Termos acesso a muita informação não significa que a mesma seja verdadeira e de qualidade… As falsas notícias, amplamente conhecidas como fake news, têm vindo a tornar-se numa questão mundial e têm vindo a tocar praticamente todos os aspetos da nossa vida. Em grande parte, pela revolução trazida pelo digital e pelos conteúdos relacionados com a pandemia.
Estudos recentes, a propósito da Covid-19, mostram que as pessoas podem redistribuir conteúdos falsos com a intenção de ajudar e alertar os outros. Ou seja, o altruísmo, enquanto tentativa de ajudar terceiros, foi considerado como um forte indicador da partilha de fake news relacionadas com a pandemia. Ainda assim, apesar destas boas intenções, a divulgação de notícias falsas sobre saúde pode pôr em risco a segurança das pessoas, potenciando falsas medidas de precaução, que conduzem a graves danos.
Por isso, a Psicologia tem vindo a dedicar atenção ao tema das fake news e já alertou para os perigos deste tipo de conteúdo na saúde mental.
Nem tudo o que parece, é…
As fake news passam, não raras vezes, por verdadeiras porque são apresentadas, de forma subtil, como se se tratasse de notícias legítimas, mas, na verdade, transmitem deliberadamente conteúdo falso e enganador.
Existem pelo menos três pontos-chave relativamente ao tema:
- a confusão sobre os factos;
- as histórias fabricadas para prejudicar a imagem de determinadas figuras ou entidades;
- a repetição com a finalidade de criar familiaridade com o conteúdo falso, lançando dúvidas sobre os factos.
Neste universo, podemos incluir notícias falsas, rumores, mitos, teorias da conspiração, embustes, bem como conteúdos enganosos ou errados.
É também importante referir que, como todos os seres humanos, os jornalistas prestam mais atenção à informação que confirma as suas próprias atitudes e crenças do que a informação que, por oposição, as infirma. Assim, as decisões noticiosas tendem a ser influenciadas pelas suas próprias crenças, ou pela corrente do que outros jornalistas estão também a publicar.
As fake news são um inimigo da saúde mental.
Se tivermos em linha de conta que as fake news têm como objetivo final manipular a opinião pública, facilmente compreendemos que pretendem provocar uma resposta emocional no destinatário. Por isso, podem suscitar sentimentos de raiva, desconfiança, ansiedade e mesmo sintomas depressivos, distorcendo a perceção da realidade.
A investigação aponta o constante consumo de informação noticiosa, sobretudo quando proveniente de fontes menos credíveis, como um importante fator explicativo de preocupação. Se já com informação verdadeira é sabido que a exposição contínua à quantidade enorme de notícias e publicações nos mais variados meios leva o nosso sistema de alerta e medo a estar constantemente ativado, quanto mais com fake news. Não é por acaso que várias entidades na área da saúde mental recomendaram, ao invés de um bombardeamento quase constante, que possa escolher dois momentos por dia para receber atualizações de notícias e optar por um ou dois canais de informação credíveis para o fazer.
Por sua vez, reconhecer ou perceber as fake news como informação falsa pode também suscitar sentimentos de raiva e frustração, especialmente se o leitor se sentir impotente perante as circunstâncias suscitadas pelo tema. É certo que o facto de os estímulos individuais variarem de pessoa para pessoa interfere na intensidade com que as consequências podem ser sentidas e manifestadas.
Com tanta desinformação a ser publicada como verdade, o autor Steven Stosny avançou com o termo “perturbação do stresse do título da notícia” (headline stress disorder). Ou seja, para muitas pessoas, os alertas contínuos de fontes noticiosas, particularmente menos credíveis, resultam em sentimentos negativos como ansiedade, desespero e tristeza.
Ao analisar-se o fenómeno das fake news na saúde, observou-se que os conteúdos podem causar alterações psicológicas, como respostas de pânico, sintomas depressivos e maior cansaço. Por outras palavras, verificou-se que as fake news relativas a questões de saúde, como sucede na pandemia, constituem uma ameaça para a saúde pública.
O autocuidado envolve também o que se vê, ouve e lê
Esta avalanche de notícias falsas não parece estar a desaparecer, mas temos o poder de questionar e nos adaptarmos.
É necessário cuidar de nós mesmos e evitar a exposição a informação não apropriada e não confiável, com notícias falsas ou notícias carregadas de sensacionalismo e em experiências não baseadas em dados reais. Acompanhe os factos e não os rumores e a desinformação.
Na dúvida, interrogue-se, pergunte-se:
- Podem ser dados mais pormenores?
- Pode ser dado um exemplo ou uma demonstração?
- Como posso verificar essa informação?
- Como podemos olhar para isto de uma perspetiva diferente?
- Qual a fonte da informação?
- Quais as credenciais do autor da informação?
- A fundamentação da informação é baseada em método científico?
- Qual a data da publicação?
- O que está para além do título?
Se sente que os meios de comunicação estão a ser fonte de pressão, desligue a ficha, numa espécie de detox. Se os conteúdos são demasiado constantes e confusos, afaste-se e procure o rigor e a excelência da informação, de preferência baseada em evidência científica.