta missão.”
O Papa Francisco chegou a Portugal apresentando-se como um peregrino de esperança que contava regressar rejuvenescido depois da Jornada. Descreveu Lisboa como a cidade do encontro e hoje ninguém tem dúvidas de que tudo isto se tornou realidade. Ninguém diria que o Papa Francisco, com os seus mais de oitenta anos, iria, dia após dia, sobrecarregar a sua agenda da forma como o fez. Mas foi isto que aconteceu.
Lisboa acolheu milhares de peregrinos do mundo inteiro, fantasticamente orientados pelos mais de 25.000 voluntários, as incansáveis forças de segurança e o pessoal médico, presente sempre que surgia alguma necessidade. Lisboa estava em festa como nunca se viu. As principais artérias da cidade pareciam pequenas para receber tanta gente, tanta alegria e entusiasmo. A Cerimónia de Acolhimento, na Colina do Encontro, representou o primeiro momento de encontro entre os jovens e o Papa Francisco. Nunca vi tanta gente emocionada por ver Sua Santidade chegar ao espaço de um recinto. Muitos jovens cantavam, choravam, rezavam, com uma alegria que me encheu o coração.
O Papa Francisco queria que este momento deixasse sementes que trouxessem mudança e, por isso, no seu discurso disse: “Deus ama-nos como somos agora e não como queremos ser (…). Na igreja há espaço para todos, todos, todos”.
Esta mensagem provocou uma emoção gigante entre todos os presentes. Na Via Sacra, outro dos momentos de encontro do Papa Francisco com os jovens, pediu-nos que “cada um de nós diga a Deus porque chora na vida. Depois do sofrimento há que deixar que a nossa alma volte a sorrir”. Na passagem para o Parque Tejo, estava preparada a Vigília e aí percebeu-se que o número de peregrinos que tinha sido calculado para este evento, afinal poderia mesmo ser real.
Imaginem a energia, o amor, a alegria e a fé de um milhão de pessoas juntas, movidas pelos mesmos sentimentos e propósitos! Cada um com a sua história de vida, com a sua jornada, os seus sonhos, mas todos movidos pela vontade de terem Cristo mais presente nos seus caminhos.
Na vigília, o Papa Francisco deixou várias mensagens que me tocaram muito: “A alegria é missionária. Então eu tenho de levar essa alegria aos outros. Vamos fazer um momento de silêncio para pensarmos naqueles que nos deram algo na vida, que são raizes de alegria. Como nos podemos converter em raizes de alegria?”. E mais à frente disse: “Só há uma coisa grátis: o amor de Jesus. Então com o amor de Jesus grátis e com vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos para as nossas raizes e sigamos adiante, sem medo, sem medo. Não tenham medo”. O tema do medo foi recorrente em todas as intervenções que o Papa Francisco fez no nosso país. A começar no discurso aos jovens universitários, quando lhes pediu que não fossem administradores de medos, mas sim empreendedores de sonhos.
O último dia da JMJ encerrou com a Missa do Envio, também no Parque Tejo, e que recebeu um milhão e meio de peregrinos. Que imagem linda! Que emoção ver tantas pessoas diferentes juntas, numa harmonia maravilhosa. Sem guerras, nem quezílias. Nesta última vez que se dirigiu aos jovens, e antes de cada um partir na sua missão, o Papa Francisco deixou indicação daquilo que devemos fazer na nossa jornada: resplandecer, ouvir e não temer. Todas as suas palavras são sábias e o amor com que se dirigiu a todos nós, em especial às crianças, às pessoas portadoras de deficiência e a quem está numa condição de fragilidade, fez-nos perceber que a vida só ganha sentido se dermos as mãos e caminharmos juntos.
Por tudo o que vivi nesta JMJ Lisboa 2023, digo com alegria que foi a mais bonita e intensa experiência profissional que já vivi.
Estou tão grata por ter tido a felicidade de lá estar. Hoje sinto bem forte no meu coração as palavras do Papa Francisco:
Tornamo-nos luminosos quando aprendemos a amar como Jesus.”