Sabem quando encontramos numa loja um par de sapatos que nos parece perfeito, mas quando os experimentamos descobrimos que são super apertados e desconfortáveis? É muito provável que não os compremos. Infelizmente, esta pegada não funciona assim… Desde 1970 que calçamos bem mais do que podemos e todo esse desconforto, que deveria ser apenas nosso, está a ser aplicado diariamente no planeta, contribuindo para a escassez de recursos naturais e degradação dos ecossistemas. Por mais que se fale nos media de Pegada Ecológica ou Ambiental, sabemos, de facto, o que é esta pegada? Será que todos temos uma? Quanto calço eu afinal? Consigo calcular? Neste artigo esclarecemos todas essas questões.
O que é a pegada ecológica?
O conceito surgiu no início dos anos 90 por William Rees e Mathis Wackernagel, fundador da Global Footprint Network, e refere-se à extensão bioprodutiva de terra e água necessária para suportar o estilo de vida de uma determinada unidade de população, seja um país, cidade, casa ou individuo.
Todas as actividades e escolhas que fazemos, produtos que consumimos e serviços que utilizamos, desde a sua produção ao fim de vida, exigem recursos naturais e produzem resíduos, que são gerados e absorvidos por uma certa fatia de “planeta terra”. É a soma de todos esses factores que nos dá o valor, em hectares globais, da nossa pegada ecológica – é esse o número que nos mostra o impacto negativo deixado pela (nossa) actividade humana no ambiente.
Hoje em dia, esta pegada é considerada uma das grandes medidas de sustentabilidade. Ao comparar a pegada ecológica com a biocapacidade do território (capacidade de gerar recursos naturais), conseguimos saber o quão sustentáveis estamos a ser e tomar decisões com base nesses índices.
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E, porque é que me deveria interessar?
Desde 1970 que a nossa pegada é bem maior do que o “sapato” – estamos a consumir recursos anuais muito superiores à quantidade gerada pela terra produtiva que o nosso planeta nos consegue disponibilizar.
O Earth Overshoot Day, dia do ano no qual consumimos a totalidade de recursos anuais que temos disponíveis, tem surgido, ano após ano, cada vez mais cedo (em 2017, no dia 2 de Agosto, já tínhamos consumido completamente os recursos disponíveis para esses 365 dias). Dados de 2016, fornecidos pela Global Footprint Network, indicam que, caso todos os países tivessem a pegada ambiental dos portugueses, seriam necessários 2,3 planetas para suportar o nosso estilo de vida. Por mais que queiramos, para já, vamos ter de nos aguentar com apenas um.
Por detrás dos conceitos de Pegada Ambiental e Sustentabilidade está também a ideia de “compromisso geracional”. Para que o planeta continue a ser esta casa fantástica e habitável que todos conhecemos, é preciso que deixemos à geração seguinte um planeta com a mesma quantidade de recursos que encontrámos. Contudo, e como já todos sabemos, essa não é a realidade dos últimos anos.
Como posso calcular a minha pegada?
O cálculo tem por base uma data de categorias de consumo, desde alimentação, casa, transportes, vestuário, bens consumidos, energia, água, entre tantos outros, considerando não apenas a área necessária para a geração dos recursos, mas também para a absorção de resíduos e poluentes resultantes dessas actividades.
Esta pegada acaba por ser a soma de outras 5 sub-pegadas: que incluem a área de energia fóssil, necessária à absorção das emissões de Co2 resultantes do uso de combustíveis fósseis; a área de cultivo, que se refere à área onde se desenrolam as actividades agrícolas de suporte ao nosso estilo de vida; a área de pastagem, de onde surgem todos os produtos de origem animal, desde carne, pele e lã, ainda muito consumidos nas nossas rotinas; a área florestal, de onde se extraem os produtos derivados da madeira e se produzem outros bens e combustíveis; e ainda a área do mar, que se relaciona directamente com as pescas.
No cálculo tradicional não se contabilizam os contributos da biodiversidade, a perda de biocapacidade da terra pela emissão de resíduos ou o efeito da exploração abusiva praticada pela atividade humana. Nesta parte a metodologia ainda é discutida e, portanto, considera-se como padrão neste cálculo a subtração de 12% da área bioprodutiva do território em estudo (considerada a porção mínima de área necessária para a manutenção dos serviços vitais prestados pelos ecossistemas).
Curiosos para saber o tamanho da vossa pegada? Facilmente se encontram online algumas ferramentas que fazem essa estimativa e a calculam quase automaticamente. Nós recomendamos esta. Apesar de estar em inglês, é desenvolvida por uma das organizações de referência na área do cálculo de pegadas ambientais.
Será que consigo reduzi-la facilmente?
Claro que sim! Basta começar a adoptar comportamentos mais sustentáveis e amigos do ambiente, que exijam menos recursos ao planeta. Muitas vezes passa apenas por foco e uma melhor gestão pessoal, descobrir o que pode ser melhorado nas nossas rotinas e tentar adaptar-nos tendo como mote “Reduzir, Reutilizar, Reciclar”.
Desde dicas aparentemente simples como pensar “Será que preciso mesmo disto?” antes de cada compra, já faz uma diferença enorme em termos de consumo.
Reduzir o uso energético optando por aparelhos mais eficientes e mantendo-os desligados quando desnecessário. Investir em bons isolamentos ao invés de ligar o ar condicionado. Poupar água, trocar banhos por duches rápidos. Produzir menos resíduos sólidos, adquirindo embalagens maiores, comprando a granel ou e, sempre que se use um saco, que seja reutilizável.
Comprar produtos sazonais, frescos e locais é também uma grande ajuda. Estes consomem menos combustível no transporte e são um grande contributo para o desenvolvimento das economias regionais. Em termos de mobilidade, pode começar por usar a bicicleta ou os transportes públicos em detrimento do carro e, quando o utilizarem, partilhá-lo com outras pessoas.
Esquecer os descartáveis e produtos de apenas uma utilização, muitas vezes desnecessários, como palhinhas, talheres de plástico, papel alumínio ou pelicula aderente. Pensar em reparar os seus equipamentos antes de comprar novos e, caso compre, fazer questão que o antigo tenha utilidade para outra pessoa – promover a economia circular. Nunca despejar o óleo no esgoto. Nunca!
Seguindo estas e outras dicas, e tendo noção de que tudo o que fazemos tem um impacto na sustentabilidade desta nossa grande casa, podemos construir mudança, criar condições para as novas gerações e garantir que, independentemente da área, país ou classe social, todos terão acesso a um par de sapatos lindos e sustentáveis, vários números acima do que seria necessário.