Eu adoro ervas aromáticas, seja pelo perfume, pelo sabor, pela textura e muito pelas propriedades que apresentam. Por vezes, chamo-as de “tempero com vida”, pois nenhuma erva aromática deixa o que toca igual.
Mas, o que são afinal ervas aromáticas?
Ervas aromáticas ou ervas-de-cheiro por definição são plantas que libertam aromas e no meu entender também sabores. Algumas possuem aromas muito suaves, outras mostram o poder intenso do seu perfume e, nestes casos, é preciso usá-las com moderação para que o seu sabor não abafe todos os outros no prato.
O uso das propriedades aromáticas destas ervas não se restringe à culinária, são também utilizadas para a elaboração de cremes e perfumes, como acontece com a alfazema, o rosmaninho e o alecrim, e também fins decorativos pela singularidade que cada um apresenta e pelos belos arranjos florais que proporcionam – lindos ao olhar e com um perfume ímpar.
Ervas aromáticas para uso culinário
As ervas aromáticas para uso culinário são excelentes ingredientes por valorizarem o sabor e o aroma das nossas confecções culinárias, estando por isso o seu uso tradicionalmente associado ao poder aromático e visual que possuem. Às vezes basta colocar uma folhinha de manjericão ou um raminho de alecrim e o prato fica logo mais apetecível.
Todas as pessoas que gostam de cozinhar ou de se aventurar na cozinha, sem medos, precisam de ter algumas ervas aromáticas em casa. Que tal conhecer algumas para saber o que usar?
. Alecrim
O alecrim é uma erva aromática característica do mediterrâneo, mas que conquistou os paladares de todo o mundo. Acho que não conheço nenhum país que não conheça o alecrim, mesmo que não seja muito frequente por aquelas bandas. As folhas são finas e pontudas, de cor verde. No nosso Portugal, pode ser “cultivado” o ano todo, desde que permaneça em local arejado e iluminação directa numa parte do dia, ou estar mesmo no jardim ou horta, como acontece em minha casa. Está sempre disponível todo o ano. No dia-a-dia basta escolher raminhos com as folhas verdinhas.
Eu gosto de usar o alecrim para cozinhar assados, como batatas-doces, e fazer maionese de alecrim, 100% vegetal. Mas também é possível usar para a confecção de alguns pratos de carne e de peixe. Isso fica ao critério de cada um. Também é muito usado para a finalização dos pratos.
. Cebolinho
O cebolinho é uma planta com uma aparência semelhante à da cebola, embora muito mais pequena e delicada. É uma das ervas aromáticas mais populares e que pode ser usada em muitos pratos para finalizar, mas também para dar mais sabor a manteigas e patês. Na macrobiótica o cebolinho é muitas vezes usado para a preparação de um condimento de seu nome Cebolinho com miso que possui também propriedades terapêuticas. O cebolinho pode ser cultivado durante todo o ano, desde que em solo bastante fértil e solarengo. No Inverno é preciso ter atenção às geadas.
Uso cebolinho em muitos pratos, como cuscuz, legumes salteados no wok, grãomeletes e até mesmo omeletes e tortilhas, saladas, poke bowls, sopas e tudo o que a inspiração do momento ditar.
. Coentro
O coentro é uma erva controversa. Há quem ame e há quem odeie. Há também os que detestavam e que agora adoram, como é o meu caso. Por terem um aroma e sabor muito característicos, nem sempre agradam a todos os tipos de paladar. Eu que imaginava ser uma erva característica apenas do nosso Alentejo, fui encontrá-la nas mais variadas cozinhas do mundo. O coentro é muito popular e tradicional na culinária indiana, peruana, mexicana, tailandesa, balinesa e provavelmente estou a esquecer-me de uns quantos países nesta enumeração.
É relativamente fácil de cultivar em qualquer época do ano e hoje em dia consegue-se ter um vasinho de coentros frescos na cozinha com facilidade. Para mim é difícil descrever o sabor do coentro, por ser tão único. Eu, agora, gosto de usar em muitos pratos como estufados, ceviches, sopas, pestos (o meu pesto tuga é um sucesso e leva sempre coentros) e, claro está, na bela Açorda Alentejana, seja ela vegana ou não.
