Aquela calçada faz-se com jeito que as pedras de tão polidas quase espelham o céu de Lisboa.
Naquela calçada existem dois mundos que crescem dentro de uma cidade que tem bairros como aldeias, janelas diante de outras janelas onde a corda da roupa se estende ao som do desfiar de conversa das vizinhas.
Aquela calçada é um sobe e desce de gente que cresceu ali, que se conhece nas suas alegrias e se junta para lamentar as mesmas misérias. Que grita o insulto barato da manhã para na mesma tarde partilhar a mesa e um brinde de canecas e tremoços na sociedade recreativa local.
Naquela calçada correm rios de histórias de gente que ali vive e se mostra quando o sol inunda aquele rasgão feito no casario.
Depois quando o sol se afunda no rio que corre lá em baixo, fecham-se as portas, acendem-se as luzes e a calçada muda de donos. São bandos barulhentos de gente que vem de outros mundos olhados com a condescendência de quem lá mora e se habituou a que a sua rua se inunde de outros verbos que não conhece.
Naquela calçada cruzam-se dois mundos que se abraçam numa convivência de afetos marcados por risos e algazarras barulhentas, de amores de uma noite ou de despedidas para sempre…
Encontramo-nos por ali um dia destes…aquela rua tem um Sol a desaguar no rio Tejo…