Educar: O desafio de criar os filhos

Fátima Lopes // Fevereiro 16, 2022
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Sempre ouvi os meus pais dizerem que o maior desafio quando se tem um filho é educá-lo. Não percebia bem o que queriam dizer, porque eu estava a formar-me enquanto pessoa e, acima de tudo, ainda não tinha sido mãe. 

É quando assumimos o papel de educadores que percebemos a dimensão do desafio. 

Principalmente nos dias de hoje. Há uma série de valores que estão distorcidos e para alguns até perdidos, o que dificulta ainda mais a tarefa de educar. O respeito pelos mais velhos é um dele. 

Quando os nossos filhos veem à sua volta muitos jovens mais velhos, que muitas vezes são os seus ídolos e que admiram por alguma razão que só eles sabem, responderem mal a um adulto e acham que assim é que é, tudo fica mais complicado. Basta estarmos um bocado numa escola ou observarmos certas interações de alguns jovens com os professores e/ou auxiliares, para percebermos que as faltas de respeito e de noção do papel de cada um, são muitas. 

Isto a que me refiro não acontece com todos os jovens. Quero acreditar que é apenas com uma minoria. Então, porque acontece com uns e com outros não? 

Em grande parte, pela educação que receberam. Há uma parte do comportamento que tem a ver com eles, com a sua história pessoal e vivências que tiveram até aí. No entanto, acredito que a maior fatia de responsabilidade nos seus comportamentos está mesmo na educação. 

Hoje o desafio para os educadores é maior. A palavra “não” perdeu muita força. 

Alguns pais parecem ter medo de a usar, esquecendo que é ela que delimita as tão necessárias fronteiras que vão orientar os filhos para a vida. 

Quando eu era miúda, ouvíamos o “não” muitas vezes e sem qualquer explicação. Hoje os nossos filhos conquistaram “nãos legendados”. É um avanço importante. Explicamos, mas a seguir temos de manter o “não” sem vacilações. 

Só que antes de chegarmos aos “nãos” ou “sims”, temos de fazer por estar verdadeiramente conectados com os nossos filhos. E isso é o quê? É estarmos atentos a eles. A tudo. 

É estarmos disponíveis para os ouvir, estimular o diálogo se ele não existir, mostrar que é bom comunicar connosco e assegurar-lhe que nós somos mesmo um porto de abrigo em quem vale a pena confiar. 

Neste momento, tenho uma filha de 22 anos e um filho com quase 13. É com base nesta experiência enquanto mãe e nos exemplos que vejo à minha volta, com os filhos dos meus amigos, que escrevo estas linhas. 

Eu sempre achei que ter uma antena muito apurada para os filhos era fundamental. Olhar bem para eles quando chegam da escola ou de qualquer outro sítio onde tenham ido, ou depois de terem estado com uma pessoa. Tentar perceber qualquer desconforto ou tristeza e estimular a conversa. Se fizeram alguma coisa que não deviam, explicar que impacto isso pode ter neles e nos outros e fazê-los perceber que as nossas palavras e actos, têm consequências que temos de ser nós a assumir. Investir tempo a fazê-los perceber que a empatia faz de nós pessoas melhores. 

É nestes relatos que os podemos orientar em relação aos comportamentos dos outros para com eles. Muitas vezes não percebem que foram manipulados ou mal tratados. Temos de ser nós a explicar. Mostrar-lhes o valor da verdade, da honestidade, do respeito e da solidariedade. Mais importante do que falar sobre estes valores, é mostrar-lhes como os utilizar na prática e o efeito positivo que têm nos outros e em nós. 

Há uma altura da vida dos nossos filhos, normalmente na pré-adolescência e na adolescência, que parece que nunca nos escutam e que tudo o que dizemos não tem qualquer valor. Parece, mas não é necessariamente assim. 

Podemos, enquanto pais, ser tentados a desistir pelo frustrante que é repetir mil vezes as mesmas coisas, mas eu diria que essa não é opção. Continuemos a “pregar” com coerência e um dia os nossos filhos irão mostrar-nos como afinal estiveram sempre lá e registaram o que ouviram e viram fazer

Digo muitas vezes que, mais que ter filhos com carreiras de sucesso, quero ter filhos que sejam boas pessoas. Para isso há que educar de forma presente, segura, com valores claros e doses industriais de amor.

Nota: Fotografia por Verónica Silva 

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