Temos observado um aumento de casos em que a causa de a gravidez não acontecer resulta de fatores masculinos. Podemos considerar que, atualmente, é tão frequente como a causa feminina. Por isso, é importante que na consulta esteja presente o casal. E, felizmente, temos atualmente os homens presentes na consulta.

Porque há atrasos na deteção de um fator masculino?
As razões que mais frequentemente contribuem para o atraso da deteção de infertilidade de causa masculina são:
- A existência de um filho duma relação anterior e o problema é imediatamente atribuído à mulher… Mesmo no próprio casal, podem ocorrer dificuldades para um segundo filho, e, quando se investiga concluímos que afinal a causa é masculina;
- Um espermograma realizado anteriormente e que não foi criterioso – o exame da avaliação das formas normais de espermatozoides é difícil e subjetivo. Idealmente, deverá ser realizado num Centro que realize técnicas de fertilização in vitro. Os critérios de avaliação são muito rigorosos para cumprirem com os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS);
- Existe uma causa atribuída à mulher: ciclos irregulares, endometriose, por exemplo.
Em todas estas situações, não nos devemos iludir e propor a avaliação masculina.
Como é feita a avaliação da fertilidade masculina?
A avaliação masculina passa pela realização de um espermograma, onde é feita uma contagem do número total de espermatozoides, mobilidade e formas normais.
Desde 2010 que foram atualizados os valores de referência: são apenas necessários 4% de espermatozoides com formas normais para que se considere normal, não ultrapassando habitualmente os 15 a 20% de formas normais. Em mais de 15 milhões de espermatozóides, é normal existirem muitas formas alteradas: 2 caudas, caudas partidas, cabeça alterada… entre outras.
Num estudo multicêntrico, a OMS chegou a este critério de “normalidade” com a maioria dos casais a conseguir a gravidez no espaço de 1 ano.
Quando os valores são inferiores, temos de explicar que, também com esses valores, a gravidez também aconteceu, mas com uma frequência menor. Só é mesmo preciso 1 espermatozóide para fertilizar o ovócito.! A estatística é que nos diz que a probabilidade de isso acontecer é que é menor… mas não impossível.
Há um declínio da fertilidade masculina nos últimos anos?
Tem-se verificado, nos últimos anos, uma diminuição da qualidade dos espermogramas nos dadores de espermatozóides, que podem dar uma ideia do que se passa na população em geral.
Numa revisão de 101 estudos publicados, correspondentes a dados colhidos durante 62 anos (de 1938 a 2000), verificou-se um declínio na concentração média do espema nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa. A média anual de declínio foi entre 1,5% a 3,1% por ano!

Posteriormente, outro estudo em França confirmou estes dados.
Qual é a razão deste declínio?
As alterações do estilo de vida, conservantes alimentares, hormonas presentes no ambiente, radiações que os homens estão expostos, sem o saber, são responsáveis por este declínio.
Por exemplo: o Bisfenol A, que tem ação estrogénica e antiandrogénica, o que é contraproducente à fertilidade masculina, é uma substância química presente nos plásticos, que é um disruptor das glândulas endócrinas. Um estudo interessante da Universidade de Granada, de 2019, demonstrou que está presente em 90% dos tickets e recibos de impressão térmica que manipulamos todos os dias! Os níveis foram 30 a 100 vezes superiores ao nível máximo recomendado pela Comunidade Europeia. No Japão está proibida a utilização destes papéis desde 2001.
Outro exemplo está relacionado com o WiFi, que demonstrou provocar uma redução da mobilidade e um aumento da fragmentação do DNA dos espermatozóides após uma exposição de 4 horas diárias. Assim, é de evitar a utilização de portátil sobre as pernas ou o uso de smartphones com WiFi ligado no bolso das calças…

Para além disso, também o álcool e o tabaco podem alterar a fertilidade masculina.
Como podemos prevenir?
A Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução lançou a campanha “Cuida da tua fertilidade” com vista a promover a fertilidade.
Como Sociedade Médica que envolve os profissionais desta área, julgou-se importante alertar todos para questões que podem comprometer a fertilidade.
É o caso do tabagismo, álcool, excesso de peso e a idade em que se pondera a gravidez, fatores que podem ameaçar a fertilidade dos casais.
Como tratar?
Quando identificamos fatores envolvidos na infertilidade masculina, como o tabaco ou exposição a tóxicos, devemos recomendar que sejam evitados e promover hábitos de saúde saudáveis.
Quando a alteração não é muito significativa podemos obter a gravidez por um processo de inseminação intra-uterina. Os espermatozóides são concentrados em laboratório e inseminados com um pequeno cateter no útero, na altura em que se programou a ovulação.
Quando a alteração é mais acentuada o tratamento passa por uma forma de fertilização in vitro, a ICSI, em que se faz a microinjeção do ovócito com um espermatozóide com características normais (em laboratório).
