Esta é uma questão que a maior parte de nós, pais, coloca sempre que se aproxima um período de férias escolares. Sabemos que os nossos filhos vão ficar sem as suas rotinas e muitas vezes sem quaisquer planos para ocuparem o tempo de forma minimamente válida.
Quando eu era criança, já em idade escolar ou adolescente, esta questão não tinha o peso que tem hoje.
Já se sabia que íamos ficar em casa, eventualmente acompanhados por algum familiar ou simplesmente vigiados pelos vizinhos e sem termos propriamente uma agenda de tempos livres. Brincávamos na rua o máximo de tempo que podíamos e que as condições atmosféricas permitiam, inventando coisas novas que nos distraíssem e divertissem.
Nas férias do Natal chovia sempre muito, o frio era bem mais severo do que hoje e, por isso, acabávamos por passar o tempo em casa dos vizinhos, onde às vezes também almoçávamos ou lanchávamos.
Tudo era mais simples e livre.
Sabíamos que os adultos não contribuíam para decidirmos o que iríamos fazer do tempo.
Hoje as coisas são bem diferentes.
São poucas as crianças que brincam na rua. Talvez só aquelas que vivem em meios pequenos. A tarefa de saber o que vão fazer as crianças e adolescentes nos tempos livres passou, em grande parte, para os adultos. Daí a pergunta:
Férias escolares à porta. E agora?
Se deixarmos que os mais pequenos decidam é bem provável que passem os dias inteiros agarrados à televisão, tablet, computador e telefone, conforme as idades. Os ecrãs são altamente sedutores e viciantes e nós, pais, temos dificuldade em encontrar algo que os deixe tão falsamente satisfeitos. A verdade é que os ecrãs não permitem fazer mais do que mexer os dedos. Não há atividade física, movimento, uso das mãos ou do corpo. Exceto se virmos vídeos com propostas de exercícios e os executarmos.
Seja como for, falta fazer coisas, interagir com os outros, ter contacto com realidades reais e estou a ser redundante de propósito.
Aos mais pequenos falta poderem brincar muito, com brincadeiras que lhes permitam interagir com os seus pares, rir e chorar, se for o caso, e chegar ao fim do dia cheios de histórias para contar. Sujarem-se na terra é das coisas mais saudáveis que podem fazer e que normalmente os diverte muito. Assim como o contacto com animais que possam cuidar.
Aos pré-adolescentes e adolescentes falta irem para os campos aprender a mexer na terra, saber o que é plantar/semear, cuidar e colher. Falta entrarem numa cozinha e aprenderem a cozinhar o que gostam e outras alternativas, para enriquecerem o seu palato. Falta terem experiências de voluntariado onde sintam que o que fizerem pelo outro pode mesmo fazer a diferença nessa vida. Falta juntarem-se fisicamente mais vezes para conversar, ouvir música, passear e ocuparem o tempo com atividades que lhes dêem prazer e os aproximem verdadeiramente das pessoas.
Dito isto, se calhar está na altura de convocarmos os nossos filhos e os desafiarmos a pensarem eles o que querem fazer nestas férias, que não envolva ecrãs e dentro das possibilidades dos pais.
É difícil, eu sei, mas vale a pena tentar.
Nota: Fotografia por Verónica Silva