Num momento em que muito se fala de amor, de família, de concretização pessoal e profissional, é quando, entre somas e ganhos, mais se sentem as perdas e nos confrontamos com emoções que nem sempre sabemos lidar.
Se repararmos, todos os “pilares do ser humano” são colocados em cima da mesa nesta fase do ano: a família, os relacionamentos (a começar pelo próprio) e o trabalho. Com a exigência acrescida de “fazer o que ainda não foi feito e dizer o que ainda não foi dito”, podem surgir conflitos internos e externos.
Afinal, porque sentimos esta “(re)pressão emocional”?
Durante muitos anos disseram-nos para sermos fortes e não chorar, um sinal de fraqueza. O que aconteceu, com a evolução dos tempos é que não nos preparámos para lidar com a vulnerabilidade. Ao reprimirmos o que sentimos, muitas vezes por opção ou força das circunstâncias que nos pedem para não ceder a nenhum custo, o que acontece é que no momento em que surgem emoções à flor da pele e estas se manifestam fisicamente ou em doenças, não sabemos como sair desta espiral de negatividade e damos por nós a ter pensamentos e comportamentos que não são os que mais desejamos.
Como desenvolver um maior autocontrolo em situações de conflito?
Neste ponto é importante distinguir “repressão emocional” de “autocontrolo”. No primeiro caso, não nos permitimos sentir, é como se colocássemos uma barreira à frente da emoção, não a deixando entrar. Quando falamos de autocontrolo significa permitir que a emoção se expresse e ter a capacidade de escolher como reagir.
Primeiro, é fundamental reconhecer as emoções, dando-lhes espaço e tempo para que se expressem. Depois, observar a(s) parte(s) do corpo em que as sentimos. Atribuir nomes e investigar a origem: perceber que crenças, traumas e experiências nos estão a gerar o gatilho emocional. A partir do momento em que começamos a exercitar a nossa mente para reconhecer um padrão, mais facilmente seremos capazes de “recuar” perante o impulso de agir em resposta imediata a uma emoção gerada em determinado contexto.
Como evitar conflitos?
Há uma premissa que gosto de salientar: tudo é sempre sobre nós. Os conflitos existem para despoletar muitas vezes o que não queremos ver. Geralmente atribuímos a responsabilidade ao outro, pelo que nos disse ou fez sentir. Julgamos e queixamo-nos. O que percebemos ao desenvolver um maior autoconhecimento e maturidade emocional é que apenas podemos controlar os nossos pensamentos e ações, assim como a forma como nos sentimos em determinada situação. Se alguém nos irrita com uma certa atitude, será que essa é uma atitude que também temos e não queremos reconhecer? Por exemplo, uma pessoa que gosta de “tudo à sua maneira”, quando alguém não corresponde, irrita-se, porque alguém não correspondeu à expectativa da sua realidade. A questão está muitas vezes na aceitação do outro com todas as diferenças que fazem parte da sua personalidade única. Mesmo quando não concordamos, podemos fazer o exercício de questionar: qual era a intenção? Há um pressuposto da PNL que diz que “todo o comportamento tem uma intenção positiva”. Isto pode ser difícil de concordar em determinadas situações, mas se analisarmos bem, efetivamente todos temos as mesmas necessidades básicas de pertença, ser ouvidos, vistos, reconhecidos e amados. Todos, à nossa maneira, quando entramos em conflito, queremos que estas necessidades sejam colmatadas.
Então, para evitarmos conflitos que gerem mágoa ou desentendimento é importante sabermos reconhecer o que a emoção ou situação nos está a espelhar e escolher comunicar eficientemente.
Qual a importância da comunicação empática?
Ao nos relacionarmos, seja em que esfera da vida for, há um elo que nos une: a comunicação. É através dela que criamos relações. E a comunicação não é apenas verbal. Um olhar, uma expressão, uma postura: tudo é comunicação. Todo o nosso corpo comunica, mesmo que em silêncio. E o silêncio é muitas vezes uma resposta mais válida do que as palavras (por muita importância que tenham). Ao ouvirmos antes de falarmos, estamos a criar tempo e espaço para escolher a forma como lidar com a situação. Além disso, por vezes a pessoa só precisa de falar para se ouvir e chegar às suas próprias conclusões. Quando não “ripostamos”, permitimos que a vida responda naturalmente e preservamos os limites saudáveis. Isto não significa não comunicar o nosso ponto de vista, mas escolher o melhor momento e forma para o fazer.
É importante sabermos que o caminho do autoconhecimento e de uma maior consciência e maturidade emocional se faz dia após dia, experiência após experiência e ano após ano. Além disso, todos estamos a lidar com desafios. Todos somos humanos. Todos sentimos e, em algum momento, ficamos sentidos.
Por isso, que esta seja uma altura para nos permitirmos expressar as emoções de uma forma leve, consciente e com amor por nós e por quem nos é próximo.