É possível renascer após um trauma?

Andreia Lourador // Abril 28, 2021
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Uma ferida chamada trauma

Viver sem riscos é sorte de poucos: estima-se que 90% da população mundial passará por, pelo menos, um evento potencialmente traumático ao longo da vida. Superar a situação adversa ou ficar marcado por ela é o limiar entre uma situação de stress e o trauma, que está na raiz de diversos transtornos psicológicos. 

Trauma é uma palavra de origem grega que significa ferida, lesão emocional. É uma ruptura psíquica importante que excede a capacidade de processamento do ser humano e que causa sofrimento físico e emocional, por ser percebido como uma ameaça à segurança e estabilidade do ambiente. Trauma é algo que ultrapassa a usual experiência humana.

Os traumas são situações decorrentes de eventos que, em linhas gerais, envolvem algum tipo de risco, real ou imaginário, à vida ou à integridade física de alguém. Essas situações podem abranger violência física ou psicológica (doméstica, sexual ou urbana) ou serem decorrentes de acidentes ou desastres naturais. Não é preciso sequer vivê-las ativamente: assistir a uma situação dessa natureza, como, por exemplo, um assalto ou a uma agressão, pode ser o suficiente para desencadear uma reação traumática.

O que nos acontece diante de um evento traumático?

Fisiologicamente, todos teremos uma resposta mais ou menos  padrão: reações químicas provocarão a libertação de adrenalina e cortisol, hormonas que irão preparar o corpo para fugir daquela situação ou partir para o confronto. Depois deste começo, um tanto primitivo, entra em cena um elemento complexo e demasiadamente humano: a memória. Quem passa por uma situação adversa pode seguir a sua vida sem ser afetado por aquele acontecimento ou ser traído reiteradamente pelas lembranças. A recordação recorrente do evento faz com que, por alguns dias, o corpo volte a ter algumas reações fisiológicas relacionadas a ele, como fadiga, tensão muscular, sobressaltos, taquicardia, náuseas e medo constante. A persistência de sintomas como estes configura o trauma.

O que não nos destrói, torna-nos mais fortes. 

Os eventos traumáticos, devido à sua violência e carácter inesperado, podem muitas vezes deixar sequelas profundas ou de intensidade variável no indivíduo, podendo levar ao desenvolvimento de perturbações como é o caso da Perturbação de Stresse Pós-Traumático (PSPT).

A perda de resposta pela incapacidade de utilizar os habituais mecanismos de coping gera muitas vezes desequilíbrios psicossociais com potencial de desenvolvimento de perturbações psicopatológicas.

A experiência de um evento traumático apresenta muitas vezes uma diferente perceção da realidade como a conhecemos e como olhamos o mundo ao nosso redor. Consequentemente, as implicações psicológicas apresentam-se como respostas ao evento vivido, numa tentativa de adaptação a uma realidade até então desconhecida. Se ele é irreparável? A resposta é não. Como disse Friedrich Nietzsche: “O que não nos destrói, torna-nos mais fortes”.

Como superar o trauma?

Não silencie: quando o assunto é trauma, esquecer é, provavelmente, o fim mais improvável.

A inibição é o principal bloqueador da superação. Ou seja, a estratégia adotada, muitas vezes, de não falar sobre problemas emocionais não é saudável. Conter ou inibir pensamentos, emoções e comportamentos aumenta o sofrimento. Esta inibição, por sua vez, age até como um stressor que causa ou aumenta os processos psicossomáticos e problemas de saúde originados pelo evento traumático. 

  • Partilhe: a forma como uma pessoa processa a informação em circunstâncias adversas pode ter influências na sua saúde física e mental. Partilhar experiências emocionais é uma manifestação desejável e altamente curativa. Promove o alívio e a recuperação emocional, isto porque partilhar produz alívio no impacto emocional da memória do episódio. Lembre- se: sempre que partilhamos, ficamos com menos. 
  • Escreva: escrever sobre experiências negativas passadas tem benefícios para a nossa saúde mental e física. Escrever, falar e pensar podem resultar em diferentes níveis de integração e síntese. Escrever e falar tendem a envolver organização, integração do evento traumático. Assim, o ato de converter emoções e imagens em palavras muda a forma como a pessoa organiza e pensa sobre o trauma. Quando a narrativa está formada, pode ganhar um sentimento de resolução e controlo e consegue lidar melhor com as emoções sobre a experiência. Depois o evento pode ser guardado e assimilado mais eficazmente e, assim, reduzir a dor associada à experiência traumática. Quando se continua perturbado com o evento traumático, as memórias não foram ainda integradas na narrativa pessoal, são memórias que permanecem desorganizadas. 

Em geral, as pessoas expostas a um evento potencialmente traumático passam a reviver aquela experiência em algum grau, mas a maioria consegue recuperar. É o que chamamos de resiliência. Afinal, o único momento que existe é o presente, e é, exatamente, por ser algo que todos os dias recebemos gratuitamente que se chama de presente.

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