. Hortelã
A Hortelã, pode também ser chamada de menta, é uma erva aromática bastante popular e saborosa em todo o mundo. As suas características medicinais são muito valorizadas, visto que o consumo de hortelã pode ajudar a tratar má digestão, vómitos, náusea e também oferecer efeitos calmantes. Mas, além do poder medicinal, a erva também traz sabores e aromas únicos para a culinária. Ela é refrescante, cítrica e muito peculiar.
Eu gosto de usar a hortelã em sopas, em sobremesas, em mousses de fruta, em chás e águas aromatizadas. Não é à toa que os nossos amigos Marroquinos bebem imenso chá de menta, realmente ajuda na digestão e a cuidar de distúrbios digestivos. Eles levam isto tão a sério que nas farmácias mais tradicionais e antigas vendem chá de menta para tratar destes males. Já em Bali é comum haver sumo de ananás com menta ou limonada com menta.
. Manjericão
O manjericão é para mim sabor a Itália! Se calhar estou a ser muito redutora, mas é algo que surge de imediato no meu pensamento assim que penso nesta erva e sinto o seu aroma. Seu aroma e sabor são perfumados, marcantes e muito versáteis, permitem que seja usada em vários tipos de receitas. Existem vários tipos de manjericão: roxo, doce, miúdo, limão e tailandês. Todos eles devem ser usados frescos na preparação dos pratos, para que seu sabor e aroma sejam sentidos e valorizados.
Pode ser cultivado o ano todo, desde que permaneça num local seco e longe da luz directa. Eu confesso que tenho alguma dificuldade em manter esta planta viçosa lá em casa.
O manjericão fica delicioso em pizzas, massas frescas, preparados com tofu, saladas, frutas, molhos, lasanhas e a finalizar cogumelos grelhados. Só de lembrar, já estou a viajar e a salivar. Também costumo usar em águas aromatizadas, por exemplo, com pepino e manjericão.
. Orégão
Em minha casa, o orégão é muito popular. Temos sempre fresco e seco e usamos em muitos, muitos pratos. É uma erva muito fácil de cultivar em casa, ou no jardim todo o ano (o que temos em casa até a geada aguenta, só pode ser forte!). As folhas são super aromáticas e as suas características permanecem mesmo desidratadas. Possui propriedades antioxidantes muito valorizadas pela medicina alternativa.
O seu sabor é fácil de identificar, tal como o aroma. A muitos faz lembrar Itália, tal como o manjericão por ser comum encontrar este sabor em pizzas e em massas. Mas pode ser usado em mil e uma coisas. Eu adoro temperar seitan ou tempeh para assar no forno com orégãos, temperar azeitonas, colocar nas sopas, estufados, nishimes e salteados. Por vezes uso apenas para finalizar os pratos, ou umas tostas com mexidinho de tofu. Dá um toque bonito e fica super saboroso.
. Salsa
Esta foi talvez a primeira erva aromática que conheci. É muito popular no norte de Portugal e talvez seja uma das ervas aromáticas mais conhecidas e utilizadas em todo o mundo. Pode ser encontrada lisa ou frisada, e possui um aroma e sabor característicos, muito mais suave que os coentros. É uma erva muito consensual, as suas folhas são verdes e vistosas, e conseguem ser cultivadas por todo o ano.
Idealmente, a salsa deve ser utilizada fresca e logo após a colheita para que seu sabor seja mais intenso. Deve ser adicionada aos pratos no final da preparação, para não perder suas características.
Uso a salsa em saladas, sopas, pestos, estufados vegetais ou de leguminosas, poke bowls e para decorar os mais variados pratos. Uma folhinha verde de salsa dá sempre um toque fresco e único.
. Tomilho
O tomilho é uma erva aromática nativa da região do mediterrâneo, usado em receitas e pratos dessa região, embora hoje seja extremamente popular em todo o mundo. O seu sabor é discreto e seco – e por isso pouco aromático – e permite que essa seja uma erva básica para ser ter na cozinha, pois é bastante versátil para usar em todos os tipos de receita. Mesmo que, por vezes, exageremos na quantidade que colocamos, fica sempre bem.
Eu gosto de o usar fresco, porque sinto o seu sabor mais intenso e o meu favorito é o tomilho-limão do qual adoro fazer infusões. Mas fica excelente para confeccionar pratos de carne, peixe, mariscos, ceviches, estufados, feijões, ervilhas frescas, sopas cremosas e tudo o que nos lembrarmos de fazer.
