A Páscoa é uma altura em que as famílias cristãs procuram estar juntas. É uma época em que sentimos que a celebração do amor em família, é uma necessidade nossa. Não é uma imposição do calendário. Somos nós, que, pela educação religiosa que recebemos, vivemos a urgência de estar juntos e de partilhar. As alegrias e as tristezas. Partilhar não é carregar o outro, como muitas vezes as pessoas pensam. Partilhar, com humildade e amor, é dar ao outro a oportunidade de nos dar a mão, de nos ajudar, ou tão simplesmente, de nos abraçar. É verdade que agora não nos podemos abraçar fisicamente, mas podemo-nos abraçar na forma como nos damos ao outro.
Um momento de profunda reflexão e introspecção.
Aqueles que são católicos vêem nesta época, um momento de profunda reflexão. É, sem dúvida, dos períodos em que mais sentido faz perceber que valores orientam a nossa vida e o que podemos melhorar no nosso dia-a-dia para sermos, efectivamente, melhores pessoas. De nada serve viver a Quaresma como um período de jejum, orações e penitências e logo a seguir, voltar a ser a mesma pessoa, egoísta, centrada nela própria e totalmente indisponível para o outro. O mesmo se aplica a quem vai à missa todos os Domingos e mal põe o pé fora da igreja, já está a criticar este ou aquele por questões sem qualquer importância.
Jesus deixou-nos os maiores ensinamentos de humildade, que poderíamos ter, como por exemplo, o gesto do lava pés aos seus discípulos. Todas as suas palavras e ações mostram o valor do respeito pelo outro, a importância da gratidão e a necessidade da aceitação. Uma série de valores extremamente importantes e que devem orientar sempre as nossas vidas. Para aqueles que não param muito para pensar onde estão estes valores nas suas vidas, façam desta época da Páscoa uma época de introspecção. Pensem naquilo que significa a Páscoa, o período da Quaresma e apliquem esses mesmos ensinamentos às vossas vidas.
Estamos confinados às nossas casas, privados do contacto com a família, para além daquela que vive connosco, por isso, esta pode ser uma oportunidade de fazer da restrição um renascimento.
Uma oportunidade de fazer do menos, mais.
Temos menos pessoas, mas temos mais oportunidades para ir mais fundo nas nossas reflexões e nas nossas conversas. Podemos fazer da Páscoa e da refeição que, normalmente, as famílias fazem no Domingo de Páscoa, uma oportunidade de falar sobre estes valores que devem reger a nossa vida.
E para aqueles que, neste momento, estão muito angustiados por não poderem visitar os familiares, nem se poderem reunir com eles no Domingo de Páscoa, tentem estar lá mesmo nesta impossibilidade física de estarmos juntos. Desde videochamadas durante a refeição, onde vão conversando. Ou ainda fazerem as orações juntos, por videochamada. Podem ainda combinar que um de vós fica responsável por pensar uma mensagem, escrever um texto, escolher uma passagem da Bíblia, ou de outro livro, que vos faça sentido e partilhar durante esse contacto com a família, permitindo que todos participem na conversa. E até para aquele familiar que vive sozinho, sem acesso às tecnologias e que íamos sempre visitar nesta época, podemos ligar a um vizinho e pedir-lhe que redija a carta que lhe vamos ditar e a vá deixar àquela pessoa que amamos.
Que esta Páscoa seja um Renascimento para todos nós.
A Páscoa é um período de renascimento. É um período para começar de novo. Mas, um começar de novo diferente. Um começar de novo melhor. Um começar de novo mais capaz de servir, de ajudar, de ver e estender a mão ao outro. Isto é a Páscoa. E isto pode ser feito em quaisquer circunstâncias. Com pandemia ou sem pandemia. Mas, se calhar é com a pandemia que muitos de nós vamos aprender que estes valores não são só na Páscoa… são mesmo para a vida toda.
Nota: Fotografia por Verónica Silva