É frequente os meus doentes atribuírem ao envelhecimento a responsabilidade dos seus sintomas. Curiosamente são os que ainda não têm idade que o justifique, que mais se queixam “da idade”. Sem dúvida que a IDADE NÃO É UMA DOENÇA.
Ao contrário do que muitas vezes se ouve dizer, a esperança média de vida na Europa continua a aumentar. Na maioria dos países, os 80 anos são uma marca facilmente superável, face à melhoria dos cuidados médicos, à melhoria da educação e estatuto sócioeconómico da generalidade da população. Assim podemos com confiança olhar para um outro indicador que são os “anos de vida saudável”. Um indicador que pretende avaliar quantos destes anos “extra” são aproveitados sem limitações infligidas por doença. Portugal é um dos países com índice de envelhecimento maior, o que significa que temos cada vez mais pessoas idosas. Só que no índice de anos de qualidade de vida, aparecemos infelizmente como um dos países menos bem qualificados, em especial as mulheres portuguesas, que podem esperar viver mais anos que os homens, mas terem problemas de saúde e logo limitações, mais cedo e com isto perder anos de qualidade de vida.
Uma das pessoas de quem mais gostei de ser aluno na faculdade, o Professor Gorjão Clara, médico especialista em Geriatria, a área da medicina que se dedica ao envelhecimento, explica que: “ser velho não é ser doente. Os velhos adoecem porque têm doenças e não porque são velhos”.
O mesmo tento passar aos meus pacientes, que se “encostam” ao mito de que envelhecer é perder capacidades, em especial as intelectuais como a capacidade de memória ou aprendizagem. A principal causa da perda intelectual e física é o desuso. Cérebro e músculos precisam de ser exercitados diariamente. Não podem ficar à espera de uma descoberta científica ou remédio milagroso que cure os problemas da idade. Até porque esse tratamento já existe e chama-se desfrutar da vida, vivendo-a ao máximo.
Sem dúvida que Portugal precisa de investir mais dinheiro e recursos na área da prevenção de muitas doenças que ainda limitam os nossos “anos de qualidade” mas acima de tudo cabe a cada um de nós, preocupar-se com isso e desde cedo. Um dos meus avós emprestados (doentes que simpaticamente me adotam para as suas famílias) ensinou-me: “as coisas estimam-se desde novas” e se isto é verdade em relação a um eletrodoméstico ou carro, será ainda mais verdade para o nosso corpo. Precisamos de olhar para ele com atenção e carinho e dedicar tempo a cuidar do “veiculo” que nos vai transportar ao longo dos próximos anos. O nosso corpo para estar bem precisa de ser estimulado física e intelectualmente.
O relatório da OCDE de 2016, diz que em média em Portugal uma mulher vive cerca de 29 anos com incapacidade antes de morrer! Um número preocupante e algo assustador. Vivemos cada vez mais, mas nem sempre melhor e a verdade é que está nas nossas mãos e não de qualquer politico ou governo, decidir qual vai ser o nosso nível de saúde. O melhor é começar já!
Estamos à beira de um novo ano: peça ajuda ao seu médico e faça um verdadeiro plano de saúde, daqueles que não se pagam mensalidade, mas com o qual tem de se comprometer e dedicar tempo: planear as principais refeições, fazer exercício diariamente, definir tempo para estar com amigos a DIVERTIR-SE, praticar técnicas de relaxamento simples e dormir horas suficientes. Assim vai ter um plano de rejuvenescimento e ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL.
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Dr. José Fernando Santos
Josefsantos@docnurse.pt