Este é um tema sobre o qual as opiniões se dividem. Afinal, devemos educar com ou sem tecnologia? Como em tudo na vida, há sempre vantagens e desvantagens para ambas as opções. Vejamos quais.
Uns são a favor do uso da tecnologia e vêm-na como um forma de culturização, outros consideram-na uma fonte de discórdia e de ausência de convívio familiar e social. A Associação Americana Pediátrica, em 2014, defendeu que as crianças com menos de 2 anos não devem ter qualquer contato com nenhum aparelho eletrónico. E as com mais de 2 anos devem ter no máximo 2h de contato diário. O que está longe de ser a realidade em Portugal e no mundo inteiro!
A mesma organização diz que essas crianças correm maior risco de ser obesas agressivas e consumistas. A verdade é que ficam muito mais agressivos com os pais, passam horas em frente ao ecrã, isolam-se e até deixam de sair de casa. Há ainda estudos que indicam que o uso abusivo da tecnologia causa alterações cerebrais a nível da inteligência não verbal, bem como perda de memória espacial.
Mas será assim? Será que existe mesmo uma relação de causa-efeito?
O ideal é que possam usar as novas tecnologias porque elas fazem parte da nossa evolução e da nossa vida atual. No entanto, é importante que seja com conta, peso e medida. O que é que isto quer dizer? Que o uso da tecnologia deve ser intercalado com outras atividades que os mantenham afastados dos ecrãs, tal como, por exemplo, saltar à corda, desenhar, correr, surfar, ir ao parque, andar de patins, jogar às cartas, jogar a jogos de tabuleiro com os pais, etc.. E, como nunca é demais reforçar, atividades em família, além de serem divertidas, consolidam a relação de confiança entre todos os membros desse clã familiar.
Uma curiosidade, que tenho reparado em consultório, é que o QI dos adolescentes está mais elevado em relação à média do que na nossa geração. Na nossa geração a média seria entre o intervalo 90/100, agora é no intervalo 120/130 para um grande número de adolescentes. O que quer dizer que a nível cognitivo trará algum desembaraço cerebral.
O engraçado é que não queremos que passem tantas horas agarrados aos ecrãs, mas a verdade é que a culpa é nossa!…
Não gosto muito de culpabilizações, nem de rótulos, mas vejamos: eles gritam e nós, como estamos cansados, damos o tablet para se entreterem; eles não comem e nós colocamos o tablet à frente para que comam tudo; para evitar birras no restaurante colocamos logo o tablet na sua frente… Na pandemia, as novas tecnologias foram a solução para que muitos pais conseguissem trabalhar. Então, eles aprenderam o que nós ensinámos. E agora o que fazer? Relembrar como é bom desenhar, correr, rir, jogar cartas, passear, saborear a natureza, brincar na rua, saltar etc.
Ensinamos os miúdos a usar bem os talheres, a terem as ditas regras de etiqueta, a atravessar a estrada, temos também de os ensinar a usar a Internet em segurança, com limites e regras muito bem definidas. Alertando para todos os perigos e dando alternativas aos jogos, aos vídeos do YouTube, ao scroll infinito no TikTok.
O problema não são as redes sociais ou os ecrãs, o desafio é o uso ou abuso que permitimos que as nossas crianças façam deles.
Sempre que essa utilização é excessiva existem inúmeras competências, habilidades e vivências essenciais para o saudável desenvolvimento da criança, que ficarão altamente comprometidas.
Qual o impacto do uso excessivo de redes sociais nas crianças?
O abuso de redes sociais por parte das crianças e dos jovens, podem influenciar diretamente o seu dia-a-dia. Aqui ficam alguns exemplos do que lhes é “roubado” pelo uso excessivo das tecnologias:
- Tempo para brincar;
- Diminuição do rendimento escolar;
- Qualidade do sono;
- Novas experiências;
- Criatividade e imaginação;
- Tempo com a família e amigos;
- Contacto com a Natureza;
- Estímulos sensoriais e motores;
- Capacidade de foco e concentração;
- Oportunidade de lidar com frustrações;
- Habilidades socioemocionais.
10 Sinais de alerta para dependência dos ecrãs
É muito importante que os pais estejam alerta e consigam identificar os sinais do abuso de tecnologia:
- Alteração no sono;
- Mudanças de humor repentinas;
- Ansiedade e preocupação constante;
- Exponencial agressividade;
- Desinteresse noutras atividades;
- Queda do rendimento escolar;
- Impaciência exacerbada;
- Irritabilidade constante e agitação interna;
- Alteração comportamento geral;
- Alteração na alimentação (não comem para não parar o que estão a fazer).
Então, como podem os pais fazer frente à dependência das novas tecnologias?
3 Dicas para não existir abuso de tecnologias:
- Se eles são o nosso espelho e se queremos que não abusem, temos de ser os primeiros a não o fazer;
- Definam as regras em conjunto e estabeleçam incentivos (não financeiros, com atividades, jogos para fazerem em família);
- Sejam firmes, é natural que eles testem os limites, também já tivemos a idade deles e fizemos o mesmo. Cabe-nos ser firmes, manter regras e limites, sempre com muito amor e pepitas de alegria.
A verdade é que muitos pais têm medo de tirar os telemóveis aos filhos. Mas, isso não deverá acontecer, pois eles sentem as nossas inseguranças!
Ser mãe/pai chato é saber dizer “não” ao abuso de redes sociais.
Alguns pais dizem-me coisas como: “Ela vai morrer sem telemóvel”; “Se lhe tiro o telemóvel, ele agarra-o com força e fica agressivo”. Mas após serem firmes, o comportamento dos miúdos muda. E aparecem os pais a dizer: “Obrigada, nunca pensei que ele sobrevivesse sem telefone. Afinal os adolescentes conseguem viver sem tecnologia, vou avisar os outros pais”.
É possível viver sem tablet, telefone, playstation, e jogos! Pelo menos umas férias ou umas horas.
Por outro lado, os miúdos partilham comigo que no início foi difícil. Só lhes apetecia partir tudo (como acontece na ressaca de outra qualquer dependência). Mas, com o passar do tempo, voltaram a fazer coisas que já não faziam há muito tempo como: passear com a família, desenhar, ler, jogar jogos de tabuleiro, fazer puzzles, brincar com os mais novos, escrever, etc.. E os pais ainda partilham que os miúdos voltam a ser mais companheiros, brincalhões, voltam a partilhar mais tempo com a família e a serem mais amigos, doces, meigos e sem agressividade. Parece até que recuperaram os abraços e beijinhos dos filhos, o que é tão bonito.
Proibir não é solução!
Lembra-se que o fruto proibido é o mais apetecido! Então, opte por dar o exemplo. Partilhe com o(s) seu(s) filho(s) as histórias da sua adolescência. Conte-lhe o que fazia na altura, quais as atividades a que se dedicava. É também importante reforçar que cada família tem as suas regras, as suas vivências, a sua cultura, e, por isso, não há certo nem errado. Tudo está certo! Estamos sempre a aprender. Se errarmos, não faz mal, temos a vida toda para aprender a fazer cada vez melhor.