Equilíbrio ambiental: motivos para termos esperança em 2021

Eunice Maia // Janeiro 22, 2021
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equilíbrio ambiental
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Falar de esperança enquanto vivemos uma pandemia global e estamos (talvez ainda só no começo) sob o efeito das suas terríveis consequências pode parecer paradoxal e, até, estranho, deslocado da realidade… Afinal, o que está a acontecer à nossa casa comum é uma profunda crise. No entanto, se as crises trazem sempre consigo sofrimento e têm implicações trágicas, também é verdade que podem ser encaradas como uma oportunidade para (re)construir melhor o nosso mundo

Por um mundo melhor!

A história já nos mostrou inúmeras vezes como desastres e acontecimentos disruptivos se transformam em catalisadores e aceleradores de mudança a todos os níveis (luta pelos direitos humanos, igualdade de géneros, ciência e tecnologia,…). Este é, portanto, um momento decisivo para lermos os sinais do tempo e reinventarmos a relação que temos connosco, com os outros, com o planeta

Podemos estar isolados, mas não estamos sozinhos. 

O combate ao vírus implica o nosso confinamento e um certo sentido de solidão, mas derrotá-lo implica que colaboremos como nunca, que pensemos mais nos outros do que em nós. Este vírus veio, de uma certa forma, ensinar-nos a parar, a abrandar, a olhar para dentro, para o que fazemos e para o que somos. O vírus é imune ao que temos e ao estatuto social. 

O que já aprendemos com a COVID-19:

Esta aprendizagem da lentidão e do despojamento veio também mostrar-nos a importância dos laços de afeto, de vizinhança, de cooperação. O vírus veio ensinar-nos a amar melhor e a urgência de protegermos o que é frágil em nós e à nossa volta.

O equilíbrio ambiental está frágil e já vivemos numa situação de emergência climática.

Tudo isto pode ser transferido para o ativismo ambiental e para a situação de emergência climática que vivemos – que é, sem dúvida, um outro vírus – e que exige o mesmo tipo de ações e de veemência no seu combate: uma economia centrada num crescimento célere e constante, absolutamente dependente do consumo e do consumismo, hipercarbónica, ao serviço da extração imparável de recursos e da emissão de CO2, provocando o aquecimento global, uma sociedade que acumula objetos inúteis, descartando, enterrando e queimando esses mesmos objetos depois de os transformar rapidamente em resíduos, fenómenos meteorológicos extremos, deslocações populacionais em massa, progressiva subida do nível do mar, secas prolongadas, fome, ausência de acesso a água potável, vastas áreas devastadas em nome do cultivo intensivo e da criação de gado, sacrificando a biodiversidade e votando-a a um declínio irreversível. Um paradigma esgotado e que tem os dias contados num planeta cujos recursos exaurimos a um ritmo que inviabiliza a sua (auto)renovação. Tendo em conta a nossa pegada ecológica global, precisaríamos neste momento de 1.6 (Global Footprint Network) planetas para manter o nosso estilo de vida. E não há planeta B

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Vivemos, sem dúvida, tempos de grande apreensão pelo frágil equilíbrio ambiental, pelo delicado estado da sustentabilidade do nosso mundo, mas há sinais de grande esperança e de oportunidades de mudança e regeneração em 2021

18 motivos de esperança em 2021:

