Este não é um tema fácil. Muito do nosso sofrimento, angústia, desilusão e mágoa, é consequência de fazermos filmes errados ou fantasiarmos à volta dos personagens da nossa vida. Tanto na vida pessoal, como na profissional ou familiar, convém sonhar com os pés na terra.
Sonhar com os pés na terra.
É importante e benéfico fazer planos, ter ambições, semear as sementes exactas daquilo que queremos colher, mas sempre com uma noção clara da realidade.
Gestão de expectativas em relação…
… ao trabalho:
Se temos uma postura acomodada no trabalho, limitando-nos a executar o que nos é pedido, sem entrega nem brilho, não vale a pena ter a expectativa de que vamos ser promovidos ou aumentados. Na verdade pouco fizemos para o merecer. Estas distinções são consequência de empenho e brio. Se não o temos, é natural que fiquemos fora do quadro de honra de uma empresa.
… às relações:
O mesmo se passa nas relações. Se nunca temos tempo para o outro, se não dedicamos alguma da nossa atenção a quem amamos, se não mimamos nem cuidamos, como podemos ter a expectativa de que o façam por nós? Dificilmente vai acontecer. Aliás pode acontecer algumas vezes, mas o tempo acabará por trazer o desgaste natural a quem dá, mas nunca recebe.
… aos outros:
Outra das situações em que é comum as pessoas sentirem que as suas expectativas saíram defraudadas, é quando olham para o outro a partir das suas vivências. Em palestras que já dei a grupos de jovens, onde abordámos o tema da relação pais e filhos, pediram-me explicações sobre determinados comportamentos dos pais. E, foi preciso levá-los a analisar as suas expectativas para perceberem que esperavam dos pais gestos e atitudes que eles não estavam habituados a ter. Não tinham sido ensinados e, por isso, não tinham essas competências. Era mais fácil olhar para as capacidades e incapacidades dos pais e aceitarem-nos na sua condição humana, procurando terrenos onde pudessem caminhar juntos.
… à própria vida:
Por fim, quero falar da gestão de expectativas em relação à própria vida. Muitas vezes espera-se que o novo ano traga tudo aquilo que achamos que a vida ainda não nos trouxe. Apetece-me dizer logo: calma! Se tudo se concretizasse num ano, o que faríamos a seguir? Há pessoas com pressa de viver e de conquistar. Nem chegam a saborear o que concretizam, porque assim que alcançam um objectivo, já estão a direcionar a agulha para o próximo. E, se as coisas não acontecem nessa velocidade estonteante, sentem as suas expectativas defraudadas.
Se calhar o melhor é baixar as expectativas para um nível mais real e apostar em desfrutar de cada pequena grande conquista da vida.
Seja ela abraçar o seu pai ou mãe que tanto ama, mas com quem tem uma relação distante ou ter, finalmente, oportunidade de trabalhar no que sonha.
Nota: Fotografia por Verónica Silva.