. Louro
Em Portugal este é um tempero muito popular. Penso que não existe nenhuma casa de um português sem louro na sua cozinha. O seu sabor é tão interessante que é usado em inúmeros pratos, principalmente os que associamos ao frio. Pratos quentes como feijoadas e assados. E colocar uma folhinha de louro na feijoada faz toda a diferença, não faz? Mas, o louro é mais do que uma erva aromática conhecida por temperar diversos pratos populares, ele também é conhecido pelo seu poder antioxidante, anti-inflamatório, digestivo e diurético. Ou seja, sabe bem e faz bem.
Propriedades e benefícios das ervas aromáticas
Utilizar ervas aromáticas nos cozinhados além dos sabores maravilhosos que proporcionam, tem também enormes benefícios para a saúde, uma vez que as ervas possuem micronutrientes (vitaminas e minerais) com importantes funções no nosso organismo.
A lista de ervas aromáticas é interminável. Existem tantas que poderíamos escrever um livro só a falar delas, a dar receitas e as suas propriedades terapêuticas. Mas penso que esta pequena lista é suficiente para criar pratos saborosos e se aventurarem na cozinha.
Quais destas ervas aromáticas vocês usam na vossa cozinha? Sintam o cheiro. Inspirem os aromas para terem mais inspiração para os vossos cozinhados. Eu costumo fechar os olhos, cheirar e imaginar o sabor do que estou a preparar com aquela erva. Por vezes tenho que cheirar várias até acertar na que naquele momento me inspira.
Ficam aqui duas receitas muito fáceis, versáteis e que podem ser usadas em muitos pratos.
2 Receitas com ervas aromáticas:
. Chips de batata-doce e beterraba
As batatas-doces e as beterrabas ficam tão crocantes e saborosas cortadas às rodelas e levadas ao forno, que me fazem lembrar as batatas fritas de pacote, com o benefício de não serem fritas e por esse motivo sem óleo. São uma alternativa muito saudável que até os mais novos adoram.
Ingredientes:
- 1 ou 2 Batata-doce média;
- 1 beterraba média;
- Alho em pó;
- Alecrim fresco;
- Sal marinho (opcional).
Modo de preparação:
Lave muito bem as batatas e a beterraba. Seque-as com um pano. Corte-as rodelas finas com cerca de 2mm-3mm, com a ajuda de uma faca ou com outro utensílio que sirva para o efeito. Seque com uma folha de papel absorvente e disponha as rodelas num tabuleiro de forno forrado com papel vegetal. Tempere com sal, alho em pó e alecrim.
Leve ao forno a 150º cerca de 20min (o tempo pode variar com forno). Passado este tempo vire as rodelas, volte a temperar e deixe cozinhar mais 15-20 minutos. Estão prontas quando estiverem secas e estaladiças. Assim que saírem do forno salpique novamente com uma folhas de alecrim frescas. Fica mais aromático.
. Ceviche pré-inca
Ceviche é um prato de origem peruana, com alguma influência nipónica, que consiste em marinar/cozinhar peixe branco cru em sumo de limão ou lima, ou outro citrino com acidez. O ceviche tem inspiração inca pré-colonização espanhola, o que significa que ainda não havia no país citrinos como o limão (geralmente mais usado). Por isso, vamos utilizar o alimento mais ácido daquela zona na época pré-colonial – o maracujá.
Ingredientes:
- 1kg de peixe branco fresco (linguado, pargo, robalo, etc.);
- 1 pitada sal;
- 15 maracujás;
- 3 cebolas roxas;
- pimenta moída (q.b.);
- Salsa ou Coentros (q.b.).
Modo de preparação:
Coloque o peixe cortado em tiras ou em cubos médios, devidamente amanhado, sem pele e sem espinhas, numa taça. Corte as cebolas em tiras finas, tipo juliana, e acrescente ao peixe. Tempere com o sal e a pimenta, acrescente o sumo e polpa dos maracujás, e envolva bem. Tape a taça com um pouco de película aderente e leve ao frigorífico durante seis horas. O peixe irá cozinhar na acidez do maracujá.
Quando servir, adicione coentros ou salsa picada. Fica divino!
Dica: se não for época dos maracujás e quiser muito fazer ceviche, pode substituí-los por sumo de limão. Passa a ter a receita mais comum de ceviche.
Bom proveito e muita inspiração para o uso destas ervas que dão sabor à vida e à comida!