  1. O compromisso da União Europeia (2019-2024), através do seu Pacto Ecológico, em que a Europa seja o primeiro continente com impacto neutro no clima, assegurando que o seu crescimento económico esteja dissociado da exploração de recursos e de emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 2050. A Presidência Portuguesa terá um importante papel na concretização ambiciosa deste Pacto nas suas diferentes áreas (energia/clima; zero poluição; biodiversidade; mobilidade, agricultura e indústria sustentáveis, …);
  2. A discussão e posterior adoção por parte do Parlamento Português de uma Lei do Clima, imprescindível, de acordo com a Associação Zero, “para se conseguir uma lei de longo alcance para a sustentabilidade climática, intra e intergeracionalmente justa, apoiada no conhecimento científico, de aplicação abrangente, tecnológica e fiscalmente neutra, assente numa colaboração entre países e na internalização dos danos ambientais pelos atores-chave”;
  3. O Plano Nacional de Energia e Clima para 2030 aponta a meta de 80% para a produção de eletricidade a partir de fontes de energia renováveis até 2030, juntamente com o aumento da capacidade instalada de todas as tecnologias renováveis;
  4. Verificou-se um aumento significativo da procura e da disponibilização de incentivos a soluções de mobilidade suave por parte de algumas autarquias (por exemplo, bicicletas);
  5. Algumas espécies em perigo em Portugal, segundo a Quercus, recuperaram (o abutre-preto – Aegypius monachus, a águia imperial ibérica – Aquila Adalberti);
  6. Tendência clara no mercado de procura de produtos locais e biológicos, contrariando os circuitos longos agroalimentares e a produção intensiva, reforçando os laços com os pequenos produtores e com o comércio tradicional e de proximidade, com os mercados locais, muitas vezes por meio de encomenda de cabazes entregues ao domicílio, e sublinhando importância da capacidade de resiliência e autossuficiência promovidas pela vida em comunidade e pela economia circular;
  7. A existência de um Plano Estratégico para a Política Agrícola Comum (2021-2027) que se distanciará do atual modelo de Intensificação agrícola assente em monoculturas, no regadio e no agro-negócio orientado exclusivamente para a exportação (ZERO);
  8. Aplicação efetiva da diretiva comunitária da água para a defesa dos recurso hídricos do país;
  9. O turismo rural e de Natureza afirmou-se como escolha de eleição dos portugueses, uma alternativa com menor impacto ao turismo massificado, que contribuiu para a redescoberta do seu próprio país e para a revalorização dos seus recursos naturais e culturais;
  10. A importância da ciência como principal aliado na resolução dos problemas humanos e a confirmação de que é essencial investir em investigação científica;
  11. O confinamento e permanência em casa permitiram desenvolver o hábito de confecionar mais vezes as próprias refeições, experimentando a produção caseira de pão, por exemplo. Acredito que a pandemia tenha sido também, para muitos, o pórtico de entrada para uma alimentação de base vegetal, reduzindo o consumo de alimentos de origem animal, e para a adoção de hábitos mais sustentáveis. Vale a pena, a este propósito, acompanhar e ser inspirado pelas iniciativas Desafio Vegetariano, “nunca foi tão delicioso reduzir a pegada ecológica”, e Janeiro Sustentável (seguir o #janeirosustentavel nas redes sociais);
  12. Consolidação do compromisso por parte de todos os agentes da cadeia alimentar para combater o desperdício alimentar. As grandes superfícies adotaram práticas de prevenção, redução e escoamento (cabazes, promoções, criação de subprodutos, colaboração com APP e projetos sociais); os projetos, associações, aplicações estão em franco crescimento e aliam impacto ambiental ao impacto social e económico (Zero Desperdício, Unidos contra o desperdício; Refood, Fruta Feia, Phenix Portugal, Too Good To Go, Equal Food,…);
  13. Generalização da recolha seletiva de resíduos orgânicos e vários projetos de compostagem comunitária e de distribuição de compostores domésticos por todo o país;
  14. Passos estratégicos e fundamentais na luta contra o desperdício têxtil: A ZERO DESPERDÍCIO lançou o projeto “Share2Use”, o qual se materializa na WebAPP ZERO DESPERDÍCIO, para combater o Desperdício Têxtil em Portugal. Esta plataforma colaborativa visa assegurar a comunicação e partilha de excedentes têxtil, entre doadores e beneficiários, reduzindo o desperdício e aumentando o ciclo de vida das peças de vestuário e/ou têxtil lar, através da revalorização, isto é, reutilização, recuperação ou reciclagem, de acordo com os princípios da economia circular. Este projeto procura gerar um movimento de combate ao desperdício têxtil, assegurar a medição de impacto ambiental, económico e social no fluxo têxtil e promover a visibilidade destes impactos na comunidade de forma inovadora e educativa perspetivando a mudança de comportamentos, em prol do Planeta e da Sociedade;
  15. Como resposta à crise provocada pela pandemia, a União Europeia criou um pacote de financiamento para a recuperação económica, que inclui 1.824 mil milhões de euros, sendo 1.074 mil milhões para o Quadro Financeiro Plurianual para 2021-2027 e 750 mil milhões para o Next Generation EU, dos quais 30% são destinados à descarbonização, o que representa uma grande oportunidade de desenvolvimento do setor renovável na Europa e em Portugal. O nosso país anunciou também o seu Plano de Recuperação e Resiliência – Recuperar Portugal 2021-2026, com três dimensões estruturais: Resiliência, Transição Climática e Transição Digital, alocando cerca de 2,7 mil milhões às reformas para o clima com foco na mobilidade, na descarbonização e bioeconomia e na eficiência energética e renováveis;
  16. Esta será a Década da Ação no que respeita aos objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pelas Nações Unidas: “A Década da Ação implica a nossa própria superação enquanto espécie, não apenas para salvar o mundo moderno, mas para salvar o Planeta Terra”;
  17. A luta pela justiça climática tem de ser também a luta pela justiça social: combater as alterações climáticas passa por assegurar o acesso e a abundância para TODOS e para sempre na Terra. Movimentos como Black Lives Matter e SOS Amazónia (“Importa ao líder indígena saber que quem atira no seu povo é o mesmo que polui seu rio, que leva o vírus a sua aldeia e que elimina espécies inteiras do planeta — e então, aí sim, há um real interesse de colaboração e entendimento sobre as várias faces da emergência climática.”) recordam-nos de forma aguda que a desigualdade social amplifica os efeitos nefastos da crise climática;
  18. A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, em Novembro de 2021, em Glasgow (COP26), pode ser um marco histórico no mundo pós-pandemia, com novas metas por parte dos diferentes países, o regresso dos EUA ao Acordo de Paris, na sequência da eleição de Joe Biden.

Este é o momento de Recomeçar.

Este será, sem dúvida, um de “reset”, depois de um abanão global que vai (tem de!) dar lugar ao “restart”. Recomecemos, pois. 

Acredito muito que o nosso exemplo, o nosso ativismo silencioso e a nossa crença inabalável num objetivo que é maior do que nós acabam por ser sementes, mesmo na terra menos arável. 

Haja esperança e muita paciência! 

Não vale a pena deixar que os céticos e os resistentes nos suguem a energia ou nos façam desanimar. Concentremo-nos nos que realmente querem mudar e nestes sinais que nos mostram o caminho e alegram o ânimo. E não julguemos os outros. Cada um tem o seu ritmo, o seu tempo, a sua caminhada de “transição ecológica”.

Acredito, com a determinação que só a loucura lúcida às vezes nos dá, que é possível e que temos esse dever para com as gerações futuras. 

A (r)evolução começa em cada um de nós. 

Com passos pequeninos. É essa a força da utopia. Não interessa por onde começa, como começa, o importante é mesmo isso: começar. Porque, como diz Miguel Torga, «o que importa é partir, não é chegar». Comece já. Vamos juntos! Fique com este e-book gratuito com centenas de dicas para uma vida com menos desperdício e com uma sugestão de uma série documental portuguesa sobre projetos, pessoas e iniciativas que estão a fazer a diferença em Portugal na área da sustentabilidade: “É p’ra Amanhã”. Impossível não ficar com o coração a transbordar de esperança e inspiração depois de ver. Feliz 2021!

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